domingo, 23 de junho de 2013

Séries: Bates Motel e Hannibal

Assim como boa parte das pessoas, adoro assistir a séries de TV. No entanto, a principal proposta que impus no Brazilian Movie Guy foi discutir Cinema, e por isso preferi deixar as séries de lado por aqui. Mas hoje vou abrir uma exceção para falar sobre dois programas que estrearam recentemente na TV americana: Bates Motel e Hannibal. Farei isso não só por eu ter gostado muito delas, mas também porque tecnicamente não estarei me desviando da proposta do blog, considerando que ambas as séries se concentram em personagens que se tornaram figuras muito marcantes no Cinema.
Vamos começar por Bates Motel, série que serve como um prólogo moderno de Psicose, o clássico de Alfred Hitchcock. Desenvolvida por Anthony Cipriano, Kerry Ehrin e Carlton Cuse (que foi produtor executivo da cultuada Lost), a série gira em torno de Norman Bates (Freddie Highmore) e sua mãe, Norma (Vera Farmiga), que se mudam para a pequena cidade de White Pine Bay após um acidente que resultou na morte do pai do rapaz. Lá eles compram um motel à beira da estrada, mas mal sabem que isso os colocará em situações perigosas, porque o antigo proprietário, Keith Summers (W. Earl Brown), estava envolvido em atividades ilegais.
Sempre que alguém tentou esticar um pouco mais a história dos personagens de Psicose, isso resultou em obras esquecíveis, como as desastrosas continuações do filme, Psicose 2, Psicose 3 e Psicose 4: O Começo, que se concentravam exatamente em Norman Bates e o transformaram em um típico assassino de slasher movie. Particularmente, isso fez com que eu ficasse com um sentimento de desconfiança perante a série durante seus primeiros episódios, achando que a qualquer momento ela poderia desandar. O carinho que tenho pelo clássico de Hitchcock contribuiu bastante para isso também.
Mas a verdade é que poucas vezes fiquei tão feliz de estar errado. Ignorando quase tudo o que foi desenvolvido nas continuações, Bates Motel consegue desenvolver muito bem os protagonistas e seu relacionamento de mãe e filho, que sempre foi o elemento mais importante quando o assunto é Norman Bates, e por isso se torna praticamente a base da série. O amor entre eles é muito afetuoso, obviamente, mas também não deixa de ser bastante possessivo, o que às vezes resulta em tensos conflitos entre os dois.
No entanto, nada disso funcionaria caso os protagonistas não tivessem intérpretes adequados. Mas nisso a série acertou em cheio, já que Vera Farmiga e Freddie Highmore surgem perfeitos nos papeis. Enquanto ela faz de Norma uma mãe extremamente protetora e aflita com relação a certas situações, ele tem a árdua tarefa de seguir os passos de Anthony Perkins (que imortalizou o personagem nos filmes), interpretando Norman como um garoto tímido, inseguro e carismático, mas que pode se tornar uma pessoa completamente diferente quando ressentido com alguma coisa. E é muito interessante ver que em alguns momentos o personagem aparece com metade de seu rosto mergulhado nas sombras, o que ressalta sua natureza dúbia. Aliás, uma das grandes surpresas de Bates Motel é o fato de a série se manter tensa e envolvente mesmo depois de revelar algo importantíssimo da vida do rapaz alguns episódios antes do final da temporada.
Além disso, Bates Motel ainda tem um grupo de personagens coadjuvantes que são tão bons quanto os protagonistas, desde Dylan Masset (meio-irmão de Norman, interpretado com surpreendente eficiência por Max Thieriot) até Emma Decody (a carismática Olivia Cooke), passando por Bradley Martin (Nicola Peltz) e o xerife Alex Romero (Nestor Carbonell). E todos os personagens da série são inseridos em tramas de mistério que se revelam muito envolventes, transformando Bates Motel em um ótimo thriller. E ao final da temporada, fica a promessa de novos mistérios ao lado dessas figuras.
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Se Bates Motel é um prólogo para Psicose, Hannibal é um prólogo para Dragão Vermelho, o primeiro livro que nos apresentou ao canibal Hannibal Lecter e que virou filme duas vezes, em 1986 e 2002. Desenvolvida por Bryan Fuller (responsável por produções mais fantasiosas como Dead Like Me e Pushing Daisies), a série procura explorar como começou o relacionamento entre Lecter (Mads Mikkelsen) e o agente Will Graham (Hugh Dancy), ao mesmo tempo em que mostra eles se ajudando em alguns casos de homicídio (que, por sinal, devem se encontrar entre as coisas mais bizarras que já apareceram na TV).
Apesar de a série se chamar Hannibal, os episódios se concentram bastante em Will Graham e as investigações do FBI. Interpretado por Hugh Dancy com uma excentricidade curiosa, Graham é extremamente competente em seu trabalho, conseguindo recriar cenas de crimes nos mínimos detalhes (em sequências feitas de um jeito muito bacana, com o personagem “escaneando” o local e se colocando no lugar do criminoso na hora de montar a cena), além de traçar os perfis dos assassinos como ninguém. No entanto, essa habilidade é quase como uma maldição para Graham, fazendo com que ele seja uma pessoa bastante atormentada, o que inclusive mexe muito com seu psicológico ao longo da temporada.
É aí que entra Hannibal Lecter, que passa a ter Graham como paciente a pedido do chefe do departamento, Jack Crawford (o ótimo Lawrence Fishburne), e ainda o ajuda em alguns casos. Os embates entre Lecter e Graham são um show à parte na série, já que ambos são inteligentes e desenvolvem uma amizade interessante. E se Hugh Dancy entrega uma belíssima performance como o agente do FBI, o mesmo pode ser dito sobre o dinamarquês Mads Mikkelsen quando este surge interpretando o personagem-título. Sendo um ator sensacional, Mikkelsen cria um Hannibal Lecter elegante e carismático, mesmo apresentando grande seriedade na maior parte do tempo, e essas são coisas que impedem que as pessoas percebam qualquer vestígio do lado canibalesco do personagem. Mas o mais curioso é que Mikkelsen faz isso sem copiar a esplêndida atuação de Anthony Hopkins nos filmes, praticamente criando um novo personagem para a série.
Assim como Bates Motel, essa primeira temporada de Hannibal também apresenta coadjuvantes de destaque, e nisso entra não só o já citado Jack Crawford (que tem uma subtrama tocante envolvendo sua esposa, interpretada por Gina Torres, e chega a ser uma pena que ela não tenha tanto espaço ao longo dos episódios), mas também a psiquiatra Alana Bloom (Caroline Dhavernas), a jovem Abigail Hobbs (Kacey Rohl) e até mesmo a intrometida repórter Freddie Lounds (Lara Jean Chorostecki, interpretando um papel originalmente masculino). Além disso, ainda temos ótimas participações de figuras como Gillian Anderson (a eterna agente Dana Scully de Arquivo X, que interpreta a psiquiatra de Lecter) e Eddie Izzard (que se livra de seu lado mais cômico e cria um personagem frio e assustador).
Pra completar, é legal ver a série fazer referências bacanas como essa ao clássico O Iluminado:
Bates Motel e Hannibal surgem não só como duas grandes surpresas, mas também se colocam entre as melhores estreias que a TV norte-americana teve recentemente. E mal posso esperar pela segunda temporada de ambas as séries.
ATUALIZAÇÃO - 24/06/2013: Como bem lembrou o Hugo nos comentários, Bates Motel estreia no Brasil agora no dia 4 de julho, no Universal Channel. Já Hannibal chegou por aqui no canal AXN, que começou a passa-la dublada, sem opção de áudio original e legendas, mas até onde sei já resolveu esse problema.

2 comentários:

Hugo disse...

Thomás, infelizmente tentei acompanhar "Hannibal" pelo canal AXN e pelo que vi eles estão disponibilizando os episódios apenas dublados.

Já "Bates Motel" deverá começar em julho no Universal, que pelo menos passa os episódios com som original.

Abraço,

Thomás R. Boeira disse...

Olá, Hugo!

Até onde sei, esse problema envolvendo "Hannibal" foi resolvido pelo AXN. A última notícia que li foi que os episódios inéditos seriam legendados e as reprises no fim de semana seriam dubladas.

E "Bates Motel" estreia agora no dia 4 de julho mesmo, e o Universal Channel prometeu opção de áudio original e legendas.

Foi até bom você ter comentado isso, porque esqueci de colocar no texto. Farei uma pequena atualização.

Abraço,
Thomás