quinta-feira, 17 de outubro de 2019

El Camino: A Breaking Bad Movie


(Obs.: O texto a seguir contém spoilers tanto de Breaking Bad quanto de El Camino)

Após se livrar de seus captores graças a ajuda de seu velho sócio Walter White (Bryan Cranston), Jesse Pinkman (Aaron Paul) desbrava pela estrada em um veículo El Camino, vibrando e acelerando loucamente em meio a escuridão da noite, partindo rumo a um futuro que, apesar de não ser bem definido, imaginamos que será melhor para ele. Tratava-se de um final digno para o personagem, que chegava ao último episódio da fantástica Breaking Bad (melhor série que já tive o prazer de assistir) como a maior vítima de Walter (ou melhor, Heisenberg). E mesmo que Jesse estivesse longe de ser um santo, ainda era um personagem que víamos como essencialmente bom.

Pois bem, eis que agora estamos diante de El Camino, filme escrito e dirigido pelo próprio criador de Breaking Bad, Vince Gilligan, e que dá continuidade a história de Jesse, contando o que aconteceu com ele logo depois de sua fuga. É então que passamos a acompanhar o rapaz em um plano para recomeçar sua vida, o que não é nada fácil quando se é um foragido.


El Camino traz basicamente tudo o que fazia de Breaking Bad uma série tão fascinante. Sendo assim, a lógica visual empregada por Vince Gilligan continua àquela que havia sido estabelecida na série, desde o uso de cores até os raccords (cortes que mantêm a continuidade entre um plano e outro) inseridos pontualmente na excelente montagem de Skip Macdonald. É bacana, por exemplo, ver que o local para onde Jesse deseja ir é banhado por uma fotografia mais propensa ao azul, cor que Gilligan nos acostumou a conectar automaticamente a uma certa pureza, e que tanto surgia nas roupas usadas por Skyler White (então interpretada por Anna Gunn). Além disso, Gilligan é hábil ao conceber cenas angustiantes e que colocam à prova a torcida do público pelo protagonista, como quando ele se vê tendo que se esconder de alguma ameaça, o que ocorre com certa frequência ao longo do filme. Mas é impossível não destacar em meio a isso o duelo que ocorre no terceiro ato, que encanta por sua tensão e pela linguagem de faroeste imposta pelo diretor.


Enquanto isso, Aaron Paul volta ao papel de Jesse com o imenso talento que já exibia em Breaking Bad. Quando o personagem surge em um flashback ao lado de Heisenberg, podemos ver o quanto ele mudou ao longo da série até chegar em El Camino, algo muito bem ilustrado pelo ator. O jovem irresponsável e cheio de vida deu lugar a uma figura comedida e traumatizada, cujas cicatrizes físicas refletem também as cicatrizes emocionais que acumulou ao longo do tempo. Trata-se de um trabalho primoroso de um intérprete que, obviamente, conhece seu personagem como a palma de sua mão.

El Camino não deixa de ser uma produção desnecessária, considerando que dá continuidade a algo que já havia sido muito bem finalizado. Mas fico feliz que Vince Gilligan tenha levado o projeto adiante, dando um final ainda mais belo e redentor a um personagem merecedor de algo assim.

Nota:


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