sábado, 24 de agosto de 2013

Sem Dor, Sem Ganho

Baseando praticamente toda sua carreira em superproduções, Michael Bay trouxe mais porcarias do que filmes bons para o público (A Rocha e Armageddon são seus melhores trabalhos até hoje). No entanto, depois do sucesso que alcançou com a fraca franquia Transformers, não deixa de ser curioso vê-lo comandar um projeto com um orçamento bem mais baixo do que aquele com o qual ele está acostumado. Mais curioso ainda é que tal projeto seja baseado em uma história real. Mas mesmo que este Sem Dor, Sem Ganho possa ser uma espécie de novos ares para o diretor, a produção acaba sendo outro ponto baixo em sua carreira.
Escrito por Christopher Markus e Stephen McFeely, Sem Dor, Sem Ganho se passa entre 1994 e 1995 e conta a história de Daniel Lugo (Mark Wahlberg), fisiculturista que trabalha em uma academia e que deseja viver o chamado “Sonho Americano”. Depois de frequentar as palestras de Johnny Wu (Ken Jeong), Daniel decide ser um “realizador” e não um “acomodado”, bolando um plano para se dar bem. O plano: sequestrar um de seus clientes mais ricos, Victor Kershaw (Tony Shalhoub), e fazê-lo entregar tudo o que possui de valor. Para isso, Daniel pede ajuda a seus colegas Paul Doyle (Dwayne Johnson) e Adrian Doorbal (Anthony Mackie).
Quando Sem Dor, Sem Ganho começa, somos jogados quase que imediatamente em um típico universo de Michael Bay, onde o uso de ângulos baixos e travellings circulares não tem muita lógica, o slow motion é usado aborrecidamente e as mulheres surgem apenas como meros objetos sexuais. Mas admito que é um alívio ver que, ao longo de suas duas horas de duração, Sem Dor, Sem Ganho conte com apenas uma cena de explosão e poucos momentos epiléticos, uma evolução considerável do diretor (mas arrisco dizer que isso seja temporário, considerando que Transformers 4 vem aí no ano que vem).
Já a trama começa aparentemente simples, mas vai ficando gradativamente absurda. Boa parte disso se deve ao fato de Daniel, Paul e Adrian não serem criminosos dos mais eficientes, e isso é algo que poderia fazer de Sem Dor, Sem Ganho uma obra divertidíssima. No entanto, Michael Bay mostra ter uma mão pesada demais para conduzir os momentos cômicos do filme, e boa parte deles acabam não conseguindo causar risos da forma que pretendem, como na primeira tentativa do trio principal de sequestrar Victor (uma cena em que a trapalhada dos personagens irrita mais do que diverte) ou quando eles tentam matar alguém e não conseguem de jeito nenhum. É claro que aqui e ali o filme faz graça (difícil não rir no momento em que a trama se torna tão absurda a ponto de o diretor precisar lembrar o público de que este está vendo uma história real), mas isso ainda é pouco perto do que ele tenta alcançar.
Além disso, o roteiro se mostra muito preguiçoso na hora de desenvolver seus personagens, apelando para narrações em off que apresentam cada um deles, explicam como eles pensam e como chegaram naquele ponto. Aliás, um problema grave nisso é exatamente o detalhe de o filme trocar de narrador constante e bruscamente. Uma hora este papel fica a cargo de Daniel, em outra fica desnecessariamente com Victor e até mesmo com Sorina (Bar Paly), personagem secundária cuja visão com relação ao que acontece ao seu redor não tem importância.
Mas o que surpreende em Sem Dor, Sem Ganho é o fato de ele ter nomes talentosos em seu elenco e ainda assim não conseguir criar um maior envolvimento com a história e seus personagens. Mark Wahlberg, Dwayne Johnson e Anthony Mackie até trazem certa credibilidade para Daniel, Paul e Adrian, mas estes se revelam personagens brutos e estúpidos demais, não sendo figuras muito carismáticas, mesmo que em alguns momentos consigam divertir (como quando Paul revela um dos dons que Deus lhe deu ou quando Daniel fala extremamente rápido em uma cena específica no terceiro ato). Enquanto isso, Ken Jeong entra e sai do filme sem deixar muitas marcas, ao passo que Tony Shalhoub e Ed Harris fazem o que podem com Victor Kershaw e o detetive Ed DuBois, mas os personagens não chegam a ser realmente interessantes.
Sem Dor, Sem Ganho certamente poderia ter sido uma bela comédia de humor negro, mas infelizmente não é o que acontece aqui. E é por ver uma história com grande potencial sendo desperdiçada que o filme pode ser considerado uma lamentável decepção.
Cotação:

2 comentários:

Lauro Jorge Amorim disse...

Eu só discordo na parte de Armaggedon ser um dos pontos altos da carreira dele. Acho um dos mais odiosos filmes do "gênio".

Hugo disse...

Comédias de humor negro é um dos gêneros mais complicados, na maioria das vezes o resultado é um filme exagerado.

Acredito que Michael Bay esteja longe de ser o diretor ideal para este tipo de filme.

Eu citaria como os filmes mais divertidos do diretor, o ótimo "A Rocha" e o primeiro "Os Bad Boys". A parte II é outro exagero completo.

Abraço