terça-feira, 23 de abril de 2013

Meu Tio Matou Um Cara

Em Meu Tio Matou Um Cara, Jorge Furtado tem uma ideia intrigante: fazer uma divertida comédia adolescente com uma história de detetive que tem algumas referências ao gênero de filmes noir, envolvendo o crime que dá nome a produção. Mesmo contando com sua parcela de problemas quando executado, este terceiro longa-metragem do diretor (e o mais inferior dentre os quatro que ele comandou) ainda funciona bem dentro do que se propõe a fazer, resultando em um entretenimento de qualidade.
Escrito pelo próprio Jorge Furtado em parceria com outro conhecido cineasta brasileiro, Guel Arraes (aliás, esta é uma parceria que já dura muitos anos), Meu Tio Matou Um Cara nos apresenta a Duca (Darlan Cunha), jovem de 15 anos cujo tio, Éder (Lázaro Ramos), confessa ter matado o marido de sua amante, Soraya (Deborah Secco), em legítima defesa. Desconfiado de que Éder possa estar assumindo o crime para livrar a namorada, Duca tenta descobrir o que realmente aconteceu, fazendo uma pequena investigação ao lado de seus amigos Isa (Sophia Reis) e Kid (Renan Gioelli). Ao mesmo tempo, ele tem que lidar com a tristeza de estar apaixonado por Isa, que por sua vez está apaixonada por Kid.
Toda a investigação da história é muito interessante, e a narração em off do protagonista conduz muito bem o espectador ao longo do filme. Isso porque Duca demonstra ser um ótimo observador e um detetive talentoso. Logo nos minutos iniciais, ele questiona certas coisas sobre o crime que não só são muito relevantes como ainda o coloca à frente de todos os adultos que entram em cena. Quando Duca visita Soraya, por exemplo, é bacana vê-lo notar a presença de alguns objetos que não deveriam pertencer à namorada de seu tio, o que o faz chegar a uma determinada conclusão (isso certamente deixaria Sherlock Holmes orgulhoso). Como Duca consegue ser um bom detetive? O roteiro meio que deixa isso claro ao colocar o personagem jogando um jogo de mistério, o que pode ser um pequeno indício de que ele gosta desse tipo de assunto. Por sinal, o próprio jogo é utilizado de maneira criativa durante o filme, quando Duca aparece pegando pistas em algumas cenas.
O fato de Duca ser mais inteligente que os adultos da história diverte porque o garoto é subestimado em vários momentos, como quando sua mãe, Cléia (Dira Paes), tenta explicar a situação de seu tio e ele age como se já estivesse acostumado com esse tipo de coisa, pedindo para que ela faça várias perguntas sobre o crime. Outro exemplo é quando o personagem sai de casa, mas espera um pouco do lado de fora para saber o que seus pais irão fazer em sua ausência. Além disso, as referências feitas pelo roteiro de Furtado e Arraes aos filmes noir fazem Meu Tio Matou Um Cara chamar ainda mais atenção. Temos o detetive responsável por um misterioso caso de homicídio e até mesmo uma femme fatale na pele de Soraya (e Deborah Secco se revela uma boa escalação, já que o charme e a sedução da atriz ficam evidentes logo em sua primeira cena).
Mas o roteiro também tem que lidar com o triângulo amoroso entre Duca, Isa e Kid. Isso é uma pena porque essa parte da história não chega a ser tão boa quanto poderia, até pelo fato de Isa e Kid não serem figuras muito interessantes nas mãos de Sophia Reis e Renan Gioelli. Já Darlan Cunha consegue fazer de Duca alguém mais carismático mesmo com o aborrecimento que mostra durante a maior parte do tempo, porque isso acaba deixando claro que a sensação do personagem de estar apaixonado e não ser correspondido não é das melhores. Enquanto isso, o elenco adulto surge bastante confortável em seus papéis desde o divertido Airton Graça até a simpática Dira Paes. E Lázaro Ramos, em sua segunda colaboração com Jorge Furtado, consegue interpretar Éder como um homem bom, que não poderia machucar uma mosca, mas que é também um idiota (algo afirmado por todos os personagens do filme em ao longo da história).
Apesar de não se encontrar entre os melhores trabalhos de Jorge Furtado, Meu Tio Matou Um Cara ainda é um filme bacana, ficando muito acima de boa parte das comédias brasileiras lançadas nos cinemas.
Cotação:

2 comentários:

Hugo disse...

Seu último parágrafo diz tudo. Este longa está bem acima em qualidade na comparação com as comédias brasileiras atuais.

Abraço

Fred disse...

Parabéns pelo seu blog.
Estou sempre de olho e eu gosto muito!
Abraço a todos.