quinta-feira, 28 de março de 2013
Killer Joe: Matador de Aluguel
Na década de 1970, o cineasta William Friedkin se tornou, ao lado de figuras como Martin Scorsese e Francis Ford Coppola, um dos realizadores mais prestigiados de uma grande fase do cinema norte-americano: a Nova Hollywood. Responsável por obras-primas como Operação França e O Exorcista, além de produções eficientes como o polêmico Parceiros da Noite, Friedkin parece ter sido quase esquecido nos últimos anos. Sem comandar uma produção cinematográfica desde 2006 (quando fez Possuídos, que ainda não assisti), é bom ver um cineasta como ele retornar com um filme como este Killer Joe, onde mostra que seu talento definitivamente não desapareceu.
Escrito por Tracy Letts (a partir da peça de sua autoria), Killer Joe nos apresenta a família Smith, que conta com seres humanos absolutamente desprezíveis. Desesperado por estar devendo seis mil dólares a um traficante, o jovem Chris (Emile Hirsch) tenta arranjar a grana com seu pai, Ansel (Thomas Haden Church), mas sem sucesso. Sendo assim, o rapaz bola o plano de matar a própria mãe para ficar com o dinheiro do seguro, destinado a sua irmã, Dottie (Juno Temple). Para realizar o trabalho sujo, Chris resolve chamar Joe Cooper (Matthew McConaughey), detetive e assassino de aluguel nas horas vagas. Ao ver que Chris não tem o dinheiro para contratar seus serviços, Joe coloca Dottie como caução até receber seu pagamento.
Contando com um belo trabalho do veterano diretor de fotografia Caleb Deschanel, que mergulha o ambiente do filme constantemente em sombras, William Friedkin é hábil ao estabelecer aquele universo como algo hostil e sujo já nos primeiros minutos de projeção. Isso acaba combinando com os personagens que desfilam pela tela, que mostram ser figuras bastante instáveis e nenhum pouco dignas de confiança, além de se importarem mais consigo mesmas do que com qualquer outra coisa. Logo na sequência inicial, por exemplo, vemos Chris discutir com sua madrasta, Sharla (Gina Gershon), enquanto seu pai mostra ser preguiçoso demais até para pensar.
O roteiro de Letts ainda desenvolve algumas cenas com uma calma admirável. No entanto, vale dizer que Friedkin consegue colocar na narrativa um ritmo envolvente do início ao fim, além de impor um nível de tensão inquietante, o que acaba sendo importantíssimo por que tais cenas poderiam soar aborrecidas e até mais longas do que o necessário caso não fossem tão interessantes. Pra completar, Letts desenvolve muito bem as reviravoltas da história, e o surpreendente (e em alguns momentos estranho) humor que percorre a narrativa nunca deixa de ser eficiente ao explorar o estado de seus personagens, como quando Sharla arranca um fio do terno de Ansel, resultando em um defeito maior que o esperado.
O elenco reunido para interpretar esses personagens é sem dúvida um dos pontos altos de Killer Joe. Emile Hirsch interpreta Chris como alguém aparentemente seguro quanto ao que precisa fazer ao mesmo tempo em que traz uma bela ingenuidade para o papel. Já Juno Temple faz de Dottie uma menina doce e frágil, mas que mesmo assim nunca deixa de se encaixar perfeitamente em sua família problemática. Enquanto isso, Thomas Haden Church retrata com competência a ignorância de Ansel, algo que também pode ser dito sobre Gina Gershon e a indecência de Sharla.
Mas quem realmente brilha no filme é Matthew McConaughey, um ator muito bacana e que ultimamente tem participado de projetos artisticamente mais ousados, esquecendo as comédias românticas rasteiras as quais se dedicou durante boa parte da década passada. Joe é um sujeito interessante e McConaughey não só tem uma presença em cena muito boa como ainda interpreta o personagem investindo em uma fala mansa e uma expressão séria, o que o torna uma figura muito imprevisível. E é admirável ver como o ator consegue fazer de Joe um cara que em um segundo pode não estar muito tranquilo, mas no segundo seguinte surge como um cavalheiro sorridente, em uma mudança brusca, mas bastante natural. E quando abraça sem pudores toda a loucura do personagem, McConaughey acaba sendo responsável por boa parte do sucesso do incrivelmente insano terceiro ato da trama. É uma atuação que merecia ter recebido mais atenção nessa temporada de prêmios.
Incluindo uma cena que não sairá da mente de seus espectadores tão cedo (um frango frito possivelmente não será mais visto como normalmente), Killer Joe deixa a esperança de que William Friedkin continue fazendo belos filmes e Matthew McConaughey continue buscando fazer parte de projetos ambiciosos. O talento de ambos não deve ser desperdiçado.
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2 comentários:
Concordo que a interpretação de McConaughey é surpreendente, mas como opinião pessoal, considero que Friedkin exagerou na dose de insanidade.
Por mais que goste de filmes polêmicos e de vários trabalhos de Friedkin, este deixou a impressão de ter sido uma tentativa do diretor voltar ao sucesso através do exagero, chocando o público.
Não consegui entrar no clima do filme.
Abraço
Li a crítica do Hugo tempos atrás e já fiquei interessado. Agora então... preciso ver esse filme.
abraço
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