sexta-feira, 22 de junho de 2012

Sombras da Noite

Como escrevi aqui, Tim Burton e Johnny Depp sempre conseguiram manter um bom padrão de qualidade nos projetos em que se envolveram, não fazendo nenhum filme realmente desagradável (pelo menos para mim). Depois de fazer uma releitura de Alice no País das Maravilhas, a dupla se aventura agora adaptando para as telonas Dark Shadows, a série de TV que fez muito sucesso na década de 1960 (e da qual não conheço nada). Apesar de Sombras da Noite não ser um filme tão bom quanto outras obras que Burton e Depp fizeram, como Edward Mão de Tesoura, Ed Wood e A Noiva Cadáver, este novo exemplar da dupla também não é uma perda de tempo.
Escrito por Seth Grahame-Smith e com argumento feito por ele em parceria com John August, Sombras da Noite nos apresenta a Barnabas Collins (Johnny Depp), um vampiro que ficou soterrado e preso em um caixão por 196 anos graças à bruxa Angelique Bouchard (Eva Green). Ao voltar para sua antiga mansão, o ano é 1972 e ele encontra alguns de seus estranhos parentes distantes, sendo Elizabeth (Michelle Pfeiffer) a matriarca da família. Ao mesmo tempo em que se vê tendo que se adaptar aos novos tempos, Barnabas também procura viver tranquilamente com sua família, mas Angelique ameaça os planos do vampiro ao saber de seu retorno.
No pequeno prólogo antes dos créditos, que se passa no século 18 e mostra o que aconteceu com Barnabas, Tim Burton investe seu já conhecido estilo para dar um tom sombrio e sério para as cenas, o que é ainda mais ressaltado pela fotografia de Bruno Delbonnel e pela trilha sonora do colaborador habitual do cineasta, o eficiente Danny Elfman. Ao passar o filme para 1972, algo que a montagem faz bem naturalmente, não fazendo soar muito brusco, o diretor já impõe um clima mais descontraído e começa incluir cores mais saturadas não só em alguns cenários, mas também nos figurinos e na maquiagem de seu elenco, deixando mais do que claro que os tempos mudaram completamente do século XVIII para o XX. Até mesmo a trilha sonora sofre mudanças, e ao invés de ouvirmos a composição de Elfman o tempo todo, Burton inclui também canções da época em que o filme se passa, indo de The Carpenters até Alice Cooper. Este último inclusive aparece em uma ponta que diverte pelo modo como é tratada.
Essa diferença entre as duas épocas mostradas no filme acaba sendo o alvo da maioria das piadas do roteiro de Grahame-Smith. Acostumado com a vida que tinha antes, Barnabas estranha algumas coisas que vê na década de 1970. Por exemplo, ele fica surpreso ao saber que Julia Hoffman (Helena Bonham Carter, esposa de Burton e figura carimbada nos filmes dele) é uma psicóloga, já que ele nunca imaginou que uma mulher poderia assumir uma posição como essa. Em outro, ele diz que a jovem Carolyn (Chloë Grace Moretz) já deveria estar casada e pronta para ter filhos. Mas nenhuma gag consegue superar aquela envolvendo o símbolo do McDonalds. E Johnny Depp (incluindo mais um personagem estranho em sua carreira) não só traz carisma para Barnabas como também o interpreta com seriedade, o que torna seus diálogos ainda mais divertidos.
Infelizmente, as piadas não desviam a atenção dos problemas do filme, principalmente com relação ao roteiro. No início, Victoria Winters (Bella Heathcote), a jovem que começa a trabalhar para os Collins cuidando do pequeno David (Gulliver McGrath), ganha bastante atenção, parecendo que ela surgirá como uma das principais personagens do filme, o que fica um pouco mais aparente graças ao fato de ela ser parecida com Josette, antiga paixão do protagonista (e que também é interpretada por Heathcote). Por causa disso, fica bem claro em sua primeira cena com Barnabas que ela será o interesse amoroso do vampiro. No entanto, ao longo do filme, ela só ganha importância quando o roteiro julga ser realmente necessário, o que demonstra uma dúvida do roteirista quanto ao que focar na história.
Além disso, a vilã vivida por Eva Green soa mais irritante do que propriamente ameaçadora, querendo que Barnabas a ame e castigando-o por ele não correspondê-la. Já Roger Collins (personagem de Jonny Lee Miller) além de ter poucas cenas e não acrescentar quase nada ao filme, ainda é simplesmente descartado depois de algum tempo. E o humor do filme nem sempre funciona, como na bizarra cena de sexo entre Barnabas e Angelique, na qual Burton tenta causar o riso com o resultado de toda a ação, mas acaba não conseguindo o impacto que gostaria, além de lembrar demais o desastroso Todo Mundo em Pânico 2.
No elenco, se Johnny Depp surge divertido como Barnabas, Michelle Pfeiffer tem uma presença interessante como Elizabeth. Já a talentosa Chloë Grace Moretz faz da antipática Carolyn uma figura suportável, apesar de a atuação da jovem atriz ser um tanto artificial no momento em que a personagem grita com a família na hora do jantar, uma cena na qual Burton consegue mostrar que ela não se sente parte daquele grupo de pessoas, colocando-a em uma ponta isolada na mesa. É uma pena, no entanto, que o roteiro resolva desenvolver Carolyn um pouco mais no terceiro ato do filme, incluindo um elemento desnecessário e do qual não fora nem indicado ao longo da história. Enquanto isso, Helena Bonham Carter aparece um tanto apagada como a excêntrica Dra. Julia Hoffman, ao passo que Jackie Earle Haley tem momentos divertidos como Willie, o faz-tudo da família Collins.
Sombras da Noite não é o tipo de filme que fica na memória após a sessão. Mesmo assim, mostra ser uma experiência divertida, ainda que tenha seus problemas.
Cotação:

2 comentários:

Película Criativa disse...

Não é a melhor parceria de Tim Burton & Johnny Depp, mas o filme diverte em alguns momentos.

Minha resenha de Sombras da Noite: http://peliculacriativa.blogspot.com.br/2012/07/critica-sombras-da-noite-dark-shadows.html

Hugo disse...

A premissa tinha potencial, principalmente pelos envolvidos, mas o resultado é apenas razoável.

Abraço