terça-feira, 12 de junho de 2012

Prometheus

Foram necessários trinta anos para ver Ridley Scott finalmente retornar ao campo que o transformou no diretor do qual todos os filmes são esperados, mesmo que às vezes ele decepcione um pouco. Na ficção científica, Scott fez duas grandes obras-primas: Alien: O Oitavo Passageiro e Blade Runner: O Caçador de Andróides. Para essa volta do diretor a um campo que sempre foi interessante para ele, nada melhor do que um projeto que ele mesmo começou. Mas com tantos problemas na pré-produção, ficou a dúvida: seria Prometheus uma prequel para a série Alien ou algo completamente novo? Ao longo da trama, essa pergunta vai sendo respondida, mas é uma pena que um filme tão ambicioso não se aprofunde nas ideias que desenvolve.
Escrito por Jon Spaihts e Damon Lindelof, Prometheus nos apresenta a uma expedição que está à procura das origens da humanidade. Após encontrar vestígios nas cavernas da Ilha de Skye, na Escócia, em 2089, o casal de arqueólogos Elizabeth Shaw (Noomi Rapace) e Charlie Holloway (Logan Marshall-Green) vê aquilo como um convite para desvendar os segredos do universo. Dois anos mais tarde, depois de um período de hibernação, eles são parte da tripulação da nave Prometheus, em um projeto criado por Peter Weyland (Guy Pearce) com o propósito de fazer pesquisas mais aprofundadas sobre nossas origens. Ao pousarem em um mundo ainda desconhecido, o que eles encontram pode ser uma grande ameaça a toda a raça humana.
Para quem conhece bem a franquia Alien, fica bastante claro que Prometheus tem sim relação com aqueles filmes, já que há várias referências aos quatro capítulos da série protagonizada por Sigourney Weaver. Em uma cena, o androide David (Michael Fassbender) aparece jogando basquete melhor do que muitos profissionais, referência mais do que óbvia a Alien: A Ressureição. O refeitório da nave lembra muito aquele visto na Nostromus em Alien: O Oitavo Passageiro, incluindo até os mesmos planos feitos por Ridley Scott naquele filme. Aliás, a própria presença de um androide entre os tripulantes já é outra referência ao universo de Alien, algo que fica ainda mais claro no 3º ato da trama. Mas o que realmente liga todos os filmes é Peter Weyland, provável dono da corporação que enviou a tripulação de Ellen Ripley para o espaço. Assim, o modo como Prometheus é feito lembra muito Planeta dos Macacos: A Origem.
Visualmente o filme é impecável. O design de produção da nave Prometheus mostra ser bem diferente da Nostromus, apesar de lembrar a bela nave do filme de 1979 em alguns momentos. Um dos compartimentos mais interessantes é o quarto da diretora da missão, Meredith Vickers (Charlize Theron), que pode colocar a imagem que quiser em uma das paredes, um possível sinal de que a personagem não se sente a vontade na posição em que se encontra, e ver uma imagem de sua terra natal poderia ser um jeito de relaxar.
Ridley Scott consegue fazer com que nos importemos com os personagens do início ao fim. Isso fica claro nas cenas de ação/terror, que ainda são bem feitas pelo diretor. Scott consegue fazer com que torçamos até para personagens mais aborrecidos, como Fifield (Sean Harris) e Millburn (Rafe Spall). Quando Prometheus investe no terror, o que se vê são momentos de arrepiar, como quando o braço de um membro da tripulação é quebrado. E é óbvio que alguns personagens vão morrer ao longo do filme. Afinal, o roteiro utiliza a velha fórmula usada não só na série Alien, mas também em 98% dos slasher movies: no final, apenas os personagens que realmente interessam para a história vão estar vivos.
Spaihts e Lindelof bolam questões muito interessantes, e é isso que faz de Prometheus um longa tão ambicioso. Logo na primeira cena do filme, eles apresentam para o público (não para os personagens) como que decorreu toda a criação da raça humana. Aliás, é uma pena que a cena seja muito artificial, não deixando claro o porquê de aquilo estar acontecendo. Essa talvez seja a principal questão do filme. Por que fomos criados? E mais além: de onde vieram nossos criadores (ou Engenheiros, como são chamados)? O grande problema é que o roteiro se aproxima dessas respostas, mas não chega a se aprofundar nelas, deixando algo um tanto vazio no filme. O pior é ver que isso acontece em prol do susto, já que tudo é interrompido no exato momento em que os vilões começam a aparecer e a situação dos personagens no mundo que estão visitando fica cada vez mais feia e tensa. Talvez as respostas apareçam em uma futura (e muito provável) continuação, mas essa possibilidade não deveria importar agora.
Infelizmente, esse não é o único problema de Prometheus. Quando o real motivo de toda a expedição é revelado, acaba sendo decepcionante por ser uma razão muito tola para pesquisar algo tão fascinante. E um fato trágico na vida de Elizabeth é inserido um tanto que artificialmente, e é usado mais para fazer a situação na qual ela se encontra depois parecer mais absurda do que já poderia ser. Apesar disso, acaba criando uma relação interessante entre a personagem e suas pesquisas.
No elenco há grandes destaques. Noomi Rapace, tão ignorada em Sherlock Holmes 2, finalmente ganha espaço para mostrar o talento que possui, algo que já havia ficado claro na versão sueca de Os Homens Que Não Amavam as Mulheres. A atriz não chega a construir uma “nova Ellen Ripley”, mas tem uma presença em tela muito interessante, fazendo de Elizabeth Shaw uma mulher decidida e de personalidade forte. Já Charlize Theron apaga a imagem não muito boa que deixou no recente Branca de Neve e o Caçador, transformando Meredith Vickers em uma personagem adequadamente fria e distante. Enquanto isso, Guy Pearce, apesar de ter poucas cenas, se destaca interpretando o velho Peter Weyland, ao passo que Idris Elba surge carismático como Janek, o piloto da nave.
Mas é o talentosíssimo Michael Fassbender quem rouba a cena sempre que pode. Assim que aparece na tela, o ator já consegue mostrar que David não é um humano, desde o modo como se movimenta até o jeito controlado como fala, diferente do que Ian Holm e Wynona Rider fizeram na franquia Alien (e que pelo menos naqueles filmes funcionava muito bem). Além disso, Fassbender tem a sorte de contar com as melhores falas do roteiro (“Grandes coisas tem pequenos começos”) e que tornam seu personagem a figura mais interessante do filme.
Finalizado de um jeito que uma continuação possa vir e dar sequência a toda a história, Prometheus deixa mais ou menos claro em sua última cena o que aconteceu após os eventos mostrados aqui. Mas de qualquer forma, o sentimento de que este é um filme que poderia ser melhor acaba persistindo. Infelizmente, acho que é mais fácil Prometheus ser lembrado como a primeira ficção científica de Ridley Scott em trinta anos do que propriamente como uma obra marcante do gênero.
Cotação:

Um comentário:

Clenio disse...

Eu estava com certo medo de assistir, mas acabei sendo vencido pela curiosidade. No entanto, apesar de concordar que não é o filmaço que poderia ser, é muito interessante e feito com capricho.
O visual é arrebatador e o elenco impecável (Michael Fassbender é um capítulo à parte). Nem senti o tempo passar, na verdade. Gostei mais do que esperava gostar.

Abraços
Clênio
www.lennysmind.blogspot.com
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