quarta-feira, 9 de maio de 2012

Piratas Pirados!

As animações do estúdio britânico Aardman sempre chamam a atenção por suas divertidas gags que permeiam as histórias interessantes de seus filmes, que sempre contam com personagens muito carismáticos. É fácil perceber isso na vasta produção de curtas-metragens que esse grupo já fez, sendo que vários deles são protagonizados pelos belos personagens Wallace e Gromit. Desde 2000, quando fechou uma parceria com a Dreamworks para poder fazer longas-metragens, a Aardman vem lançando filmes muito divertidos, começando por A Fuga das Galinhas, passando por Wallace & Gromit: A Batalha dos Vegetais e Por Água Abaixo, e chegando a Operação Presente (este último já em parceria com a Sony Pictures, que resgatou o estúdio depois do fim do contrato com a Dreamworks e o fracasso de bilheteria de Por Água Abaixo). Agora, a Aardman lança Piratas Pirados!, mais uma animação que diverte com suas piadas inteligentes e personagens “sem noção”.
Escrito por Gideon Defoe, Piratas Pirados! acompanha a tripulação liderada pelo Capitão Pirata (voz de Hugh Grant na versão original), homem que sonha em vencer o grande prêmio de Pirata do Ano. O problema é que seus feitos nem se comparam com a de seus rivais, o que o faz ser tachado de fracassado por quase toda comunidade pirata. Ao encontrar Charles Darwin (sim, o famoso cientista, que aqui é dublado por David Tennant), Capitão Pirata descobre que seu “papagaio”, Polly, é uma ave raríssima e que certamente pode vencer o prêmio de Descoberta Científica do Ano. Com o pensamento de que a premiação pode lhe render o reconhecimento que tanto deseja dos “colegas”, o Capitão e sua trupe vão para Londres, território da rainha Vitória (voz de Imelda Staunton), famosa por odiar piratas mais do que tudo.
Com um visual que lembra Piratas do Caribe, Piratas Pirados! estabelece os dois lados da trama muito bem além de criar um belo contraste entre eles. De um lado temos a rainha Vitória, que fica extremamente irritada só de ouvir a palavra “pirata” e surge sempre com um apropriado ar de superioridade, mas nunca chega a soar engraçada. Do outro temos o Capitão Pirata e o resto de sua tripulação, que aparecem carismáticos e engraçados do início ao fim e em alguns momentos ainda mostram não ser muito inteligentes (como ao atacar vários barcos “errados”, em uma das sequências mais hilárias do filme), o que só os deixa mais interessantes.
Mostrando grande criatividade, o roteiro consegue colocar com eficiência elementos modernos em uma narrativa que se passa em 1837. Isso tem um enfoque maior nos veículos dos personagens. Em um momento, vemos o Capitão Pirata literalmente estacionar seu navio, fazendo até manobras para coloca-lo em uma melhor posição. Outro exemplo é o fato de os piratas se referirem aos cientistas em Londres como “nerds”. São momentos que conseguem ser engraçados exatamente por não haver possibilidade de eles existirem na época em questão. Além disso, é interessante o modo como figuras reais são misturadas com ficção. Se a grande vilã do filme já é a rainha Vitória e Charles Darwin aparece com seus experimentos, o roteiro ainda encontra um pequeno espaço para Jane Austen, colocando-a bebendo e rindo ao lado do Capitão Pirata, que conta várias histórias para a escritora.
Os diretores Peter Lord (um dos fundadores da Aardman) e Jeff Newitt demonstram um timing muito bom, fazendo pausas cômicas pontuais que funcionam na maioria das vezes, como quando o Capitão Pirata fala “Podem rir à vontade” e os personagens a sua volta realmente começam a rir. Lord e Newitt ainda brincam com elementos do próprio cinema, como ao colocar o macaco ajudante de Charles Darwin tocando a trilha sonora de 2001: Uma Odisseia no Espaço. As viagens que os personagens fazem ao longo do filme também chamam a atenção por trazê-los jogando pratos vermelhos no mar à medida que se deslocam, o que diverte por serem na verdade as marcações nas famosas montagens com mapas, tão comuns em filmes de aventura, como a franquia Indiana Jones.
Piratas Pirados! não tira risadas só com suas belas gags, mas também com seus personagens. Se o Capitão Pirata diverte com suas habilidades, sejam elas a representação de seu fracasso ou não, Charles Darwin aparece engraçado por ser tratado pelo roteiro como um nerd inseguro e com medo de nunca arranjar uma namorada. Já seu macaco rouba algumas cenas por usar várias placas para se comunicar, até mesmo quando pretende gritar.
Piratas Pirados! não se preocupa em ser uma animação focada apenas em seu público-alvo. Na verdade, arrisco dizer que os adultos irão rir mais do que as crianças. A Aardman pode não produzir tantos longas-metragens como outros grandes estúdios, como a Pixar e a Dreamworks, mas seus filmes conseguem divertir tanto quanto.
Cotação:

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