quarta-feira, 30 de maio de 2012

Branca de Neve e o Caçador

Os estúdios investem demais em fórmulas que geralmente começam bem, trazendo muito dinheiro, mas que se perdem pouco depois. O sucesso de Transformers trouxe G.I. Joe: A Origem de Cobra e o recente Battleship: A Batalha dos Mares aos cinemas. E depois de Alice no País das Maravilhas, todos parecem ter pensado que seria uma boa ideia fazer releituras de contos infantis, como fizeram em A Garota da Capa Vermelha, Espelho, Espelho Meu e agora Branca de Neve e o Caçador (e há planos para muitos outros). Mas apesar de não ser terrível como o filme da Chapeuzinho Vermelho de Amanda Seyfried, essa nova produção com a Branca de Neve tem problemas graves e pouco surpreende, desperdiçando um elenco com alguns nomes bastante interessantes.
Escrito a seis mãos por Evan Dougherty, John Lee Hancock e Hossein Amini, Branca de Neve e o Caçador é até fiel a história original no começo. A princesa Branca de Neve (Kristen Stewart) é considerada a única pessoa mais bela do que a rainha Ravenna (Charlize Theron), que a mantém prisioneira desde criança. Ao saber desse detalhe, a rainha decide matar Branca de Neve para que então possa ser imortal, mas a princesa consegue fugir antes que isso aconteça. Ravenna entrega para o Caçador (Chris Hemsworth) a tarefa de trazer a garota de volta, mas ele acaba ficando contra a rainha, virando um protetor da princesa e ajudando-a na batalha para salvar o reino.
Ao tentar mostrar a tristeza e a pobreza do povo que vive no reino de Ravenna e de tudo que se encontra em volta dela, o diretor Rupert Sanders (em seu primeiro trabalho com cinema de modo geral) acerta ao investir em um design de produção que faz tudo parecer bastante precário, com exceção do castelo da rainha. Essa melancolia presente no filme ainda é muito bem ressaltada pela direção de arte, que predominantemente usa cores escuras nos cenários, e a fotografia apropriadamente acinzentada de Greig Fraser, o que deixa o universo do filme parecido com um pesadelo.
Os acontecimentos básicos da obra original são mantidos, mas feitos de maneira diferente pelo roteiro, o que os torna interessantes. Por exemplo, o Caçador ganha um motivo pessoal para ir atrás de Branca de Neve, ao invés de ser apenas enviado pela rainha. No entanto, isso não impede que a história seja previsível, pois todos conhecem o conto. Além disso, o roteiro em vários momentos usa diálogos explicativos, como se fosse preciso repetir algumas coisas para que o público possa acompanhar a história, além de começar com a narração em off até desnecessária do Caçador e que é simplesmente abandonada pouco depois.
A parte central da história já é falha por natureza. Apesar de não ser feia (pelo menos para mim), só em filme para que a Bella Swan da “saga” Crepúsculo possa ser considerada mais bonita do que Charlize Theron. E se usei o nome da personagem ao invés do da atriz, isso se deve ao fato de Kristen Stewart interpretar Branca de Neve seguindo o mesmo modus operandi visto naquela franquia insossa. Inexpressiva e fazendo caras de quem comeu algo e não gostou, Stewart transforma Branca de Neve em uma personagem vazia, que não esboça um pouco de felicidade nem em momentos mais descontraídos, como em uma dança com os famosos anões. Isso torna a protagonista uma figura desinteressante e é difícil acreditar que ela seja o centro das atenções do filme.
No resto do elenco, Charlize Theron surge com um péssimo sotaque britânico, interpretando uma personagem que a todo momento tenta se mostrar ameaçadora, seja no modo como fala ou usando seus poderes maléficos. Mas, na verdade, Ravenna é a típica vilã que quer se vingar do passado, e para isso se torna uma pessoa pior do que àquelas que lhe fizeram mal. E se os anões não ganham o espaço que mereciam (considerando o fato de que ótimos atores como Ray Winstone, Ian McShane, Bob Hoskins e Toby Jones os interpretam), Chris Hemsworth consegue se salvar ao emprestar seu carisma habitual ao Caçador, personagem que tem um arco dramático de redenção um tanto clichê.
Não sei se Branca de Neve e o Caçador chega a ser melhor ou pior do que seu irmão Espelho, Espelho Meu, já que não assisti a esta versão estrelada por Lily Collins e Julia Roberts. Mas certamente é um filme que tinha uma ideia interessante que acabou sendo desperdiçada.
Cotação:

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