terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Millennium: Os Homens Que Não Amavam as Mulheres

O filme sueco Os Homens Que Não Amavam as Mulheres, baseado no livro de Stieg Larsson (que não li ainda), tinha uma história bastante chamativa, mas que não conseguia ser muito envolvente, além de ter um protagonista desinteressante, o que resultou em uma produção apenas mediana. O filme fez sucesso e, como de costume, Hollywood resolveu fazer sua própria versão do livro. Mas Millennium: Os Homens Que Não Amavam as Mulheres não é uma refilmagem qualquer. Estamos falando de um filme de David Fincher. E isso é apenas um dos elementos que tornam essa versão infinitamente superior a sueca.
Escrito por Steven Zaillian, o roteiro de Os Homens Que Não Amavam as Mulheres segue o jornalista Mikael Blomkvist (Daniel Craig), que aceita investigar o caso de Harriet Vanger, sobrinha de Henrik Vanger (Christopher Plummer), desaparecida há 40 anos. Henrik suspeita que a pessoa que causou o desaparecimento da menina é da própria família, e em troca dos trabalhos de Blomkvist propõe entregar informações que o ajudariam em outro caso. Ao mesmo tempo, somos apresentados a hacker Lisbeth Salander (Rooney Mara), a melhor investigadora da empresa Milton Security. Mikael descobre que está atrás de um assassino de mulheres, o que o faz precisar de ajuda no caso de Harriet. Mikael contrata Lisbeth como assistente, e juntos descobrem grandes segredos na família Vanger.
Iniciando o filme com créditos iniciais fantásticos e que mostram o mundo brutal no qual mergulharemos minutos depois, David Fincher coloca um incrível clima de suspense ao longo de todo filme, algo que ele faz melhor do que ninguém. O diretor ainda mostra não ter piedade do público, explorando ao máximo os momentos mais pesados do filme, como uma cena de tortura, que é brilhantemente executada. Nem Mikael aguenta a violência, pedindo para Lisbeth parar de mostrar as fotos dos assassinatos cometidos pelo suspeito do caso de Harriet.
Seguindo cada passo de seus protagonistas até o momento em que eles se encontram, Fincher consegue apresentar eles muito bem, além de estabelecer como cada um leva sua vida. Apesar de ter sua reputação destruída por ser declarado culpado em um caso de difamação contra Hans-Erik Wennerström, Mikael leva uma vida bastante tranquila durante boa parte do tempo. Isso se mantém até mesmo quando ele começa a investigar o caso de Harriet, do qual ele tem acesso livre para fazer e perguntar o que quiser.
Já Lisbeth é cheia de problemas, algo que pode ser refletido até no visual da garota, cheia de tatuagens e piercings. Ela é considerada incapaz de viver independentemente, sendo obrigada a ficar sob a tutela do Estado. E mais um problema surge quando seu guardião sofre um derrame e ela tem sua situação controlada pelo advogado Nils Bjurman, já que este guardião temporário revela ser muito repugnantemente abusivo. Dessa maneira, quando Mikael e Lisbeth se encontram pela primeira vez ocorre um belíssimo choque de personalidades, já que ambos mostram não estar muito confortáveis na presença um do outro.
Fincher ao lado de seu diretor de fotografia, Jeff Cronenweth (merecidamente indicado ao Oscar da categoria), investe bastante em uma paleta de cores escuras, que transforma aquele mundo em um lugar hostil, tenso e cheio de desconfiança, absolutamente perfeito para a história. Esse visual muda apenas nas sequências em flashback, que mostram a época em que Harriet sumiu. Nesses momentos, a fotografia passa a ser repleta de cores quentes, que exaltam a aparente felicidade da família Vanger, e quando voltamos para os dias atuais Fincher consegue passar muito bem a ideia de que o desaparecimento da garota foi uma tragédia que mudou a vida de todos tristemente. Isso fica mais óbvio quando vemos Henrik falar mal de todos os membros da família, menos de Harriet, transformando ela em uma espécie de anjo.
A montagem dos sempre eficientes Angus Wall e Kirk Baxter (também lembrados no Oscar) se destaca não só por conseguir acompanhar Mikael e Lisbeth ao mesmo tempo durante grande parte da projeção (pelos meus cálculos, eles se conhecem depois de mais de uma hora de filme) como também coloca um ritmo frenético ideal nas cenas de ação. Mas um de meus momentos favoritos no longa é a sequência na qual Mikael está estudando os relatórios do caso e começa a marcar algumas passagens que acha importante para a investigação. É interessante por que vemos um flashback de cada uma dessas passagens enquanto ele faz seu trabalho. O uso de fusões empregado nesta sequência pela dupla de montadores ajuda a fazer com que os flashbacks surjam naturalmente.
Interpretando Mikael Blomkvist com grande competência, Daniel Craig traz um grande peso para o personagem, além de conseguir mostrar como ele se sente exausto em certos momentos do filme. O roteiro merece pontos por tratar Mikael não como um grande gênio da investigação, e sim como um jornalista inteligente, mas passivo ao erro, o que o torna mais humano. Entre os coadjuvantes, Christopher Plummer faz de Henrik uma figura carismática, ao passo que Stellan Skarsgård e Joely Richardson aparecem eficientes como os misteriosos Martin e Anita Vanger.
Mas quem surpreende e se torna o grande destaque do elenco Os Homens Que Não Amavam as Mulheres é Rooney Mara. Sua Lisbeth Salander fala apenas o necessário e a atriz profere seus diálogos com grande rapidez (lembrando, às vezes, Jesse Eisenberg em A Rede Social), como se quisesse se livrar imediatamente das palavras que ocupam sua cabeça. A personagem mantém foco total nas investigações, e ela aparecer sempre comendo alimentos feitos instantaneamente (massas e fast-foods) mostra que Lisbeth não gosta de perder tempo com outras coisas fora de seu campo de trabalho. A cena em que ela dá o troco em Nils por este ter abusado sexualmente dela é um exemplo perfeito de uma atriz em pleno controle de sua personagem, e fico feliz em ver que a Academia reconheceu essa grande atuação.
É bom ver David Fincher de volta a filmes do mesmo estilo de Seven, uma de suas obras-primas. Sendo este Os Homens Que Não Amavam as Mulheres um grande filme, Fincher mostra mais uma vez que é um dos melhores diretores da atualidade.
Cotação:

2 comentários:

Clenio disse...

Sem dúvida um baita filme, do diretor mais confiável da atual Hollywood. Dá de dez a zero no original sueco, merecia melhor sorte nas bilheterias...

Abraço
Clênio
www.lennysmind.blogspot.com
www.clenio-umfilmepordia.blogspot.com

Marcos Rosa disse...

Não assisti a versão sueca, mas gostei deste aí, principalmente da Lisbeth Salander (Rooney Mara). Merecida a indicação ao Oscar de melhor Atriz