sábado, 23 de julho de 2011

Assalto ao Banco Central

Em 2005, 164 milhões de reais foram roubados do Banco Central de Fortaleza. Ninguém nunca soube exatamente quem foram os responsáveis pelo maior roubo da história do país. Mas o cinema adora basear filmes em acontecimentos como esse, construindo uma história de ficção em volta do fato. Outro resultado disso é Assalto ao Banco Central, que desperdiça terrivelmente o que poderia render um bom filme.
Escrito por Renê Belmonte e Lúcio Manfredi, baseado no argumento de Antonia Fontenelle, Assalto ao Banco Central mostra como o grupo liderado por Barão (Milhem Cortaz) planejou, organizou e executou o roubo ao Banco Central de Fortaleza. Isso tudo sem usar uma arma ou disparar um alarme sequer. Barão conta com a ajuda de sua mulher, Carla (Hermila Guedes), e de seu velho parceiro Mineiro (Eriberto Leão), além de vários outros cúmplices.
Estreando na direção de um filme, o ator Marcos Paulo começa a projeção de uma maneira constrangedora. Enquanto vemos a escavação do túnel que os criminosos vão usar no roubo, o diretor corta para uma cena de sexo. Ao fazer isso, ele compara os dois eventos indicando que ambos terminam de forma bastante prazerosa. Pelo visto, não houve uma maneira menos ridícula de iniciar o filme.
Marcos Paulo, aliás, tem uma péssima estreia na cadeira de diretor, falhando em vários momentos da projeção. Em nenhum momento ele consegue imprimir uma atmosfera de tensão ao filme e, quando pode fazer isso, ele opta por tentar fazer humor, como na cena em que um inspetor da dengue visita o local onde o grupo está preparando o roubo. Paulo também opta por uma montagem cheia de flashforwards que mostram cada um dos personagens depois do roubo, tentando colocar uma pergunta no ar: como eles chegaram aí? Mas para que nós nos interessássemos por isso, o elenco teria que trazer um mínimo de carisma para seus papéis, o que não acontece (com exceção de Tonico Pereira, mas é uma pena que seu Doutor apareça tão pouco). E essa montagem também acaba destruindo qualquer tipo de suspense que o diretor quisesse dar ao filme, já que ele mostra o que acontece com personagens importantes.
O roteiro de Belmonte e Manfredi também é péssimo. Eles constroem figuras extremamente chatas, como Devanildo (Vinicius de Oliveira), um rapaz muito desligado e que vive incomodando os outros personagens, e o delegado Amorim (Lima Duarte), que diz ser inteligente apenas para na cena seguinte estar quase sujando a cena do crime (não sei o que Lima Duarte viu nesse roteiro para interpretar um personagem como esse). Além disso, os dois roteiristas tentam mostrar que cada um dos envolvidos no roubo tem uma tarefa, mas apenas dois tem suas funções bem definidas: Barão é o líder, Doutor é o engenheiro. Basicamente, o filme mostra a maioria do grupo fazendo apenas uma coisa: cavando o túnel. Os outros envolvidos parecem não fazer nada.
Alguns diálogos são fracos. Belmonte e Manfredi tentam forçar o riso fácil, como no momento em que um personagem faz uma comparação entre cadeia e mulheres. Outro exemplo acontece quando estão reunindo o grupo. Mineiro diz que todos estão ali para ganhar seu “dinheirinho honesto”. Por favor, se roubar um banco é ganhar dinheiro honestamente, então vou fazer isso na semana que vem. O único grande mérito deste roteiro é o modo como desenvolve Barão. Ele diz que a equipe precisa trabalhar unida para que o roubo dê certo. Na cena seguinte, ele aparece jogando xadrez sozinho, algo que revela a natureza individualista do personagem que, se pudesse, roubava o banco sem a ajuda de ninguém.
Filmes como Assalto ao Banco Central fazem as pessoas pensarem que o cinema brasileiro é chato, que tem boas produções só de vez em quando. Isso não é verdade. O problema é que os filmes bons geralmente são relegados aos festivais e estreiam em poucos cinemas, enquanto que as atenções sempre ficam para filmes como Nosso Lar e Se Eu Fosse Você (que se não são ruins, também não são grande coisa). Acho que isso deveria ser mudado por que, como eu afirmei na minha crítica de Scott Pilgrim Contra o Mundo, todas as produções merecem seu espaço no circuito.
Cotação:

3 comentários:

Hugo disse...

Ainda não assisti ao filme, mas acredito que Marcos Paulo não foi a melhor escolha para dirigir. Ator e diretor tipicamente de novelas, com certeza seria difícil uma boa transição para o cinema.

Mesmo com as críticas negativas, pretendo conferir o filme.

Abraço

Marcos Rosa disse...

Este eu não sei se verei, pelo menos este ano. Mas a propaganda foi interessante, porém as críticas...

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http://algunsfilmes.blogspot.com/

Marcelo Rodrigues disse...

Vou assistir ao filme quarta-feira, tava com grandes expectativas ( e ainda estou),a sua critica me deixou um pouco de receio de assistir