quarta-feira, 12 de julho de 2023

Missão: Impossível - Acerto de Contas - Parte Um

Relendo críticas que escrevi anos atrás sobre filmes de Missão Impossível, uma coisa que sempre aponto é a minha surpresa de ver como a consistência da série segue firme mesmo depois de tantos anos. É uma franquia admirável na qual Tom Cruise e sua equipe parecem sempre determinados a tentar fazer um capítulo superar o outro. E em meio a esses esforços, o longa mais recente, Efeito Fallout, se mostrou uma obra-prima difícil de ser superada dentro da franquia, mas isso não impede Cruise de tentar. E o resultado é essa primeira parte de Missão Impossível: Acerto de Contas, que não chega a igualar o capítulo anterior, mas ainda assim é uma obra que impressiona em vários momentos.

Escrito por Erik Jendrensen e pelo diretor Christopher McQuarrie, Acerto de Contas – Parte Um coloca Ethan Hunt (Cruise) precisando recuperar as duas metades de uma chave. Mas claro que isso não é tão fácil quanto parece, já que o objeto dá acesso a uma inteligência artificial chamada de A Entidade, que atrai o interesse de muitas pessoas e cujo poder pode colocar em risco o mundo inteiro (detalhe que o roteiro aponta frequentemente, naquele que talvez seja seu maior problema). Tendo esse perigo em mente, Hunt decide se rebelar novamente contra a IMF a fim de tentar destruir A Entidade, o que o coloca no caminho de Gabriel (Esai Morales), um antigo e misterioso colega que tem interesse em controlar a inteligência artificial. No processo, Hunt ainda bate de frente com Grace (Hayley Atwell), uma ladra que mal sabe onde está se metendo. E claro que a única ajuda que o sujeito tem para realizar a missão é a de seus fiéis aliados Luther Stickel (Ving Rhames), Benji Dunn (Simon Pegg) e Ilsa Faust (Rebecca Ferguson).


É uma história típica de Missão Impossível, com vários elementos que são de praxe na franquia e que podem apontar que ela talvez não funcione de outra forma, precisando sempre colocar o protagonista e sua equipe na posição de renegados que devem realizar uma missão que sempre parece próxima de dar errado (e que envolve um objeto que pode ser perigoso se cair nas mãos erradas). É tão comum que até os personagens já reconhecem como todas essas coisas parecem ser parte integral de suas rotinas. Mas é preciso dizer que, apesar da fórmula ser facilmente reconhecível, Christopher McQuarrie (o diretor mais longevo na franquia, o que faz eu pensar que Tom Cruise encontrou um cineasta tão maluco quanto ele) consegue fazer com que tudo tenha algum frescor e que o espectador fique na ponta da cadeira, seja pela tensão ou pela mera curiosidade de ver se os personagens conseguirão fazer o que planejam.

Muito disso se deve ainda a ameaça escolhida para essa missão. E não me refiro a personagens humanos, apesar de estes também renderem uma bela dor de cabeça para o protagonista, mas sim à A Entidade. Além de mostrar um timing preciso por parte dos realizadores (considerando as várias discussões que têm surgido ultimamente quanto ao uso desse tipo de tecnologia), a inteligência artificial enfrentada por Hunt e sua equipe dá início a um jogo de gato e rato que tem um bom grau de imprevisibilidade, já que o algoritmo da Entidade sempre parece estar muitos passos à frente do protagonista, consequentemente aumentando os riscos da missão e a tensão provocada pela narrativa. Como se não bastasse, a presença do ótimo Esai Morales como Gabriel, o principal vilão humano da história, funciona muito por conta de ele ser o mais próximo de uma representação da Entidade, ficando sempre por dentro do que é calculado pelo algoritmo e soando mais perigoso por conta disso.

Mas talvez as ameaças não fossem tão eficazes caso não nos importássemos com os personagens, o que sempre ocorreu na franquia e em Acerto de Contas – Parte Um não é diferente. Aliás, uma das coisas mais perceptíveis ao longo da série Missão Impossível é como Ethan Hunt cria laços cada vez mais fortes com sua equipe, a ponto de a partir do quinto filme ele poder dizer que tem um grupo de amigos com os quais se importa (e vice-versa). E a base emocional da narrativa desse sétimo exemplar reside principalmente na dinâmica que ele constrói com os talentosos Simon Pegg, Ving Rhames e Rebecca Ferguson, cujos ótimos personagens frequentemente são usados para ressaltar a humanidade do protagonista e manter os pés dele no chão enquanto tenta salvar o mundo.

Todos esses elementos ajudam a fazer com que a narrativa envolva o espectador enquanto as sequências de ação são costuradas umas nas outras pela trama, sequências estas que mais uma vez são conduzidas com competência por Christopher McQuarrie, que vem mostrando ser um diretor de ação muito confiável (vide não só Missão Impossível, mas também o primeiro Jack Reacher). McQuarrie concebe sequências cuja escala vai aumentando gradualmente durante o filme, formando uma estrutura em que o ritmo da narrativa segue uma crescente até chegar em seu ápice no terceiro ato, quando o diretor e Tom Cruise decidem deixar a sanidade de lado. Esse ritmo também merece ser creditado a ótima montagem de Eddie Hamilton, que ainda faz um trabalho notável em momentos em que precisa intercalar ações que ocorrem ao mesmo tempo, o que contribui com a tensão do filme, como pode ser visto por exemplo na sequência situada no aeroporto de Abu Dhabi.

Se juntando a Homem-Aranha Através do Aranhaverso no grupo de filmes de 2023 que se apresentam como a primeira parte de uma história, mas que sabe encerrar seu arco narrativo concluindo os pontos que precisa e criando uma curiosidade natural quanto a vindoura continuação, Missão Impossível: Acerto de Contas – Parte Um mantém o alto nível de uma franquia que parece não cansar de empolgar o público.

Nota:



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