Ao começar a assistir Stranger Things, nova série da Netflix,
foi inevitável lembrar de Super 8,
filme que J.J. Abrams lançou em 2011. Ambas são produções que se apresentam
claramente como homenagens a aventuras e ficções cientificas da década de 1980,
com Abrams tendo dado foco especial principalmente aos trabalhos de Steven
Spielberg, cineasta cuja influência também podemos ver fortemente ao longo da
série. Super 8 é um filme eficiente,
mas vale dizer que o que os irmãos Matt e Ross Duffer realizam nos oito
episódios dessa primeira temporada de Stranger
Things é ainda melhor, conseguindo deixar o espectador curioso do início ao
fim com relação ao que apresenta na tela.
A série é situada em 1983, na
pequena cidade de Indiana, tendo início quando os jovens Mike (Finn Wolfhard),
Dustin (Gaten Matarazzo), Lucas (Caleb McLaughlin) e Will (Noah Schnapp) estão
se divertindo jogando Dungeons & Dragons, sem ter que se preocuparem com quaisquer
outras coisas. Mas logo depois, quando está voltando para casa, Will desaparece
ao ser atacado por um monstro misterioso. A mãe dele, Joyce (Winona Ryder), e
seu irmão mais velho, Jonathan (Charlie Heaton), não medem esforços para encontra-lo,
contando com a ajuda do chefe de polícia Hopper (David Harbour). Enquanto isso,
a jovem Onze (Millie Bobby Brown) foge de pessoas perigosas ligadas ao governo,
mostrando não ser uma garota qualquer.
Deixando sua pegada oitentista bem
clara logo nos créditos de abertura, os irmãos Duffer não demoram para fazer
com que Stranger Things comece a dar
um banho de nostalgia no espectador, trazendo ao longo dos episódios referências
a obras clássicas como E.T. e O Enigma de Outro Mundo, lembrando também de Stephen King em determinados momentos. Além disso, os
realizadores conseguem dar à série o interessante charme da década de 1980,
seja através do design de produção de Chris Trujillo, que faz um ótimo trabalho
de recriação de época, ou da trilha composta pela dupla Kyle Dixon e Michael
Stein, repleta de toques de música eletrônica.
Mas se engana quem pensa que o
estilo e a proposta de Stranger Things
são seus únicos atrativos, já que a série não tenta se sustentar só em suas
referências nostálgicas, fazendo a história seguir seu próprio caminho de
maneira independente. Nisso, os Duffer são bem sucedidos não só ao impor um suspense
que mantém o público instigado, mas também por desenvolverem uma trama que fica
mais interessante à medida que os personagens vão descobrindo o que está
acontecendo ao seu redor. É algo muito bem estruturado pelo roteiro, que chega
a formar pequenos núcleos narrativos para desvendar gradualmente as peças do
quebra-cabeça misterioso que tem em mãos. Para completar, a série desenvolve admiravelmente
a maior parte de seus personagens, chegando a inserir breves flashbacks que ajudam o público a se aproximar
deles e de seus dramas pessoais.
O ótimo elenco também contribui
muito para isso, a começar por Winona Ryder (uma atriz talentosa e que há
tempos não aparecia em um papel de destaque), que encarna o desespero de Joyce
na medida certa, fazendo dela uma mulher forte, determinada e cujo amor pelos
filhos guia a maior parte de suas ações. Enquanto isso, David Harbour mostra
segurança no papel de Hopper, tornando-o um homem de expressão constantemente fechada
e que revela nisso uma ferida profunda resultante de uma tragédia pessoal, algo
que o ajuda a se identificar com Joyce. Já Matthew Modine surge sempre com uma
presença curiosa como Martin Brenner, o líder conspiratório e vilanesco de uma
agência do governo e que não é muito diferente do que já vimos em outras produções,
ao passo que os intérpretes mais jovens do elenco esbanjam carisma e
personalidade, com a pequena Millie Bobby Brown se estabelecendo como a grande revelação
do projeto no papel de Onze.
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