Procurando Nemo não é um filme que coloco entre as obras-primas da
Pixar, mas certamente é um trabalho no qual o estúdio caprichosamente soube
criar personagens adoráveis, que nos guiavam por uma aventura divertida e
tocante pela forma como tratava a temática do amor entre pais e filhos.
Exatamente por isso, a ideia de retornar àquele universo e rever àquelas
figuras é agradável por natureza, sendo que dessa vez é a querida Dory quem
passa a ser a protagonista, em algo parecido com o que ocorreu com Mate no
fraco Carros 2. Mesmo apostando em
uma narrativa basicamente igual a do primeiro longa, Procurando Dory consegue ser uma continuação divertida e que, no
processo, tira um pouco o gosto amargo que a Pixar deixou recentemente com O Bom Dinossauro.
Escrito pelo diretor Andrew
Stanton a partir do argumento concebido por ele e Victoria Strouse, o filme
traz Dory lembrando de seus pais, de quem se perdeu quando criança e acabou
esquecendo devido a seu problema de perda da memória recente. Ela parte em uma
jornada para encontra-los, tendo para isso a ajuda de Merlin e Nemo. A viagem
leva o trio até o Instituto de Vida Marinha, na Califórnia, onde Dory começa a
ter contato com seu passado, além de conhecer o polvo Hank, que também entra na
missão para ajuda-la.
Apesar de vermos algumas
variações, trata-se do mesmo tipo de história que havíamos acompanhado antes (“Sempre
que chegamos ao final deste recife alguém está tentando ir embora”, diz Marlin
para apontar a repetição), com Andrew Stanton voltando à mesma temática e a uma
estrutura que lembra àquela do primeiro filme, com a diferença de que agora
temos alguns flashbacks do passado de
Dory. O desenrolar da trama acaba sendo até um pouco previsível, com o frescor
da narrativa ficando mais por conta da expansão daquele universo, que traz
novos personagens e dá foco à grandeza do Instituto de Vida Marinha onde ocorre
a maior parte da ação.
Mesmo pecando nesse aspecto, Procurando Dory ainda assim traz Stanton
aproveitando bem o universo que concebeu e fazendo uma aventura que entretém o
público do início ao fim da projeção, organizando uma narrativa ágil e que
diverte naturalmente com os personagens. Aqui, vale dizer que o roteiro volta a
causar risos com o jeito de Dory e seu problema de memória, mas também abre
espaço para as excentricidades de outros personagens, como os leões-marinhos Fluke
e Leme e a mergulhão Becky, figuras que praticamente roubam as cenas em que
aparecem.
O que faz o filme realmente
funcionar, porém, é o carinho que temos pelos personagens, principalmente Dory,
que mais uma vez mostra o quão adorável é capaz de ser e mantém ótimas dinâmicas
com as figuras ao seu redor, sejam elas Marlin e Nemo ou Hank, funcionando
maravilhosamente como a principal âncora emocional da narrativa. Assim, é fácil
nos importarmos com seu drama pessoal, sendo interessante notar como o roteiro
aborda o problema de memória dela não só como algo que a torna divertida e
carismática, mas também como o grande iniciador do medo que ela compreensivelmente
tem de esquecer as pessoas que ama. Para completar, ao inserir mais obstáculos
exatamente quando os conflitos da trama parecem estar chegando ao fim, Andrew
Stanton pode até esticar a história mais do que o necessário, mas consegue
criar um pouco de tensão que prova o desejo do espectador de ver os personagens
alcançarem seus objetivos de alguma forma.
Tecnicamente impressionante como
qualquer animação da Pixar (os movimentos dos animais são convincentes até os mínimos
detalhes e alguns planos gerais das “locações” nem parecem ter sido concebidos
no computador, tamanho o fotorrealismo alcançado por Stanton e sua equipe), Procurando Dory pode ter pontos
irregulares, mas ainda consegue ser uma aventura simpática e eficiente ao lado
de ótimos personagens. Em um ano no qual várias franquias estão lançando suas
segundas partes, esta se coloca entre as mais agradáveis.
Obs.: Há uma ótima cena após os
créditos finais.
Obs. 2: O curta-metragem Piper, que está sendo exibido antes de Procurando Dory, é capaz de derreter
corações com a beleza tanto de sua narrativa quanto de sua parte puramente técnica,
provando que os traços digitais da equipe de animação da Pixar realmente estão
evoluindo maravilhosamente. É um trabalho que certamente será lembrado na
temporada de premiações.
Nota:
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