quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Following

Christopher Nolan é hoje um diretor bastante admirado, que vem construindo uma carreira repleta de grandes filmes. Mas todo cineasta começa em algum lugar, e nem sempre isso ocorre em uma produção de bom orçamento ou com um grande estúdio por trás. Feito a um custo de apenas seis mil dólares, Following é um trabalho que Nolan provavelmente não conseguiria fazer se não tivesse contado com a boa vontade de alguns amigos. Mesmo enfrentando suas limitações, o filme se revelou uma grata surpresa, chamando atenção para seu realizador.

Escrito pelo próprio Nolan, Following acompanha Bill (Jeremy Theobald), um jovem escritor que passa a seguir pessoas na esperança de quebrar um bloqueio criativo. Uma delas é Cobb (Alex Haw), ladrão que, ao perceber o que ele está fazendo, intima o rapaz a acompanhá-lo em suas atividades ilícitas. Quando os dois invadem a casa de uma Loira (Lucy Russell), o protagonista acaba se apaixonando. Tomado pelo sentimento, ele decide conhecê-la melhor, mesmo com as advertências feitas por Cobb, que deixa claro que isso pode trazer problemas.

Um detalhe óbvio, mas ainda assim curioso, no fato de Bill seguir qualquer pessoa é perceber que o ser humano em si é uma criatura fascinante em seus hábitos. Cada indivíduo tem seus próprios compromissos, moradias, hobbies, relacionamentos. E é interessante analisar esse tipo de riqueza que existe em cada um de nós. Essa ação do personagem, de certa forma, encontra reflexo quando ele passa a invadir casas com Cobb, já que o novo parceiro mostra que é possível prever características dos moradores daqueles estabelecimentos só de ver os pertences deles, uma habilidade que ganha ótimos toques quando entram em sua própria casa, fazendo-o com que perceba o quão patética é sua vida.

No entanto, esse aspecto não chega a ser o centro da trama, já que Christopher Nolan realiza aqui um thriller com toques de noir cujo ritmo ágil envolve o espectador durante a maior parte da história. Utilizando uma estrutura não linear (algo que viria ser usado nos futuros trabalhos do realizador), Following começa acompanhando um interrogatório de Bill na polícia, e a partir disso volta no tempo para mostrar como ele se envolve com Cobb, pulando aos poucos para eventos que são consequência dessa parceria. É um grande quebra-cabeça que soa confuso inicialmente, mas gradualmente as peças se encaixam, montando uma trama repleta de reviravoltas surpreendentes em uma narrativa conduzida com segurança pelo diretor, que consegue criar um cativante clima de suspense entre os personagens.
Enquanto isso, Jeremy Theobald traz um jeito de homem comum que combina bem com Bill, além de lhe conferir uma insegurança que o aproxima do espectador. Nesse aspecto, o Cobb de Alex Haw é o oposto, praticamente ditando como as coisas devem acontecer. Aliás, é notável a influência que ele tem no protagonista, que até substitui o visual precário que tem inicialmente pela elegância típica do parceiro. Já Lucy Russell surge como o ponto fraco do elenco, não conseguindo fazer com que sua Loira se torne uma femme fatale interessante, o que é lamentável considerando a importância que ela acaba tendo na trama.
É verdade que Following enfrenta alguns problemas. Nolan é um tanto desajeitado em determinadas cenas (como em uma briga que ocorre no final do segundo ato) e os fades que dividem a estrutura do roteiro às vezes quebram o ritmo da trama. Mas é um filme eficiente ao longo de seus rápidos 68 minutos de duração, apresentando com propriedade o talento de um diretor que desde então amadureceu muito na arte de contar histórias.
Nota:

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