quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

RoboCop

Clássico da década de 1980, RoboCop: O Policial do Futuro é um filme de ação exemplar ao mesmo tempo em que trata com eficiência a parte humana e a parte máquina de seu protagonista e faz uma crítica interessante à sociedade em si. Uma pena que seu sucesso tenha rendido duas continuações que, infelizmente, foram tão fracas que enterraram a franquia. Mas agora, 20 anos após o lançamento do terceiro filme, o personagem volta às telas neste remake comandado pelo brasileiro José Padilha, em sua estreia em Hollywood.

Escrito por Joshua Zetumer, RoboCop se passa no ano de 2028 e mostra que a empresa OmniCorp tem conseguido sucesso em manter sob controle as populações de países do Oriente Médio com seus robôs. No entanto, o presidente da empresa, Raymond Sellars (Michael Keaton), não tem permissão para utilizar suas tecnologias em solo americano, considerando que as máquinas não pensam ou sentem como os humanos. Ao lado do Dr. Dennett Norton (Gary Oldman), Sellar pensa em colocar um homem dentro de uma máquina. Nesse universo, o policial Alex Murphy (dessa vez interpretado por Joel Kinnaman) representa uma ameaça ao chefão do crime local e a seus colegas corruptos, sendo gravemente ferido em um atentado. Surge então a oportunidade perfeita para que Sellars e Norton ponham em prática seu plano, salvando a vida de Alex e procurando manter a segurança nas ruas de Detroit.

Sendo uma espécie de releitura do personagem, este remake é interessante por mostrar estar disposto a se arriscar, mudando certos detalhes que são famosos quando se fala no herói, como sua armadura, que apesar de ser parecida com a original inicialmente, fica bem diferente depois, além de ser mais rápida, o que contribui para que o personagem tenha uma maior agilidade nas cenas de ação. Aliás, a ação de modo geral é conduzida com competência por José Padilha, que usando muito a câmera na mão ressalta bem a tensão das sequências, principalmente aquelas envolvendo tiroteios, como àquele no primeiro ato que traz Murphy e seu parceiro Jack Lewis (Michael K. Williams) contra alguns capangas. Mas há de se ressaltar que a câmera tremida faz determinados momentos ficarem um tanto confusos, com Padilha não conseguindo deixar clara a geografia das cenas.

Tecnicamente RoboCop não decepciona. O ótimo design de produção cria um futuro convincente e não tão distante da nossa atual realidade (não é á toa que vemos política externa e a inclusão de drones por aqui), ao passo que a montagem da dupla Daniel Rezende (parceiro habitual de Padilha) e Peter McNulty traz um bom ritmo a história e é responsável por um dos melhores momentos do filme: a cena em que Murphy aos poucos acorda de um sonho para se encontrar pela primeira vez dentro da armadura que precisará usar. E a fotografia de Lula Carvalho (outro que sempre contribui com o diretor) acerta ao incluir um tom mais pastel em um escasso Teerã e outro mais claro na Detroit cheia de tecnologias, o que cria um belo contraste.

Enquanto isso, o roteiro encontra problemas ao desenvolver a história e suas subtramas, já que é muita coisa para lidar, o que deixa o filme um pouco sem foco, como no momento em que Murphy analisa o medo que seu filho tem sentido apenas para logo depois ir investigar quem causou a explosão que quase o matou. Mas Joshua Zetumer é hábil na forma como trata temas que inclusive permeavam o filme original de Paul Verhoeven, como o poder das grandes corporações (que ultimamente têm ocupado bastante a vaga de vilões no cinema americano) e a humanidade de seu protagonista. Nesse último aspecto, por sinal, RoboCop abre mais espaço para a esposa de Murphy, Clara (Abbie Cornish), e o filho deles, criando um drama familiar até curioso de se ver na história, ainda que essa parte caia um pouco no melodrama de vez em quando.

Já o elenco que José Padilha tem em mãos é outro acerto do filme. O não muito conhecido Joel Kinnaman surpreende trazendo carisma para Alex Murphy e tornando-o uma figura bastante vulnerável pela qual conseguimos nos importar. E se Abbie Cornish surge forte como Clara Murphy, Gary Oldman tem uma bela presença no papel de Dennett Norton, enquanto que Michael Keaton é hábil ao retratar a dualidade de seu Raymond Sellars. Para completar, Samuel L. Jackson aparece até divertido interpretando Pat Novak, apresentador de um programa sensacionalista à la José Luiz Datena (aliás, a presença desse personagem deixa claro que Padilha deu alguns toques na história).

É verdade que este RoboCop de José Padilha não é tão bom quanto o filme icônico que o originou. Mas para um remake que reintroduz o personagem no cinema ainda funciona satisfatoriamente, sendo uma grata surpresa.

Um comentário:

Hugo disse...

A escolha de Padilha para estrear em Hollywood foi bem arriscada, pois o original é um ótimo filme e seria muito difícil fazer algo superior.

Ainda preciso conferir esta nova versão.

Abraço,