Conferindo a filmografia de Martin Scorsese, são poucos os filmes que tenham tons mais cômicos. Um desses trabalhos é O Rei da Comédia,
e que ainda assim não é um título que busca o riso do espectador
constantemente. Aqui, o diretor se reuniu pela quinta vez com um de seus
grandes parceiros, Robert De Niro, e ainda trouxe para o barco o comediante Jerry Lewis,
em uma história que foca bastante a relação entre celebridades e seus
fãs. O resultado é um longa muito interessante e que traz De Niro e Lewis em grandes atuações.
Escrito por Paul D. Zimmerman, O Rei da Comédia acompanha Rupert Pupkin (De Niro), um comediante de stand-up que sonha em ser famoso como Jerry Langford (Lewis), apresentador de um talk show. Para alcançar esse sucesso, Rupert passa a perseguir o artista após eles terem uma breve conversa na qual ele acha que uma amizade se construiu. Com a ajuda de Masha (Sandra Bernhard), outra obcecada pelo astro, Rupert faz de tudo para que Jerry veja seu repertório e o coloque entre os convidados de seu programa. Mas a celebridade procura evitar contato com seus admiradores, o que dificulta a vida de Rupert, que ainda assim insiste em querer que o ídolo e todas as outras pessoas vejam seu talento.
A fascinação do fã pelo ídolo é um elemento muito bem desenvolvido por Scorsese, que já trata de mostrá-la logo de cara através dos figurinos e do design de produção. Enquanto o personagem veste ternos e gravatas que remetem diretamente ao apresentador, o porão de sua casa é basicamente uma réplica do palco do programa, com direito a modelos de Liza Minnelli e do próprio Jerry feitos de papelão. Além disso, é curioso acompanhar o quanto a breve conversa que os dois têm no início do filme afeta Rupert psicologicamente, já que a partir daí ele passa a ter fantasias nas quais ele não só é muito próximo de Jerry como também chega a ofuscá-lo, algo que pode ser visto quando os dois estão jantando e uma garota pede seu autógrafo, nem ligando para quem está ao lado dele. Em sequências como essas, vale dizer que o trabalho de montagem de Thelma Schoonmaker (parceira habitual de Scorsese) merece créditos por conseguir mostrar tanto a realidade de Rupert quanto o que ocorre em sua imaginação, intercalando as duas coisas organicamente.
Enquanto isso, Robert De Niro encarna o protagonista com carisma, transformando-o numa figura excêntrica, apropriadamente iludida e até divertida, em mais uma atuação de destaque em sua riquíssima carreira. O momento em que Rupert apresenta seu monólogo de stand-up a uma plateia é um dos melhores do filme, e boa parte disso se deve a De Niro, que segura muito bem a sequência ao longo de seus cinco minutos feitos em uma tomada só por Scorsese. Já Jerry Lewis faz de seu Jerry Langford uma figura diferente dos papeis cômicos que o tornaram famoso, investindo em uma composição mais séria, mas não menos eficiente, conseguindo protagonizar belas cenas, como quando o personagem faz um pequeno desabafo sobre o show business. Ao falar que a fama nem sempre pode melhorar a vida das pessoas, faz uma crítica interessante à visão que as pessoas têm com relação a isso.
No entanto, há de se ressaltar que nem todos os momentos cômicos de O Rei da Comédia funcionam. Se por um lado Scorsese acerta na cena em que Rupert imagina se casar no programa de Jerry e um assistente diz que eles voltarão com o evento após os comerciais (uma boa alfinetada em algo comum na Televisão), por outro ele erra no timing do momento em que Rupert faz uma pequena confusão com alguns cartazes, que não funciona também por ser inserido em uma parte mais séria da história. Para completar, Masha não é uma personagem tão interessante quanto Rupert e Jerry, então quando ela ganha um destaque maior (como no pequeno encontro a sós que ela tem com o apresentador) o filme fica um pouco menos envolvente.
Um comentário:
É um longa diferente na filmografia de Scorsese, com um estranho Robert De Niro e o grande Jerry Lewis num dos seus poucos trabalhos dos anos oitenta.
Abraço
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