sábado, 28 de dezembro de 2013

Questão de Tempo

Ao longo de sua carreira, primeiramente como roteirista e mais tarde como diretor, Richard Curtis realizou comédias simpáticas e divertidas, que contam com certo encantamento em sua volta e mandam o espectador para fora da sala de cinema com um grande sentimento de satisfação. Foi assim com os ótimos Quatro Casamentos e um Funeral e Um Lugar Chamado Notting Hill, além do excepcional Simplesmente Amor (uma das melhores comédias românticas da década passada, para não dizer a melhor). Pois isso volta a acontecer neste seu novo trabalho, Questão de Tempo, filme no qual Curtis nos apresenta a personagens tão carismáticos que é difícil não torcer para que tudo dê certo para eles quando chegarmos ao final da história.

No filme, Tim Lake (Domhnall Gleeson, filho de Brendan Gleeson) é um jovem tímido e inseguro que é informado por seu pai, James (Bill Nighy), que os homens de sua família podem viajar no tempo. Tim decide usar os seus recém-descobertos poderes em suas tentativas para arranjar uma namorada, algo difícil porque “Nenhuma viagem no tempo pode fazer alguém amar você”, como ele mesmo constata em determinado momento. Mas ao se mudar para Londres, Tim conhece Mary (Rachel McAdams) e vê nela seu grande amor, passando a fazer o possível para ter uma vida feliz ao seu lado.

Questão de Tempo conta com elementos que lembram outros filmes escritos por Curtis. A timidez de Tim, por exemplo, não é muito diferente daquela do personagem de Hugh Grant em Um Lugar Chamado Notting Hill. Por sinal, se estivéssemos na década de 1990, Grant poderia ser um intérprete excelente para Tim. Mas suposições à parte, o papel é encarnado eficientemente por Domhnall Gleeson, que consegue passar para o público toda a insegurança do personagem ao mesmo tempo em que faz dele uma figura mais confiante no decorrer do filme, revelando um carisma arrebatador no processo. Gleeson tem ainda uma ótima química com Rachel McAdams, que por sua vez traz uma graciosidade fundamental para Mary. E se a história de amor do casal é algo bacana de se acompanhar, o mesmo pode ser dito sobre a relação pai e filho entre Tim e James, que acaba sendo o centro dos momentos mais tocantes do filme, principalmente no terceiro ato.

Enquanto isso, o modo como a viagem no tempo é usada rende cenas divertidas, como quando Tim desiste de falar com Charlotte (Margot Robbie), um velho interesse amoroso, ao ver que todas suas tentativas foram frustradas e que nada de bom sairá dali. Aliás, é fácil se identificar com Tim e suas viagens no tempo, já que qualquer um gostaria de voltar a um momento constrangedor de sua vida e tentar consertá-lo de alguma forma (isso até lembra o que Wagner Moura fazia no divertido O Homem do Futuro). E a boa montagem de Mark Day merece créditos por inserir todas as viagens sem que estas quebrem o ritmo da história.

No entanto, quando se trata de viagem no tempo, é comum que os filmes deixem algum pequeno furo ou forcem certas coisas para que sua história não tenha tantos problemas. E isso ocorre no roteiro de Questão de Tempo. Durante a projeção, é um pouco difícil acreditar que Tim volte no tempo tantas vezes, mude alguns detalhes e quando ele volta para o presente sua vida está quase sempre da mesma maneira como ele a deixou antes. Mas para a sorte de Richard Curtis, o carinho que criamos pelos personagens e o grande coração do filme fazem com que problemas como esse não incomodem tanto.

Trazendo mensagens como “a vida é uma caixinha de surpresas” e “certas coisas não podem ser mudadas” (que por mais óbvias que sejam, são transmitidas com uma bela sensibilidade), Questão de Tempo mostra que Richard Curtis ainda não perdeu a mão para contar adoráveis histórias de amor.

2 comentários:

Anônimo disse...

Vou esperar esse ai passar na globo xD
Um filme que eu gostei sobre viagens no tempo foi F.A.Q. About time travel (2009) que não é conhecido aqui no brasil

Thomás R. Boeira disse...

Não tinha ouvido falar nesse F.A.Q. ainda, mas dei uma pesquisada e parece ser bem interessante. Vou conferir quando possível.

Abraço