Jogos Vorazes foi uma das boas surpresas do ano passado, apresentando uma história com personagens carismáticos e um universo interessante, ao mesmo tempo em que fazia um comentário político e social bastante relevante (depois de assistir ao filme, fui em busca do primeiro livro da série, que por sinal revelou ser uma bela leitura). Tal comentário volta mais forte nessa continuação,
Jogos Vorazes: Em Chamas, filme que também funciona eficientemente como uma produção de ação/aventura e ainda expande a distopia de Panem, sendo superior ao capítulo anterior.
Em Chamas se passa pouco tempo depois do filme anterior, mostrando Katniss (Jennifer Lawrence) e Peeta (Josh Hutcherson) embarcando para a Turnê dos Vitoriosos, tendo eles sobrevivido aos Jogos Vorazes graças a uma manobra que foi vista como um desrespeito pelo Presidente Snow (Donald Sutherland). A vitória da dupla também deu uma ponta de esperança para os habitantes dos doze Distritos de Panem, que passam a dar indícios de querer fazer uma revolução contra a Capital. Tendo a ajuda de Plutarch Heavensbee (Philip Seymour Hoffman), o novo idealizador dos jogos, para tentar manter o controle das coisas, Snow faz com que os tributos que participarão do Massacre Quaternário, uma edição dos Jogos Vorazes que ocorre a cada 25 anos, sejam escolhidos apenas entre àqueles que venceram os jogos, o que faz Katniss e Peeta voltarem para o pesadelo da arena de combate.
Com uma trama que trata de maneira um pouco mais aprofundada regimes totalitários e o controle que estes exercem diante de seus governados,
Em Chamas surge com um tom de urgência muito maior do que o que foi visto no primeiro filme, já que dessa vez o Presidente Snow não mede esforços para tentar conter as revoltas que ocorrem ao seu redor e destruir o símbolo de liderança e rebeldia no qual Katniss se tornou. O próprio Massacre Quaternário já mostra que o sadismo e o desejo de poder do personagem não têm limites. E é curioso ver que por mais que o universo criado por Suzanne Collins se passe em um futuro, a opressão sofrida pelos povos dos Distritos é fruto de um pensamento medieval brutal. Essa parte política da história é um dos elementos que fazem a franquia ser tão interessante, sendo desenvolvida com calma pelo roteiro dos premiados Simon Beaufoy (de
Quem Quer Ser Um Milionário?) e Michael deBruyn (também conhecido como Michael Arndt, de
Pequena Miss Sunshine e
Toy Story 3), que respeitam a inteligência do espectador do início ao fim.
E já que mencionei o Massacre Quaternário, vale ressaltar que mesmo sendo algo bem formuláico (assim como nos jogos do primeiro filme, os tributos menos importantes morrem primeiro, até a hora em que sobrarem apenas os principais), ele ainda assim traz perigos absolutamente imprevisíveis, e o diretor Francis Lawrence (que assumiu o cargo no lugar de Gary Ross) os conduz impondo um grande nível de tensão, desde a sequência envolvendo uma névoa até a outra que traz um batalhão de babuínos. Momentos como esses fazem com que temamos pelo destino dos personagens, que frequentemente surgem vulneráveis na arena. Lawrence ainda comanda tudo de forma que compreendamos o que ocorre na tela, um aprimoramento em comparação ao filme anterior, que de vez em quando falhava nesse aspecto.
Enquanto isso, as diferenças entre a Capital e os Distritos novamente é muito bem definida pela parte técnica do filme, desde a fotografia de Jo Willems até o design de produção, passando pelos figurinos e pela maquiagem. Se na Capital há um ambiente exageradamente colorido, representando toda a riqueza do local, além da felicidade e até mesmo da alienação das pessoas, nos Distritos vemos um ambiente extremamente melancólico que combina perfeitamente com o estado de seus habitantes. Afinal, todos eles vivem sabendo que um jovem membro de sua família terá que colocar a própria vida em risco para saciar o desejo sanguinolento de pessoas poderosas. E quando Katniss aparece tendo pesadelos ou visões lembrando o pânico pelo qual passou ao longo do filme anterior, vemos o quanto os Jogos Vorazes afetam seus participantes ao obriga-los a abraçar cruelmente seu instinto de sobrevivência.
Jennifer Lawrence, por sinal, retorna ao papel de Katniss fazendo da personagem não só uma figura atormentada pelo que precisou fazer para se manter viva, mas também mais forte e determinada, sendo uma protagonista perfeita para uma história como essa. Já Josh Hutcherson e Liam Hemsworth encarnam Peeta e Gale com um carisma essencial para os personagens, enquanto que Woody Harrelson, Elizabeth Banks e Lenny Kravitz se destacam novamente como Haymitch Abernathy, Effie Trinket e Cinna. E se intérpretes como Jena Malone, Sam Caflin e Jeffrey Wright mostram ser boas adições à trama nos papeis de Johanna Mason, Finnick Odair e Beetee, respectivamente, o sempre excelente Philip Seymour Hoffman rouba quase todas as cenas em que surge como Plutarch Heavensbee. Fechando o elenco, Donald Sutherland faz do Presidente Snow um homem ameaçador ainda que demonstre uma grande tranquilidade na maior parte do tempo.
Não que tudo seja perfeito em
Em Chamas. O relacionamento entre Katniss e Peeta, por exemplo, se beneficia muito do fato de eles serem ótimos personagens, já que é desenvolvido de um jeito um tanto previsível. E tirando uma ou outra cena, as tragédias que acontecem com algumas figuras interessantes não causam um impacto tão grande quanto poderiam, em parte por elas não serem tão bem desenvolvidas.
Mas estes são problemas pequenos perto de tudo o que o filme alcança durante a projeção.
Em Chamas consegue envolver tanto o público em sua história que quando ela chega nos créditos finais estamos na ponta das cadeiras, curiosos com o que vai acontecer nos próximos e derradeiros capítulos.
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