quarta-feira, 10 de julho de 2013
O Cavaleiro Solitário
Conheço muito pouco sobre O Cavaleiro Solitário, série que já teve versões tanto para o rádio quanto para a TV e que fez sucesso principalmente entre as décadas de 1930 e 1950, trazendo o personagem-título em grandes aventuras ao lado de seu fiel parceiro, o índio Tonto. Dessa vez a série é adaptada para os cinemas nesta superprodução da Disney, comandada pelo talentoso e versátil Gore Verbinski (o mesmo diretor da ótima trilogia inicial de Piratas do Caribe, do excepcional Rango, entre outros), em uma nova tentativa do estúdio de montar uma franquia, depois dos recentes fracassos de obras como Príncipe da Pérsia e John Carter.
Escrito por Ted Elliott e Terry Rossio (os mesmos roteiristas de Piratas do Caribe) em parceria com Justin Haythe, O Cavaleiro Solitário tem início em 1933, mostrando Tonto (Johnny Depp) contando a história do personagem-título a um garoto. Nisso voltamos a 1869 e somos apresentados ao advogado John Reid (Armie Hammer), que volta a cidade de Colby e reencontra seu irmão, o ranger Dan (James Badge Dale). Durante uma ronda pelo deserto atrás de alguns bandidos, os irmãos e outros rangers entram em uma emboscada organizada pelo cruel Butch Cavendish (William Fichtner). Mas John sobrevive com a ajuda de Tonto, e juntos eles formam uma dupla inusitada, que passa a ter como objetivo encontrar Cavendish e fazer justiça.
O que chama a atenção inicialmente em O Cavaleiro Solitário é sua estrutura, com o roteiro tentando acompanhar tanto as ações dos protagonistas em 1869 quanto Tonto falando com o menino em 1933. Sendo assim, a montagem da dupla James Haygood e Craig Wood merece créditos por conseguir acompanhar essas duas partes do filme sem nunca quebrar o ritmo da história, fazendo transições de cena sempre muito orgânicas. No entanto, em alguns momentos o próprio roteiro atrapalha um pouco o modo como a história é contada, já que ele às vezes prefere não mostrar imediatamente uma ação importante dos personagens, apenas para mais tarde praticamente parar o filme para deixar claro o que eles fizeram (uma explicação que nem sempre é necessária).
Mas não é só isso. Os heróis frequentemente aparecem discutindo, até por terem personalidades muito distintas, o que de certa forma torna o relacionamento entre eles um tanto formuláico, resultando em um conflito clichê e previsível. Além disso, o roteiro investe demais em certas gags que perdem a graça depois de um tempo, como quando Tonto ressalta que a natureza está em desequilíbrio ou quando vários personagens questionam o detalhe de John usar uma máscara. Para completar, apesar de a trama ser bastante simples, os roteiristas a enrolam mais do que o necessário, e a própria duração do filme poderia ser menor.
Mesmo assim, O Cavaleiro Solitário ainda prende a atenção, o que se deve em grande parte a direção de Gore Verbinski. As cenas de ação se tornam alguns dos pontos altos da projeção, com o cineasta criando momentos tensos (como a emboscada de Cavendish) e empolgantes (como a sequência inicial no trem). Mas é no terceiro ato que o filme ganha força total, com uma sequência que dura cerca de dez minutos na tela e que se revela absolutamente brilhante, com a dinâmica entre os personagens funcionando muito bem enquanto que Verbinski comanda tudo de maneira criativa e divertida. E vale dizer também que apesar de a trilha de Hans Zimmer ter poucos momentos realmente inspirados, nesta sequência o compositor faz uma ótima versão da parte final da "William Tell Overture" criada por Gioachinno Rossini, que servia como música-tema da série original.
Quanto ao elenco, Armie Hammer traz um carisma essencial para John Reid, fazendo dele um personagem que tenta ser justo sempre que pode, enquanto que Johnny Depp aparece contido como Tonto, criando uma figura que mantém a calma mesmo quando a situação pediria o contrário. Aliás, Tonto vira um alívio cômico ao lado do cavalo de John, e Depp consegue divertir na maior parte do tempo (“Tem algo errado com esse cavalo”, diz ele em uma das cenas mais engraçados do filme), ainda que de vez em quando o roteiro pareça estar apenas desesperado para causar o riso. Enquanto isso, Ruth Wilson surge apagada como Rebecca, o interesse amoroso de John, ao passo que Helena Bonham Carter rouba a cena sempre que aparece interpretando Red Harrington, o que torna lamentável o fato de ela ter pouquíssimas cenas. E se Tom Wilkinson faz o possível com seu Latham Cole, William Fichtner transforma o bizarro Butch Cavendish em um vilão que chega a ser mais interessante do que os heróis.
Apesar de não ser um filme particularmente marcante, O Cavaleiro Solitário ao menos se revela como um passatempo divertido. Mas considerando o fracasso financeiro do projeto, talvez não tenha sido dessa vez que a Disney encontrou uma nova franquia.
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