sábado, 10 de março de 2012

John Carter: Entre Dois Mundos

É interessante ver diretores conhecidos do gênero da animação partirem para projetos em live-action. Existe uma certa expectativa para ver como eles se sairão na nova empreitada. Há pouco tempo, Brad Bird (que comandou O Gigante de Ferro, Os Incríveis e Ratatouille) revelou ter competência para dirigir filmes de ação no ótimo Missão Impossível: Protocolo Fantasma. Agora chegou a vez de Andrew Stanton (de Procurando Nemo e Wall-E) mostrar do que é capaz neste John Carter: Entre Dois Mundos, um filme que apesar de ter momentos interessantes, conta com um roteiro fraco e uma história muito previsível.
Escrito pelo próprio Stanton ao lado de Mark Andrews e Michael Chabon, baseado no livro de Edgar Rice Burroughs, John Carter nos apresenta ao personagem-título (Taylor Kitsch), um soldado da Guerra Civil que está à procura de uma caverna de ouro, e quando a encontra acaba sendo transportado para Marte (ou Barsoom, como é chamado ao longo do filme) por um ser misterioso. Lá, ele é feito prisioneiro pelos Tharks, habitantes liderados por Tars Tarkas (Willem Dafoe). O planeta está no meio de uma guerra entre dois reinos, Zodanga e Helium. Graças à princesa de Helium, Dejah Thoris (Lynn Collins), que está sendo obrigada a se casar com o líder de Zodanga, Sab Than (Dominic West), John Carter acaba entrando na briga.
A história do filme conta com vários clichês. Temos o vilão que quer dominar o mundo, a princesa que é obrigada a casar com ele, e o mocinho que surge na hora certa para salvar a todos. Ou seja, se olharmos por esse lado, John Carter parece uma repetição de Aladdin (para citar o único exemplo que lembrei). São elementos que já foram tão vistos nos filmes que agora estão desgastados. O roteiro em nenhum momento consegue usar esses clichês a favor da história, contribuindo para sua previsibilidade ao invés de torná-la mais interessante.
Iniciando o filme com uma narração em off que explica um pouco a situação atual de Barsoom, o roteiro já nos situa um pouco no universo da história. Infelizmente, ele também não hesita em repetir um pouco dessa explicação inicial ao longo da projeção, como quando o protagonista pergunta em certo momento “O que aconteceu aqui?”, ao que tem como resposta “Zodanga aconteceu”. Além disso, o trio de roteiristas consegue a proeza de criar diálogos como o do primeiro encontro entre John Carter e Dejah Thoris, em que ele pede para ela ficar atrás dele se protegendo. Mas ao ver que isso não é preciso, ele responde “Talvez eu devesse ficar atrás de você”, uma fala com uma certa conotação sexual que a torna pavorosa.
Algo que impressiona é ver que apesar de ter sido feito prisioneiro por criaturas altas e verdes, ganhar a habilidade de pular grandes alturas e jogar longe objetos pesadíssimos, John Carter ainda pense que está na Terra, como se essas coisas realmente tivessem alguma possibilidade de acontecer no nosso planeta. Em nenhum momento ele pensa estar sonhando, algo que seria muito mais crível. Ele só acredita que está em solo extraterrestre quando vê o sistema solar com Dejah Thoris, em uma cena que acontece quase na metade do filme. Aliás, o romance entre ele e Dejah Thoris é tratado de maneira muito infantil pelo roteiro, com direito a troca de olhares sem jeito.
Andrew Stanton tenta compensar essas falhas com as cenas de ação, e até consegue, principalmente nas batalhas que são bem executadas, em especial a maior delas que ocorre no terceiro ato. A montagem de Eric Zumbrunnen representa alguns dos momentos mais inspirados do filme. Quando John Carter enfrenta sozinho um exército de guerreiros Tharks, vemos através de belos raccords os golpes do protagonista serem intercalados com suas lembranças de um momento terrível no passado. Outro momento interessante é quando Carter é preso pelos Tharks e logo depois é visto gritando junto com vários bebês alienígenas, representando seu “nascimento” no planeta. A direção de arte e os figurinos fazem um bom trabalho de recriação de época nas cenas que se passam na Terra, ambientada no final do século XIX.
Taylor Kitsch interpreta John Carter sem muito carisma, e em alguns momentos o ator simplesmente não convence, como quando emprega um tom de voz arrastado para representar o cansaço do protagonista quando ele é preso pelo Coronel Powell (Bryan Cranston, um grande ator, mas que não tem espaço na história) no início do filme. Kitsch não consegue criar nem uma boa química com a bela Lynn Collins, que surge pouco expressiva como Dejah Thoris. Enquanto isso, Dominic West não consegue evitar que seu Sab Than vire uma vilão caricato, e Mark Strong já começa a cansar com seu typecasting. Quem se destaca mesmo no filme é Willem Dafoe e Samantha Morton, como Tars Tarkas e Sola, respectivamente. Mesmo por trás do motion capture, os dois atores conseguem transformar seus personagens em figuras interessantes.
Depois de duas grandes produções na Pixar, é um pouco decepcionante ver Andrew Stanton estrear nos filmes live-action com um filme tão mediano como John Carter. Mas esperemos que ele volte a este formato com uma obra melhor.
Cotação:

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