(O texto a seguir não contém spoilers)
Não é exatamente comum eu me sentir em dívida com algum filme ou série de TV. Mas me sinto em dívida com Ted Lasso. Ao longo dos últimos três anos, em nenhum momento eu sentei em frente ao computador para escrever um texto sobre essa série, que acompanhei de maneira fiel desde seu lançamento. Mas tendo a série chegado ao fim nessa semana, creio ser apropriado usar o momento para cobrir essa dívida.
Ted Lasso começou como uma
série engraçada sobre um técnico de futebol americano que praticamente cai de
paraquedas no AFC Richmond, um clube fictício da Premier League (como é
conhecida a primeira divisão do campeonato inglês). E seguiu sempre divertindo dentro
dessa ideia. Mas creio que fui pego de surpresa com o quanto a série se revelou
profundamente encantadora.
Com uma visão de mundo que
mistura um pouco de otimismo, ingenuidade, humildade e doçura, o
personagem-título (interpretado por Jason Sudeikis, que certamente encontrou
aqui um papel que definirá sua carreira) facilmente conquista as pessoas ao seu
redor e o espectador, sendo que tal visão de mundo não deixa de estabelecer os
principais pontos da série em si. E a partir desses pontos, vemos a história e sua
gama de personagens serem preenchidos de humanidade. Consequentemente, cada
episódio no universo de Ted Lasso se revelou uma dose saborosa de
chocolate quente, capaz de aquecer o coração e nos ajudar a escapar por alguns
minutos dos nossos próprios problemas.
Até por conta disso a série não
deixa de parecer uma utopia, algo que eu poderia ter concluído mais cedo, mas
só fui refletir sobre isso nessa terceira e última temporada. E creio que esse
é outro motivo para ela ter se mostrado tão agradável. Digo “utopia” não tanto pelo
otimismo da série e de seu protagonista, mas porque na vida real falar de saúde
mental ainda é um tabu. Digo “utopia” porque, olhando notícias recentes, o
mundo do futebol pouco faz para combater coisas como racismo e homofobia. “Utopia”
porque é comum vermos clubes serem patrocinados por marcas ou pessoas que violam
direitos humanos. “Utopia” porque a série tocou em elementos como esses como se
colocasse o dedo nas feridas, fazendo seus personagens refletirem e darem
respostas sensatas sobre tais assuntos como raramente (para não dizer nunca)
vemos na vida real, o que meio que fez o AFC Richmond ser um clube que eu
gostaria que realmente existisse.
Essa última temporada de
Ted Lasso certamente deixou a desejar em comparação com as anteriores
(principalmente a segunda temporada). Tropeçou em subtramas e personagens não
tão interessantes e mais de uma vez recorreu a resoluções fáceis. Mas apesar de
não terminar numa nota tão alta, seu fim ainda foi digno, e os sentimentos
doces que ela gerou ao longo das três temporadas são infinitamente mais fortes
do que qualquer dose amarga que tenha surgido no caminho.
E por gerar esses bons sentimentos, digo apenas... Muito obrigado, Ted Lasso. Sentirei sua falta.
Um comentário:
Wow, nice. Estou há algum tempo com essa série no meu backlog. Vou utilizar esse texto pra convencer minha parceira de eleger Ted Lasso como nossa próxima série.
Beijo, lindão!
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