Se tem algo que tecnologia vem
fazendo nos últimos tempos é desenvolver produtos que falam diretamente com a comodidade
e, por tabela, com a preguiça do ser humano. É como se qualquer coisa que faça
com que não precisemos levantar das nossas cadeiras fosse válida. É mais ou
menos a partir dessa ideia que este terror M3gan se constrói, pegando
conceitos que já vimos outras vezes quando falamos de inteligência artificial e
criando terror em cima da relação entre humanos e tecnologia.
Dirigido por Gerard Johnstone e escrito por Akela Cooper (que roteirizou o ótimo Maligno) a partir de um argumento concebido por ela e James Wan (por sua vez, o diretor de Maligno), M3gan mostra Gemma (Allison Williams) se tornando responsável por sua sobrinha Cady (Violet McGraw) depois que esta perde os pais em um acidente. Gemma trabalha como engenheira em uma empresa de brinquedos, tentando agora desenvolver o projeto de “M3gan”, uma boneca com inteligência artificial capaz de interagir com a criança com quem se conecta, suprindo quaisquer necessidades e cuidando de dores físicas ou emocionais. Com isso em mente, Gemma decide testar um protótipo do brinquedo com sua sobrinha, não imaginando que isso pode ser prejudicial e até mesmo letal.
Em sua base, M3gan lembra imediatamente
obras como Brinquedo Assassino e até a aventura Pequenos Guerreiros,
que Joe Dante dirigiu nos anos 1990. Mas por trazer um contexto mais moderno, o
que vemos aqui é um conto sobre negligência e dependência, de forma que não é
difícil colocá-lo como o filme de terror que mais cutuca alguns pais, mais
especificamente aqueles que atualmente colocam um tablet ou um celular nas
mãos dos filhos para não precisar dar atenção a eles e, consequentemente, não
se incomodarem. Claro que o filme desenvolve com a boneca do título uma
situação extrema, mas acaba sendo interessante acompanhar o brinquedo preencher
a lacuna criada por problemas comuns de sociabilidade em uma dinâmica familiar.
E Allison Williams interpreta Gemma como uma mulher que dá total atenção ao
trabalho (a clássica workaholic), a ponto de agir com indiferença em
relação a outras pessoas, não demonstrando reação nem quanto a perda da própria
irmã, de forma que a personagem depender de tecnologia para cuidar da sobrinha surge
naturalmente na história.
Voltando a conduzir um longa-metragem após quase dez anos desde sua estreia no ótimo Housebound, o diretor Gerard Johnstone não consegue fazer o filme escapar de certas previsibilidades, como a maneira que a cena inicial em um carro chega ao fim ou ao apresentar personagens que logo podemos sacar que irão sofrer nas mãos de M3gan. Aliás, as cenas violentas em sua maioria são mais sugeridas ao invés de mostradas, uma estratégia que imediatamente fez eu pensar que o longa foi suavizado para ter uma classificação indicativa menor e alcançar um público maior, algo que infelizmente acaba custando um pouco o peso narrativo desses momentos. Mas ainda assim Johnstone mostra saber usar a presença de M3gan para criar um bom nível de tensão na maior parte do tempo, mesmo quando a pequena Cady age de maneira irritantemente rebelde, sendo que o diretor também espreme naturalmente o humor que vem da própria ideia de um brinquedo psicótico, tendo vários momentos em que o espectador pode rir de nervoso por conta das aparições da boneca.
M3gan ganha pontos por saber
usar suas ideias para dialogar com questões bastante atuais no que diz respeito
a presença de tecnologia na vida das pessoas, especialmente em se tratando de crianças.
Mas é bom ver também que o filme é um terror eficiente, ainda que não reserve
grandes surpresas ou cause tanto impacto.
Nota:
2 comentários:
Eu confesso ter um certo preconceito para com esse filme e me sinto forçado a pensar - imediatamente - em Annabelle. Apesar disso, esse aspecto de reflexão mencionado me interessa. Acho que isso e a sede que eu estou por filmes de terror vão me convencer a assistir.
Parece até interessante a ideia, mas a cara da boneca faz eu não querer assistir, mto artificial lok
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