As edições de DVD’s, produzidas
por empresas como a Versátil Home Video e a Obras-Primas do Cinema, são alguns
dos itens colecionáveis que mais têm me encantado, dando atenção a filmes que são
difíceis de encontrar em mídia física no Brasil (isso quando eles não são
inéditos). Recentemente, em uma oportunidade que precisei aproveitar (amigos
colecionadores certamente conhecem essa sensação), adquiri um dos volumes da
coleção de Zumbis, da Versátil, focada em clássicos e pérolas desse subgênero de
terror. Sendo mais específico, comprei o terceiro volume, que inclui Zumbi
2: A Volta dos Mortos (1979), Cidade Maldita (1980), Sonho de
Morte (1974) e Os Zumbis de Sugar Hill (1974). E eu até poderia
ficar exaltando o belo trabalho por trás desses DVD’s, mas no momento prefiro
me concentrar na criatividade de como o conceito de zumbis é tratado.
A natureza monstruosa dos zumbis já
foi utilizada das mais diversas formas, possibilitando até mesmo metáforas sócio-políticas.
Por exemplo, é curioso ver o conceito de mortos-vivos, famintos por humanos,
ser usado para trabalhar o estresse pós-traumático de quem retorna de uma
guerra, como Bob Clark fez em Sonho de Morte. Ou então ver uma realidade
familiar em Cidade Maldita, onde Umberto Lenzi mostra um avião chegar a
uma pequena cidade, trazendo um grupo de pessoas infectadas por um vírus e que
passam a contaminar a população através de ataques que o governo, inicialmente,
tenta abafar a fim de não causar pânico. Relacionar isso ao que certos líderes ao
redor do mundo fizeram/fazem diante da atual pandemia de coronavírus foi
inevitável e, considerando que o filme é de 1980, parece tratar-se de um modus
operandi mais comum do que se imagina.
Indo para o lado do blaxploitation
(famoso movimento de filmes focados na comunidade afro-americana, com obras protagonizadas
e muitas vezes realizadas por negros), Os Zumbis de Sugar Hill faz um
resgate histórico interessante ao “zumbificar” os antigos escravos americanos,
que passam a auxiliar a protagonista em sua vingança contra os assassinos de
seu namorado, como se ela buscasse apoio em seus antepassados. E claro, às
vezes as criaturas podem apenas servir de ponto de partida para que
acompanhemos uma série de situações tensas, pontuadas por pura violência, como
o lendário Lucio Fulci fez de maneira tão fantástica em Zumbi 2, que
deve entrar em listas de grandes filmes do subgênero.
Só entre os citados temos longas
feitos em países diferentes, com histórias que nada têm a ver umas com as
outras, refletindo culturas diferentes e que contam com forças criativas
completamente distintas. E ainda temos o bônus de serem filmes eficazes em suas
respectivas propostas. Claro que o que estou dizendo aqui não deixa de ser óbvio.
Mas é sempre bom ver que um conceito relativamente simples, como o dos zumbis, já
rendeu (e ainda rende) projetos tão variados.
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