sábado, 4 de abril de 2020

A Criatividade Inesgotável dos Zumbis



As edições de DVD’s, produzidas por empresas como a Versátil Home Video e a Obras-Primas do Cinema, são alguns dos itens colecionáveis que mais têm me encantado, dando atenção a filmes que são difíceis de encontrar em mídia física no Brasil (isso quando eles não são inéditos). Recentemente, em uma oportunidade que precisei aproveitar (amigos colecionadores certamente conhecem essa sensação), adquiri um dos volumes da coleção de Zumbis, da Versátil, focada em clássicos e pérolas desse subgênero de terror. Sendo mais específico, comprei o terceiro volume, que inclui Zumbi 2: A Volta dos Mortos (1979), Cidade Maldita (1980), Sonho de Morte (1974) e Os Zumbis de Sugar Hill (1974). E eu até poderia ficar exaltando o belo trabalho por trás desses DVD’s, mas no momento prefiro me concentrar na criatividade de como o conceito de zumbis é tratado.

A natureza monstruosa dos zumbis já foi utilizada das mais diversas formas, possibilitando até mesmo metáforas sócio-políticas. Por exemplo, é curioso ver o conceito de mortos-vivos, famintos por humanos, ser usado para trabalhar o estresse pós-traumático de quem retorna de uma guerra, como Bob Clark fez em Sonho de Morte. Ou então ver uma realidade familiar em Cidade Maldita, onde Umberto Lenzi mostra um avião chegar a uma pequena cidade, trazendo um grupo de pessoas infectadas por um vírus e que passam a contaminar a população através de ataques que o governo, inicialmente, tenta abafar a fim de não causar pânico. Relacionar isso ao que certos líderes ao redor do mundo fizeram/fazem diante da atual pandemia de coronavírus foi inevitável e, considerando que o filme é de 1980, parece tratar-se de um modus operandi mais comum do que se imagina.


Indo para o lado do blaxploitation (famoso movimento de filmes focados na comunidade afro-americana, com obras protagonizadas e muitas vezes realizadas por negros), Os Zumbis de Sugar Hill faz um resgate histórico interessante ao “zumbificar” os antigos escravos americanos, que passam a auxiliar a protagonista em sua vingança contra os assassinos de seu namorado, como se ela buscasse apoio em seus antepassados. E claro, às vezes as criaturas podem apenas servir de ponto de partida para que acompanhemos uma série de situações tensas, pontuadas por pura violência, como o lendário Lucio Fulci fez de maneira tão fantástica em Zumbi 2, que deve entrar em listas de grandes filmes do subgênero.

Só entre os citados temos longas feitos em países diferentes, com histórias que nada têm a ver umas com as outras, refletindo culturas diferentes e que contam com forças criativas completamente distintas. E ainda temos o bônus de serem filmes eficazes em suas respectivas propostas. Claro que o que estou dizendo aqui não deixa de ser óbvio. Mas é sempre bom ver que um conceito relativamente simples, como o dos zumbis, já rendeu (e ainda rende) projetos tão variados.



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