Ao longo de Power Rangers, novo longa baseado na famosa série de TV da década
de 1990, me vi um tanto que dividido. De um lado estava o profissional crítico
de cinema que assistia ao filme e, ao analisá-lo, não conseguia fechar os olhos
para seus problemas. Do outro, estava a criança que cresceu acompanhando aquele
universo efusivamente e sentia prazer em revê-lo. De certa forma, ambos saíram
do cinema em conflito enquanto debatiam suas impressões com relação àquilo que
viram na telona.
Mas para que este texto possa ser
justo com a obra, acredito que as palavras a seguir terão que vir do crítico.
Escrito por John Gatins a partir
do argumento concebido por Matt Sazama e Burk Sharpless em parceria com o casal
Michele Mulroney e Kieran Mulroney, este novo Power Rangers segue o grupo formado por Jason (Dacre Montgomery),
Kimberly (Naomi Scott), Zack (Ludi Lin), Trini (Becky G.) e Billy (RJ Cyler),
jovens que encontram cinco pedras depois que este último resolve explodir parte
de uma mina. Mas além de darem poderes a eles, as pedras ainda os colocam
diante de Alpha 5 (voz de Bill Hader) e seu líder Zordon (Bryan Cranston), que
passam a treiná-los para que eles sejam os grandes protetores da Terra,
conhecidos como Power Rangers. Isso se revela mais do que necessário depois que
a maléfica Rita Repulsa (Elizabeth Banks) desperta e dá início ao seu plano de
destruir o planeta.
Trata-se basicamente da mesma
história que iniciou a série há quase 25 anos, com a diferença de que
rapidamente podemos ver que o diretor Dean Israelite (o mesmo de Projeto Almanaque, que não vi) busca criar
uma narrativa com um tom mais sério, se afastando da abordagem mais
espalhafatosa e infantil que a série tinha. Isso vem até como um reflexo do
próprio roteiro, que se esforça para desenvolver dramas pessoais para os heróis,
de forma a torna-los humanos e interessantes, exibindo no processo inspirações claras
em Clube dos Cinco. Mas o filme não se
sai tão bem nessa tarefa quanto poderia, tratando esses conflitos superficialmente
e mostrando, em alguns casos, que não está muito interessado em resolvê-los.
Para completar, o roteiro abusa dos diálogos expositivos para estabelecer a
premissa e os personagens, algo que fica óbvio na cena em que os Rangers se
reúnem envolta de uma fogueira ou no primeiro encontro deles com Zordon, além
de a trama ser desenvolvida de maneira forçada, seja por Rita convenientemente ser
encontrada assim que os heróis descobrem as pedras ou por estes, em questão de poucos
dias, irem de completos desconhecidos a amigos que dariam a vida uns pelos
outros, o que não soa muito autêntico.
Enquanto isso, as cenas de ação são
dirigidas por Dean Israelite de maneira pouco imaginativa e sem graça, com o
realizador não conseguindo injetar energia nos confrontos, que na maior parte
do tempo consistem em colocar os Rangers lutando com pilhas de pedras (é assim
que podemos definir o design dos monstrinhos de Rita). E se inicialmente o
diretor busca uma abordagem mais densa que a da série de TV, isso é jogado para
o espaço no terceiro ato, que não só inclui uma batalha que destrói parte de
uma cidade sem se importar muito com os civis (detalhe típico do material
original) como ainda conta com uma cena envolvendo câmeras de celular que parece
não notar o quão ridícula realmente é.
Já o jovem elenco de Rangers faz
o que pode com seus personagens, exibindo algum carisma e tendo uma dinâmica
até interessante, por mais que a amizade entre eles não se desenvolva com naturalidade.
E se o Alpha 5 dublado por Bill Hader causa algumas risadas, Bryan Cranston é
desperdiçado como Zordon, que aqui fica longe de ser um personagem digno do
talento do ator. Já Elizabeth Banks se diverte no papel de Rita Repulsa, compondo-a
como uma figura um tanto bizarra, mas ainda assim trata-se de uma vilã que
nunca deixa de parecer subdesenvolvida.
Somando a tudo isso referências
que devem fazer fãs da série de TV sorrirem (“É hora de morfar!”, “Faça meu
monstro crescer!”) e outras que soam totalmente deslocadas (a música-tema que
toca em determinado momento), Power
Rangers até funciona melhor que os dois filmes lançados na década de 1990. Uma
pena, porém, que ele não consiga superar seus pontos fracos, que o impedem de se
estabelecer como um entretenimento realmente eficiente.
Obs.: Há uma cena durante os
créditos finais.
Nota:
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