Depois do sucesso de A Culpa é das Estrelas, não é surpresa que
mais livros de John Green tenham se tornado prioridade no quesito adaptações
para o cinema. Cidades de Papel dá
continuidade a essa leva, em um filme que difere narrativamente de seu
antecessor e seu jeito meloso, mas que não deixa de exibir elementos semelhantes,
evidenciando uma fórmula do autor: desenvolver uma história envolvendo adolescentes
que se apaixonam por alguém que acaba sendo importante para sua formação como
indivíduos. Dentro disso, Cidades de
Papel é divertido ao contar a jornada de seus personagens.
Dirigido por Jake Schreier a
partir do roteiro de Scott Neustadter e Michael H. Weber (os mesmos de A Culpa é das Estrelas), o filme acompanha
o jovem Quentin (Nat Wolff), cuja principal preocupação é seguir o plano comum
de se formar e ir para a faculdade, evitando quaisquer outras coisas que
prejudiquem isso. Mas quando Margot (Cara Delevingne), a vizinha por quem ele é
secretamente apaixonado, pede para que ele a ajude em um plano de vingança,
Quentin tem uma das melhores noites de sua vida. O que ele não esperava é que a
garota desapareceria no dia seguinte, deixando pistas para que ele a encontre,
sendo que para isso ele tem a ajuda dos amigos Ben (Austin Abrams) e Radar
(Justice Smith).
Cidades de Papel basicamente se divide em três partes: a primeira apresentando
os personagens e focando a aventura noturna de Quentin e Margot, a segunda
explorando a investigação quanto ao paradeiro da garota, e a última assumindo a
forma de um road movie. Considerando
que a história usa Margot como a principal motivação de Quentin ao longo do
filme, o início se mostra importantíssimo ao estabelecer a relação dos dois. Apesar
de usar uma narração preguiçosamente expositiva para isso, o roteiro merece
créditos por apresentar Margot como o oposto de Quentin, ou seja, uma figura rebelde,
de espírito independente e personalidade forte, e a ótima Cara Delevingne se
revela uma grata surpresa ao encarnar o jeito da personagem com energia e
naturalidade. Assim, torna-se compreensível o encantamento do rapaz por ela, o
que é essencial para o restante do filme, quando ela fica quase sempre fora de
cena.
A partir disso, o filme se
desenrola de maneira cativante, seja pelo tom que Jake Schreier impõe à
narrativa ou pelo carisma do elenco liderado por Nat Wolff. Aliás, a dinâmica de
Quentin, Ben e Radar é apropriadamente divertida, ganhando destaque
especialmente na cena em que eles cantam uma música (que prefiro não revelar) e
quando eles pegam a estrada no terceiro ato. Aliás, ver o relacionamento do
trio reagir às prioridades de cada um na reta final do colégio é um ponto
interessante, e Schreier trata essa fase da vida dos personagens com uma
bem-vinda sensibilidade.
Mas por mais que o filme seja
eficiente em tudo isso, ele é desajeitado na forma como aborda alguns de seus temas,
como o costume das pessoas de definirem umas as outras pelo que exibem
externamente, ao invés de pelo que são. Isso resulta em belas cenas, como àquela
em que Quentin se junta a melhor amiga de Margot, Lacey (Halston Sage), em uma
banheira. Mas infelizmente é um elemento que é deixado de lado na maior parte
do tempo, ficando superficial na história. Já a ideia de que as pessoas não dão
muito valor ao que realmente importa (algo ressaltado por Margot logo no início
em uma fala que ajuda a sintetizar o filme) é desenvolvida de maneira óbvia, o
que prejudica especialmente o final, que traz uma decisão até corajosa do
roteiro ao trair positivamente o desenrolar da trama.
Não foi dessa vez que uma obra de
John Green rendeu um grande filme. Mas Cidades
de Papel ainda é um longa que conta com uma boa dose de simpatia, mesmo que
não explore novos terrenos com sua história.
Nota:
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