sexta-feira, 10 de julho de 2015

Cidades de Papel

Depois do sucesso de A Culpa é das Estrelas, não é surpresa que mais livros de John Green tenham se tornado prioridade no quesito adaptações para o cinema. Cidades de Papel dá continuidade a essa leva, em um filme que difere narrativamente de seu antecessor e seu jeito meloso, mas que não deixa de exibir elementos semelhantes, evidenciando uma fórmula do autor: desenvolver uma história envolvendo adolescentes que se apaixonam por alguém que acaba sendo importante para sua formação como indivíduos. Dentro disso, Cidades de Papel é divertido ao contar a jornada de seus personagens.

Dirigido por Jake Schreier a partir do roteiro de Scott Neustadter e Michael H. Weber (os mesmos de A Culpa é das Estrelas), o filme acompanha o jovem Quentin (Nat Wolff), cuja principal preocupação é seguir o plano comum de se formar e ir para a faculdade, evitando quaisquer outras coisas que prejudiquem isso. Mas quando Margot (Cara Delevingne), a vizinha por quem ele é secretamente apaixonado, pede para que ele a ajude em um plano de vingança, Quentin tem uma das melhores noites de sua vida. O que ele não esperava é que a garota desapareceria no dia seguinte, deixando pistas para que ele a encontre, sendo que para isso ele tem a ajuda dos amigos Ben (Austin Abrams) e Radar (Justice Smith).

Cidades de Papel basicamente se divide em três partes: a primeira apresentando os personagens e focando a aventura noturna de Quentin e Margot, a segunda explorando a investigação quanto ao paradeiro da garota, e a última assumindo a forma de um road movie. Considerando que a história usa Margot como a principal motivação de Quentin ao longo do filme, o início se mostra importantíssimo ao estabelecer a relação dos dois. Apesar de usar uma narração preguiçosamente expositiva para isso, o roteiro merece créditos por apresentar Margot como o oposto de Quentin, ou seja, uma figura rebelde, de espírito independente e personalidade forte, e a ótima Cara Delevingne se revela uma grata surpresa ao encarnar o jeito da personagem com energia e naturalidade. Assim, torna-se compreensível o encantamento do rapaz por ela, o que é essencial para o restante do filme, quando ela fica quase sempre fora de cena.

A partir disso, o filme se desenrola de maneira cativante, seja pelo tom que Jake Schreier impõe à narrativa ou pelo carisma do elenco liderado por Nat Wolff. Aliás, a dinâmica de Quentin, Ben e Radar é apropriadamente divertida, ganhando destaque especialmente na cena em que eles cantam uma música (que prefiro não revelar) e quando eles pegam a estrada no terceiro ato. Aliás, ver o relacionamento do trio reagir às prioridades de cada um na reta final do colégio é um ponto interessante, e Schreier trata essa fase da vida dos personagens com uma bem-vinda sensibilidade.

Mas por mais que o filme seja eficiente em tudo isso, ele é desajeitado na forma como aborda alguns de seus temas, como o costume das pessoas de definirem umas as outras pelo que exibem externamente, ao invés de pelo que são. Isso resulta em belas cenas, como àquela em que Quentin se junta a melhor amiga de Margot, Lacey (Halston Sage), em uma banheira. Mas infelizmente é um elemento que é deixado de lado na maior parte do tempo, ficando superficial na história. Já a ideia de que as pessoas não dão muito valor ao que realmente importa (algo ressaltado por Margot logo no início em uma fala que ajuda a sintetizar o filme) é desenvolvida de maneira óbvia, o que prejudica especialmente o final, que traz uma decisão até corajosa do roteiro ao trair positivamente o desenrolar da trama.

Não foi dessa vez que uma obra de John Green rendeu um grande filme. Mas Cidades de Papel ainda é um longa que conta com uma boa dose de simpatia, mesmo que não explore novos terrenos com sua história.

Nota:

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