George Lambert (Wyrley Birch) é um padre adorado na cidade americana
de Bridgeport, o que faz seu assassinato a sangue frio causar grande
comoção na população. Apostando nas testemunhas e nas poucas provas que
tem em mãos, a polícia liderada por Harold Robinson (Lee J. Cobb) prende
o veterano de guerra John Waldron (Arthur Kennedy), mesmo que este jure
não ter feito nada. É, então, que o promotor Henry Harvey (Dana
Andrews) mostra ser o único com dúvidas relativas à acusação e tenta
investigar a verdade, ainda que isso não seja muito bem visto pelos
habitantes da cidade, eles que querem ver alguém preso pelo crime de
qualquer maneira.
Lançado em 1947, O Justiceiro é um filme no qual o diretor Elia Kazan lida com um ótimo material, baseado em um caso real que ocorreu em Bridgeport na década de 1920. A premissa é até similar ao de uma obra-prima realizada dez anos depois: 12 Homens e uma Sentença. No entanto, ao longo do filme, em especial na primeira metade, Kazan enfrenta certos obstáculos que o atrapalham na hora de tornar a trama interessante, o que se deve a alguns problemas do roteiro escrito por Richard Murphy.
Quando focado apenas na história e nos personagens, Elia Kazan consegue criar uma narrativa instigante. Desde o início fica claro que John Waldron não é culpado, detalhe que aguça nossa curiosidade para saber o que acontecerá com ele no fim das contas. Não à toa o filme é mais envolvente em sua segunda metade, quando Henry Harvey admite a possibilidade da inocência de Waldron. O roteiro de Murphy merece créditos por desenvolver bem os esforços do promotor para provar sua teoria diante do tribunal. Ao mesmo tempo, é bacana notar como é explorada a vontade do ser humano de fazer justiça com as próprias mãos (a cena em que os habitantes tentam pegar o acusado quando ele é escoltado pela polícia vem em mente), assim como a grande pressão em volta de todos os envolvidos no caso.
Mas, se por um lado o roteiro tem essas qualidades, por outro sua estrutura às vezes se revela episódica, trazendo cenas sem ligações muito orgânicas, que passam a sensação de desenvolvimento corriqueiro. Além disso, Murphy usa uma péssima narração em off para explicar ao espectador eventos importantes, mas que por algum motivo não são mostrados no filme. Dessa forma, a história fica simplificada demais, a ponto de tornar a narrativa um tanto superficial. Para completar, a subtrama envolvendo Paul Harris (Ed Begley) e seu interesse particular na condenação de Waldron é apresentada displicentemente, não tendo o peso que poderia ter.
Em meio a isso, Dana Andrews traz força e determinação para Henry Harvey, fazendo do personagem uma figura íntegra e que segue seus princípios (“O dever de quem ocupa o cargo de promotor não é obter condenações, mas obter justiça”) apesar das dificuldades do trabalho. Já Arthur Kennedy é hábil ao fazer de John Waldron um homem vulnerável diante da situação em que se encontra. E Lee J. Cobb e Ed Begley como Harold Robinson e Paul Harris, respectivamente, enriquecem o filme com suas presenças magnéticas.
O Justiceiro é um trabalho menor de Elia Kazan. Uma produção que, mesmo tendo rendido algo satisfatório, certamente poderia ter resultado melhor do que se vê na tela. Até por isso, não chega a ser uma surpresa que o filme não seja tão lembrado quanto os outros que o diretor viria a realizar em sua frutífera carreira.
Nota:
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