quinta-feira, 9 de maio de 2013
Em Transe
Uma qualidade interessante de Danny Boyle é o fato de ele ser bastante versátil, conseguindo adequar seu estilo de direção aos mais diversos gêneros. O cineasta já foi do thriller (Cova Rasa) a ficção científica (Sunshine: Alerta Solar), passando por terror (Extermínio), aventura (A Praia), comédias de humor negro (Trainspotting, Por Uma Vida Menos Ordinária), e dramas (Quem Quer Ser Um Milionário?, 127 Horas). Claro que nem sempre o resultado foi realmente satisfatório, mas ainda assim é uma habilidade notável do diretor. Neste Em Transe, Boyle retorna ao campo dos thrillers, com um roteiro que envolve um grande quebra-cabeça que tem como um de seus principais elementos a técnica da hipnose.
Escrito por Joe Ahearne e John Hodge (frequente colaborador de Boyle, sendo o responsável pelos roteiros de Cova Rasa, Trainspotting, Por Uma Vida Menos Ordinária e A Praia), Em Transe nos apresenta a Simon Newton (James McAvoy), um leiloeiro que ajuda o grupo liderado por Franck (Vincent Cassel) no roubo de um quadro valioso que está sendo vendido no lugar onde trabalha. Mas para o desgosto de Franck, Simon esquece onde escondeu a peça. Para resolver o problema, eles contatam a hipnoterapeuta Elizabeth (Rosario Dawson), que com suas técnicas pode ajudar Simon a lembrar do que exatamente aconteceu no dia do roubo e onde o quadro foi parar.
A busca pela peça é apenas o início de uma trama repleta de reviravoltas. Os personagens ainda por cima parecem não poder confiar um no outro em momento algum, e à medida que o roteiro os desenvolve eles mostram ser figuras absolutamente imprevisíveis. Além disso, no decorrer do filme, Ahearne e Hodge não param de largar pequenas pistas que virão a ser importantes mais tarde, se encaixando ao longo da narrativa sempre de um jeito surpreendente. Na verdade, surpreender é uma coisa que Em Transe faz muito durante a projeção.
Conduzindo tudo com eficiência (apesar de às vezes parecer mais preocupado com o visual do filme e a composição de seus quadros do que com qualquer outra coisa), Danny Boyle frequentemente se vê tendo que seguir várias linhas narrativas, sejam elas na vida real ou quando os personagens estão em transe, conseguindo transitar entre elas ao mesmo tempo em que mantém o espectador sempre envolvido na história. Nesse sentido, também é difícil não admirar o belíssimo trabalho de montagem de Jon Harris, que incluindo diversos raccords ao longo do filme organiza todo o quebra-cabeça criado pelo roteiro de maneira muito natural e deixando tudo claro para o público, e o melhor é que Harris faz isso sem nunca comprometer o ritmo por vezes frenético da narrativa (que se deve em boa parte a ótima trilha composta por Rick Smith). Aliás, essa forma como Em Transe é estruturado faz com que o espectador constantemente questione se o que está vendo na tela realmente está acontecendo ou se é apenas fruto da cabeça dos personagens, algo que por sorte só ajuda o filme a prender ainda mais a atenção.
Um dos aspectos mais interessantes de Em Transe é o modo como a hipnose é utilizada na história, já que isso rende momentos inspirados. Exemplo disso é a cena em que Elizabeth conduz Simon por uma sala repleta de quadros, preparando-o para entrar em uma espécie de cabine secreta onde estará a memória que ele precisa (e é curioso ver o design de produção colocar essa cabine em um canto da sala, dando a entender que Simon está mesmo visitando um lugar escondido de sua mente). Vale dizer também que a própria mente humana chega a virar um empecilho em meio ao objetivo dos personagens, o que o roteiro consegue incluir de forma muito orgânica e inteligente na trama.
Enquanto isso, o trio principal entrega belas atuações, a começar pelo talentoso James McAvoy, que surge carismático como de costume e fazendo o público simpatizar quase imediatamente com Simon, que ainda ganha alguns toques de instabilidade que mais tarde revelam ser importantíssimos devido sua natureza. Já Vincent Cassel, apesar de surgir como um vilão ameaçador, aos poucos faz de Franck uma figura que pode ser tão frágil quanto os outros personagens. E Rosario Dawson encarna a misteriosa Elizabeth como uma mulher forte e inteligente, surgindo praticamente como uma grande femme fatale no meio da história.
Com toda sua ambição, Em Transe acaba sendo bastante instigante durante seus 100 minutos de duração, representando mais um belo trabalho na carreira de Danny Boyle.
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