sábado, 18 de fevereiro de 2012

Tão Forte e Tão Perto

Antes de embarcar em Tão Forte e Tão Perto, o diretor Stephen Daldry já havia feito três longas-metragens: Billy Elliot, As Horas e O Leitor. Ele foi indicado ao Oscar de Melhor Direção pelos três filmes, sendo que os dois últimos foram também indicados a Melhor Filme. Esse ano, Daldry ficou de fora da categoria de direção, mas Tão Forte e Tão Perto conseguiu ser lembrado em Melhor Filme, sendo a grande surpresa na lista de indicados, o que prova que a Academia deve adorar tanto o diretor que é capaz até de deixar filmes sensacionais de fora apenas para dar lugar a um filme dele, mesmo que a obra não seja digna de tal lembrança.
Escrito por Eric Roth (o mesmo roteirista de Forrest Gump e O Curioso Caso de Benjamin Button), baseado no livro de Jonathan Safran Foer, Tão Longe e Tão Perto acompanha o jovem Oskar Schell (Thomas Horn), que aos nove anos de idade perde o pai, Thomas (Tom Hanks) nos ataques de 11 de setembro. Um dia, enquanto olha os objetos no armário de seu pai, Oskar encontra uma chave em um envelope no qual está escrito a palavra “Black” (um nome, como ele conclui imediatamente). Esperando que seja uma pista para uma mensagem, o garoto começa a procurar incansavelmente a fechadura que poderá representar o último suspiro de seu pai.
Logo no início Tão Forte e Tão Perto mostra um de seus elementos mais frágeis: a narração em off de Oskar. Em alguns momentos ela é necessária para entendermos como a cabeça do garoto funciona, como quando ele organiza toda a lista de pessoas de nome Black para facilitar a procura. Por outro lado, a narração vira algo desnecessário quando Oskar explica coisas absolutamente óbvias (“Se havia uma chave, então havia uma fechadura. Se havia um nome, então havia uma pessoa”), como se o público que está assistindo ao filme não estivesse entendendo o que está acontecendo.
O filme apresenta Oskar quase como um autista. Com uma fala rápida, um jeito antissocial e sem noção quanto aos sentimentos das pessoas a sua volta, o garoto se torna uma figura difícil de simpatizar em alguns momentos. Há uma cena, por exemplo, em que ele simplesmente diz que gostaria que sua mãe, Linda (Sandra Bullock, em boa atuação), tivesse morrido no lugar de seu pai, logo quando ela quer ajuda-lo a passar por este triste período de suas vidas. Além disso, o roteiro insiste em fazer o garoto explicar coisas absolutamente desnecessárias como “Quando meu pai ligou pela quinta vez, eu estava dobrando a esquina. Sei disso porque contei os passos”. Se Oskar não vira uma figura totalmente irritante, isso se deve por ele ser interpretado com certa eficiência pelo estreante Thomas Horn, que consegue passar muito bem a dor e a tristeza que o garoto sente pela morte do pai. Aliás, a química entre ele e o carismático Tom Hanks é um dos pontos altos do filme.
Horn ainda forma uma dupla interessante com Max von Sydow, que interpreta o inquilino do quarto de sua avó. Sem falar uma única palavra durante todo o filme, o ator consegue nos fazer simpatizar com seu personagem pelo fato de ele querer ajudar o protagonista e o faz enfrentar alguns de seus medos, como andar de transporte público, algo que Oskar não faz por medo de um ataque terrorista. Na cena em que o inquilino escuta as mensagens deixadas pelo pai de Oskar na secretária eletrônica, von Sydow prova que sua indicação ao Oscar não foi algo por acaso, já que nesse momento ele mostra através de suas expressões e de seus gestos o desespero do personagem, que não quer mais ouvir aquilo. Uma pena, no entanto, que o personagem seja quase esquecido em determinado momento da projeção.
O roteiro de Roth tem partes um tanto que episódicas, já que ao longo de sua “missão”, Oskar passa algum tempo com cada Black que encontra. Isso não se torna algo muito interessante porque quase nenhum Black ganha espaço para que nós saibamos um pouco de suas histórias, sendo as únicas exceções o casal Abby e William Black (interpretados por Viola Davis e Jeffrey Wright, respectivamente). Aliás, o fato de Oskar concluir rapidamente que “Black” é um nome soa um pouco estranho, já que poderia ser também a cor de alguma coisa.
Stephen Daldry mantém ao longo do filme um clima de melancolia, graças a boa trilha sonora de Alexadre Desplat, ao mesmo tempo que dá um caráter aventureiro para a missão de Oskar, algo evidente pela quantidade de cortes rápidos que o diretor utiliza nas sequências em que o personagem se encontra com todos os Blacks. Mas o diretor falha com relação aos flashbacks, que aparecem sem a menor naturalidade e mostram ser flashbacks só depois de algum tempo.
Tão Forte e Tão Perto não é um filme ruim, mas a Academia cometeu uma grande injustiça ao indica-lo em sua categoria principal esquecendo longas claramente superiores como Tudo Pelo Poder, Millennium: Os Homens Que Não Amavam as Mulheres e O Espião Que Sabia Demais. Mas injustiça é algo que não falta no Oscar.
Cotação:

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