Apresentando personagens
absolutamente adoráveis em uma história que divertia, emocionava e empolgava em
medidas iguais, Como Treinar o Seu Dragão é uma das melhores animações
realizadas pela Dreamworks. É então que o estúdio faz aquilo que sempre acontece
com filmes bem sucedidos: produz uma continuação para firmar uma franquia. Mas diferente
de sequências que parecem não se preocupar muito em desenvolver algo interessante,
achando que nosso apego pelos personagens será o suficiente para entreter (alô,
Rio 2!), Como Treinar o Seu Dragão 2 mostra realmente ter outra boa história
para contar envolvendo Soluço e Banguela, conseguindo ser uma agradável surpresa.
Escrito e dirigido por Dean
DeBlois (que dessa vez assume sozinho as rédeas da trama, já que seu parceiro
Chris Sanders preferiu se dedicar ao ótimo Os Croods), Como Treinar o Seu
Dragão 2 se passa cinco anos após os eventos no filme anterior, com a harmonia
entre humanos e dragões crescendo a cada dia. Nesse contexto, Soluço explora novos
territórios ao lado de Banguela enquanto precisa lidar com a vontade de seu
pai, Stoico, de vê-lo tomar seu lugar como chefe na ilha de Berk. No entanto, o
rapaz descobre que nem todos os humanos veem os dragões como seres dóceis,
encontrando um grupo de caçadores que tenta capturar os bichos a mando de
Drago, um velho conhecido de Stoico que quer domar todos eles. Enquanto tenta descobrir
uma forma de manter a paz, Soluço encontra ajuda em uma misteriosa domadora,
que revela ser Valka, a mãe que ele achava ter perdido ainda bebê e que passou
todos os anos longe da família salvando os dragões das mãos de Drago.
Ao longo da história, Como
Treinar o seu Dragão 2 busca expandir o que havíamos conhecido no filme
anterior, o que é comum em boa parte das continuações. Nisso, o design de
produção volta a fazer um trabalho impecável na concepção dos vários tipos de
dragões, além de mostrar a grandiosidade daquele universo com novos e belos
cenários, cujo visual ora tende para tons mais escuros, como o céu nublado por
onde Soluço e Banguela passam, ora para algo colorido e cheio de vida, como o
ninho onde Valka reside com seus dragões e que conta com detalhes em gelo que remetem
a criatura que domina o local. Aliás, o fato de os créditos finais trazerem o
nome do excepcional diretor de fotografia Roger Deakins como consultor visual mostra
o quanto os envolvidos no filme se preocuparam com esse aspecto.
Já que mencionei Valka, vale
ressaltar que o retorno dela a sua antiga realidade, que se inicia quando ela
reencontra Soluço, é tratado com uma sensibilidade admirável por Dean DeBlois,
que acerta ao desenvolver o relacionamento entre ela e o filho com calma ao
invés de inserir um conflito bobo (e é bom ver que ela é uma mulher forte, não
temendo os obstáculos que precisa enfrentar para salvar os animais que tanto
aprendeu a amar). Na verdade, a relação familiar entre os personagens é um dos
pontos altos da produção, sendo curioso notar que por mais que Soluço não
queira ser o novo chefe de seu povo, ele discute com seu pai com o espírito de
um líder, demonstrando uma segurança que aponta o quanto ele amadureceu desde o
filme anterior.
Tal amadurecimento também pode
ser visto na própria trama, que em determinados pontos é mais sombria do aquela
vista no primeiro filme, que já tinha alguns pontos corajosos para uma animação
voltada para o público infantil. Porém, se antes havíamos ficado surpresos em
ver Soluço perdendo um pé, dessa vez Dean DeBlois se arrisca um pouco mais e
traz momentos particularmente impactantes, que resultam a partir dos atos do vilão,
cujos motivos são muito bem estabelecidos. Por sinal, Drago se revela um belo contraponto
a Soluço, considerando que enquanto ele doma as criaturas através do medo, o
protagonista o faz através do carinho que eles merecem.
Não que o filme tenha esses tons
sombrios o tempo todo. Muito pelo contrário. Como Treinar o Seu Dragão 2 consegue
entreter com seus ótimos personagens, ainda que às vezes invista em coisas
pouco interessantes, como a subtrama romântica envolvendo Cabeçaquente, amiga
de Soluço, e Eret, capanga de Drago. Mesmo assim, se em um momento o filme diverte,
por exemplo, com a corrida de dragões (uma espécie de quadribol viking), em
outro fascina com as cenas em que Soluço voa ao lado de Banguela. Para
completar, Dean DeBlois conduz eficientemente as sequências de batalha que
aparecem ocasionalmente, sendo que a excelente trilha de John Powell dá toques épicos
bastante apropriados.
Contando com alguns elementos um
tanto previsíveis nos arcos dramáticos de determinados personagens, mas que apesar
disso são capazes de encantar e emocionar pela forma como o roteiro chega até
eles, Como Treinar o Seu Dragão 2 consegue ser tão bom quanto seu antecessor. Dessa
forma, o filme acaba entrando fácil na lista de animações de destaque do ano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário