quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Os Melhores e os Piores Filmes de 2015


Fazer listas como esta de melhores e piores filmes do ano é uma tarefa um tanto árdua. É como organizar todo um ano de Cinema, algo que complica um pouco mais quando a safra de filmes se revela tão interessante como foi em 2015. Mas vamos lá seguir a tradição e tentar fazer isso novamente.

Lembrando que só foram considerados filmes lançados comercialmente nos cinemas brasileiros, um filtro que estou pensando em modificar para 2016. Mas enquanto isso não acontece...

Os dez piores filmes lançados nos cinemas em 2015:


10) Hotel Transilvânia 2 (Hotel Transylvania 2), de Genndy Tartakovsky

Por pior que seja o primeiro Hotel Transilvânia (e é um filme realmente fraco), de vez em quando ele até se mostrava capaz de causar alguns sorrisos. O mesmo não pode ser dito sobre esta continuação, que é um desastre absoluto. Assim como o original, Hotel Transilvânia 2 busca divertir com as figuras icônicas de Drácula, Frankenstein, a Múmia, Lobisomem e o Homem Invisível, mas o máximo que consegue fazer é envergonhá-los, sendo uma animação realizada quase de maneira descerebrada, forçando piadas que não funcionam e que ajudam a formar uma narrativa que, eventualmente, tira o espectador do sério. Por seu diretor ser Genndy Tartakovski (responsável por animações como O Laboratório de Dexter e Samurai Jack, que marcaram a infância de muitos que nasceram na década de 1990), o filme se revela ainda mais decepcionante por não mostrar sinais do talento do animador.


9) Atividade Paranormal: Dimensão Fantasma (Paranormal Activity: The Ghost Dimension), de Gregory Plotkin

Os filmes da série Atividade Paranormal custam tão pouco para serem feitos que logo ao estrearem já são capazes de dar algum lucro de bilheteria a seus realizadores. Só isso explica o fato de ela se manter ativa mesmo caindo de qualidade a cada novo exemplar. Em Atividade Paranormal 4 a franquia já havia chegado ao fundo do poço, e esta continuação, Dimensão Fantasma, em nada muda esse status. Tendo como grande novidade o 3D (porque isso faz muito sentido no formato de found footage), o filme mostra pela primeira vez o inconveniente demônio Toby e, claro, usa ele novamente para assombrar personagens desinteressantes e nos dar os sustos típicos da série. O problema é que a fórmula desses longas já cansou e nada aqui consegue ser inquietante, enquanto que o roteiro busca preencher lacunas inexistentes na história, apenas como desculpa para sua própria existência. A verdade é que ao final do filme fica a esperança de que este seja mesmo o último capítulo da franquia, como foi declarado pelos produtores. Ela já deu o que tinha que dar.


8) Belas e Perseguidas (Hot Pursuit), de Anne Fletcher

De um lado, Reese Witherspoon, atriz talentosa que voltou a se destacar recentemente e faturou sua segunda indicação ao Oscar no início do ano, por seu excelente trabalho em Livre. Do outro, Sofia Vergara, que apesar de não ter grandes papeis no cinema, funciona maravilhosamente na série Modern Family. Considerando a dupla de protagonistas, Belas e Perseguidas talvez pudesse ser minimamente interessante e divertido, mas é lamentável que elas sejam tão mal utilizadas em uma comédia de humor retardado. As piadas que sustentam o filme são tão irritantes quanto as próprias personagens, algo que encontra reflexo na direção displicente e sem qualquer timing cômico de Anne Fletcher, que nem tenta disfarçar os clichês que organizam o desenvolvimento previsível da história, deixando clara a preguiça de seus roteiristas. Os próprios erros de gravação que passam durante os créditos finais tratam de mostrar que todos ali sabem a porcaria que estão fazendo.


7) Exorcistas do Vaticano (The Vatican Tapes), de Mark Neveldine

Primeiro filme em que Mark Neveldine é creditado sem seu parceiro habitual Brian Taylor, Exorcistas do Vaticano prova que se com a dupla os filmes já não eram grandes coisas, com apenas um deles as coisas conseguem ser piores. Como o próprio título indica, o longa é um terror envolvendo possessões demoníacas e exorcismos. O problema é que ele não se esforça nenhum pouco para ser diferente de outros exemplares do tipo, de forma que é inevitável sentir que já vimos o filme antes. E além de genérico, ele ainda é ineficiente na construção da tensão, inserindo uma série de sustos baratos e previsíveis, sem falar do fato de a história ser movida por personagens subdesenvolvidos, para os quais não damos a mínima durante a projeção e que desperdiçam atores interessantes, em especial Michael Peña, completamente perdido como o Padre Lozano.


6) Minions, de Pierre Coffin e Kyle Balda

Os Minions são criaturas engraçadinhas em conceito e visual, mas suas participações pouco cativavam nos dois Meu Malvado Favorito, onde apareciam protagonizando gags bobas e que não contribuíam para tornar aqueles filmes mais suportáveis. E se no modo conta-gotas eles mal funcionavam, o que dizer quando eles ganham seu próprio longa-metragem? Minions expande para 90 minutos as bobagens que os personagens costumavam fazer, apostando em gags que subestimam o público e em momentos que conseguem ser apenas constrangedores (ainda não esqueci a dança dos guardas pelados). Por ser uma prequel, o filme por natureza já deveria buscar ser mais criativo, já que sabemos de antemão o que deve acontecer ao final da trama, mas infelizmente não é o que acontece e o que sobra é um filme carente tanto de diversão quanto de inteligência. Crítica completa.


5) O Sétimo Filho (Seventh Son), de Sergey Bodrov

Representando mais uma tentativa de emplacar outra franquia baseada em livros de fantasia infanto-juvenis, O Sétimo Filho só impressiona por uma coisa: sua pobreza narrativa. O filme é basicamente uma reciclagem de elementos que já vimos em outras produções, organizando tudo em uma história óbvia do início ao fim e que é pincelada com efeitos visuais nada deslumbrantes, sendo que o diretor Sergei Bodrov, por vezes, parece mais interessado na infantilidade de jogar objetos na cara do público para aproveitar o 3D. Nem mesmo o elenco, com nomes como Jeff Bridges, Julianne Moore (em um overacting indigno de seu talento) e Alicia Vikander (um dos grandes destaques de 2015) consegue tornar a narrativa interessante para o público, já que eles têm em mãos personagens unidimensionais e muito aborrecidos. Uma pena vê-los em uma produção desse calibre.


4) O Garoto da Casa ao Lado (The Boy Next Door), de Rob Cohen

Constantemente, enquanto assistia a este O Garoto da Casa ao Lado, a palavra “pedestre” me veio à cabeça, provavelmente por ser a que melhor descreva o filme, tamanha falta de imaginação que permeia a narrativa. Com uma história de obsessão que se sustenta em clichês batidos para levar o ato de “stalkear” aos limites da psicopatia (lembrando filmes como Atração Fatal), o longa de Rob Cohen busca ser um thriller tenso, mas ao invés disso se revela uma grande besteira que chega a causar risos involuntários com suas idiotices. Enquanto isso, Jennifer Lopez tem suas curvas exploradas sempre que possível e surge em uma atuação pouco convincente, mas que ainda é digna de prêmios se comparada as de seus insuportáveis colegas de elenco, em especial Ryan Guzman como o aluno obcecado e Kristin Chenoweth como a amiga dela. É um filme que acaba funcionando mais como um teste de paciência, já que não demora muito para mostrar sua ruindade e nos fazer esperar ansiosos pelos créditos finais.


3) Cinquenta Tons de Cinza (Fifty Shades of Grey), de Sam Taylor-Johnson

A ideia por trás de Cinquenta Tons de Cinza já era um pouco assustadora considerando que o livro original de E.L. James nasceu como uma fan fiction da “saga” Crepúsculo. Mas vendo o filme, percebe-se que as coisas são ainda mais impressionantes (e não de um jeito bom). As sacadas envolvendo o romance de Anastasia Steele (Dakota Johnson) e Christian Grey (Jamie Dornan) são tão absurdas em sua misoginia que, ao longo da narrativa, é melhor rir para não chorar (o contrato feito por ele para ditar a vida de sua amada, por exemplo, é algo inacreditável). Enquanto isso, o lado puramente sexual (que polemizou tanto o filme quanto o livro) não poderia ser mais entediante quando surge na tela, até pelo fato de ser difícil criar qualquer ligação com a dupla de protagonistas. No fim, este acaba sendo o início de uma franquia cinematográfica que, provavelmente, será rapidamente esquecida após seu último exemplar, assim como ocorreu com a obra vampiresca que a inspirou. Crítica completa.


2) Super Velozes, Mega Furiosos (Superfast!), de Jason Friedberg e Aaron Seltzer

Jason Friedberg e Aaron Seltzer não sabem fazer paródias. Ninguém deve ter falado isso para eles, mas é a verdade. Seja Uma Comédia Nada Romântica, Deu a Louca em Hollywood, Super Heróis e a Liga da Injustiça ou este Super Velozes, Mega Furiosos, cada filme da dupla prova sua falta de talento de um jeito irritante, buscando sempre brincar com elementos de outras produções, mas apostando em piadas que parecem ter sido boladas por adolescentes imaturos que acham graça em qualquer coisa. Dessa vez, o alvo foi a franquia Velozes e Furiosos, que seria um prato cheio para paródia se os diretores tivessem alguma noção do estão fazendo. Como não é o caso, o filme representa outro trabalho estúpido, no qual Friedberg e Seltzer atiram piadas para todos os lados sem fazer nenhuma funcionar, consequentemente tornando a produção incrivelmente aborrecida (na verdade, se esses caras têm algum talento, este é deixar o espectador com sono). Assistir a qualquer um dos sete Velozes e Furiosos rende uma experiência bem mais divertida do que essa comédia.


1) Voo 7500 (7500), de Takashi Shimizu

Enquanto longas excepcionais como Ex Machina vão direto para as locadoras, este terror desastroso dirigido pelo mesmo cara responsável pela franquia O Grito (tanto os longas originais japoneses quanto os remakes americanos) conseguiu chegar aos nossos cinemas, ainda que esteja há tempos sem uma data de estreia nos Estados Unidos, onde deveria ter ocupado salas há dois anos caso não tivesse sido adiado. Se concentrando em um grupo de personagens estereotipados e desinteressantes, que estão em um voo de Los Angeles a Tóquio e se deparam com uma série de acontecimentos estranhos, o filme falha em seus esforços de criar uma atmosfera tensa e claustrofóbica em pleno ar (se é que podemos dizer que Takashi Shimizu se esforça), além de ser ridículo na forma como insere o sobrenatural em meio à história. Aliás, em termos de trama, o filme parece não notar a própria previsibilidade, além de terminar de um jeito um tanto abrupto, passando a impressão de que o roteiro não sabia o que fazer com que tinha em mãos no fim das contas. Voo 7500 pode ser um filme relativamente curto (menos de 80 minutos), mas que dói de tão mal realizado.

Outros 25 títulos que merecem menção desonrosa (em ordem alfabética):

Os 33 (The 33), de Patrícia Riggen
Annie, de Will Gluck
Bata Antes de Entrar (Knock Knock), de Eli Roth
Busca Implacável 3 (Taken 3), de Olivier Megaton
Cada Um na Sua Casa (Home), de Tim Johnson
Caminhos da Floresta (Into the Woods), de Rob Marshall
A Casa dos Mortos (Demonic), de Will Canon
Férias Frustradas (Vacation), de John Francis Daley e Jonathan M. Goldstein
A Forca (The Gallows), de Travis Cluff e Chris Lofing
O Franco-Atirador (The Gunman), de Pierre Moreal
Hitman: Agente 47 (Hitman: Agent 47), de Alexander Bach
Horas de Desespero (No Escape), de John Erick Dowdle
O Imperador (Outcast), de Nick Powell
Jessabelle: O Passado Nunca Morre (Jessabelle), de Kevin Greutert
Mortdecai: A Arte da Trapaça (Mortdecai), de David Koepp
Uma Noite no Museu 3: O Segredo da Tumba (Night at the Museum: Secret of the Tomb), de Shawn Levy
Os Pinguins de Madagascar (Penguins of Madagascar), de Eric Darnell e Simon J. Smith
Pixels, de Chris Columbus
Quarteto Fantástico (Fantastic Four), de Josh Trank
Renascida do Inferno (The Lazarus Effect), de David Gelb
Um Senhor Estagiário (The Intern), de Nancy Meyers
A Série Divergente: Insurgente (Insurgent), de Robert Schwentke
Sob o Mesmo Céu (Aloha), de Cameron Crowe
Terremoto: A Falha de San Andreas (San Andreas), de Brad Peyton
Victor Frankenstein, de Paul McGuigan

E agora a parte boa...

Os dez melhores filmes lançados nos cinemas em 2015:


10) Star Wars: O Despertar da Força (Star Wars: The Force Awakens), de J.J. Abrams

Marcando o retorno aos cinemas da grande franquia criada por George Lucas, Star Wars: O Despertar da Força seguiu de perto o que havia sido feito no longa original, Uma Nova Esperança. Um caminho até pouco criativo, mas seguro e que não impede este novo filme de explorar o que há de melhor em um universo tão familiar. O Despertar da Força pode ser só o começo da história que acompanharemos na nova trilogia, e os próximos capítulos deverão se aprofundar mais no que é apresentado aqui, mas o filme já se estabelece como um dos melhores da saga, representando uma experiência fantástica ao lado de personagens que adoramos (como não vibrar nas primeiras cenas de figuras como Han Solo, Chewbacca e Leia?) e de outros que, apesar de novos, já exibem imenso potencial para se tornarem icônicos. Star Wars prova que ainda tem plenas condições de render grandes histórias, e voltar a esta galáxia muito, muito distante já é algo muito aguardado. Crítica completa.


9) Cássia, de Paulo Henrique Fontenelle

Paulo Henrique Fontenelle é um documentarista cada vez mais admirável. Depois de fazer os excepcionais Loki: Arnaldo Baptista e Dossiê Jango, ele encontra um material primoroso na vida da grande Cássia Eller. Se concentrando tanto no lado artista quanto no lado humano da cantora, Fontenelle mostra que por trás da figura rebelde e intensa que tomava o palco e hipnotizava o público havia uma figura sensível e divertidamente tímida, que encantava as pessoas ao seu redor. Conseguindo compactar vários assuntos referentes a Cássia Eller ao longo do filme, passando por eles com fluidez e não permitindo que algum detalhe fique superficial, o diretor consegue fazer um retrato bastante completo da cantora ao mesmo tempo em que a homenageia, fazendo nisso sem tentar ser uma hagiografia. Em suma, é Cássia um filme que faz jus ao legado da artista fascinante que documenta na tela. Crítica completa.


8) O Ano Mais Violento (A Most Violent Year), de J.C. Chandor

Margin Call e Até o Fim já provavam que J.C. Chandor é um dos grandes nomes que surgiram nos últimos anos, e este O Ano Mais Violento reforça isso ainda mais. Aqui, o diretor-roteirista concebe uma obra instigante ao acompanhar Abel Morales (o fantástico Oscar Isaac), dono de uma empresa de combustível na Nova York de 1981 e que tenta manter sua honestidade mesmo diante da corrupção que rege os negócios de seus concorrentes. Chandor demonstra estar determinado a fazer um filme onde as coisas não se classificam de maneira simples, apresentando um universo e personagens moralmente complexos, sendo que o elenco encarna essas figuras com o talento que poderíamos esperar (Jessica Chastain e Albert Brooks são os grandes destaques ao lado de Isaac). Hábil ao criar uma narrativa inquietante a partir desses elementos e das pontuais sequências de ação (aquela em que Abel persegue um de seus caminhões roubados é magnífica), o diretor mostra estar ciente das peças que tem em mãos, conseguindo organiza-las a ponto de render um thriller criminal fabuloso.


7) Mia Madre, de Nanni Moretti

Em determinado momento de Mia Madre, o ator Barry Huggins (interpretado por John Turturro) fala para a cineasta e protagonista do filme, Marguerita (Marguerita Buy), de coisas importantes que perdeu por conta de sua dedicação ao trabalho. É uma cena que de certa forma ajuda a sintetizar o filme de Nanni Moretti, considerando que Marguerita se vê tendo que lidar não só com o longa que está dirigindo, mas também com a saúde debilitada da mãe, Ada (Giulia Lazzarini). É uma história bastante pessoal (vale lembrar que Moretti perdeu a mãe durante as filmagens de seu trabalho anterior, Habemus Papam) e que é contada de maneira leve e delicada, sendo capaz de causar bons risos em alguns momentos (especialmente quando Turturro está em cena) e também tocar o espectador diante do sentimento de perda iminente. Além disso, é muito interessante que Marguerita tente criar em seu filme uma realidade que funcione como ela preferir, algo oposto a imprevisibilidade da própria vida, o que apenas torna mais rico esse maravilhoso trabalho de Moretti.


6) Olmo e a Gaivota (Olmo & the Seagull), de Petra Costa e Lea Glob

Inicialmente, Olmo e a Gaivota parece que será “apenas” (e sejamos bem enfáticos nessas aspas) um documentário que mostrará o impacto da gravidez na vida do casal de atores Olivia Corsini e Serge Nicolai, principalmente, claro, no que diz respeito a ela, que se vê tendo que abrir mão da vida profissional para ficar de repouso e ter uma gestação tranquila, ao contrário do marido. Nisso, a diretora Petra Costa acompanha o quão solitária e até aprisionada Olivia acaba ficando, já que a gravidez é um processo que ela (como todas as mulheres) encara sozinha, ficando meio que refém de seu bebê e não podendo compartilhar sua entrega física com mais ninguém. Mas é então que Costa, pontualmente, passa a interferir nas cenas que está retratando e dirige seus personagens, dando a narrativa camadas inesperadas e fascinantes de ficção em meio a realidade dos eventos da tela, abrindo discussões complexas sobre o que é real e o que não é e fazendo ambos os aspectos se complementarem a fim de potencializar a sensibilidade do que nos é mostrado. O filme anterior da diretora, Elena, já era maravilhoso, e este aqui não fica nenhum pouco atrás.


5) Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) (Birdman or (The Unexpected Virtue of Ignorance)), de Alejandro González Iñarritu

Birdman consegue fascinar muito mais do que o plano-sequência simulado ao longo de suas quase duas horas de duração. A forma como o filme conta sua história é sim um exemplo fantástico de precisão técnica e controle de mise-en-scène por parte de Alejandro González Iñarritu e sua equipe (destaque, claro, para o diretor de fotografia Emmanuel Lubezki). Mas de nada isso adiantaria caso o filme não tivesse um conteúdo tão interessante. Enquanto desenvolve o fascinante arco dramático do protagonista Riggan Thomson (Michael Keaton, que deveria ter levado o Oscar para casa), com o qual qualquer um pode se identificar graças a seu desejo de ser reconhecido, o longa exibe belos toques metalinguísticos ao discutir o valor dado a formas de arte, como se algumas fossem menores e sem relevância só por mirarem o entretenimento ao invés de algo mais sério, uma visão que muitas pessoas infelizmente compartilham. O Oscar pode até ter decidido não consagrar a beleza de Boyhood, mas ao menos deixou suas estatuetas em boas mãos.


4) Sicario: Terra de Ninguém (Sicario), de Denis Villeneuve

Considerando as listas de 2013 e 2014, acho que colocar um filme de Denis Villeneuve entre os melhores do ano está virando um clichê de minha parte. Mas seria injusto se isso não ocorresse novamente este ano. Em Sicario, Villeneuve entra de cabeça na guerra contra as drogas, não se desviando da desumanidade que a permeia e de como isso afeta os personagens. Estes, por sua vez, se revelam bastante complexos diante dos conflitos morais que regem seu trabalho, algo que o excelente elenco encarna admiravelmente, merecendo destaque Emily Blunt como a agente idealista Kate Macer e, principalmente, Benicio Del Toro como Alejandro Gillick, certamente o personagem que fica na cabeça do público após o fim da sessão. Como se não bastasse, Villeneuve ainda é hábil ao criar uma atmosfera absurdamente tensa, concebendo uma narrativa que prende atenção do espectador ao mesmo tempo em que o afunda na cadeira. É uma obra exaustiva e impactante, representando mais um trabalho poderoso de seu talentoso diretor. Crítica completa.


3) Que Horas Ela Volta?, de Anna Muylaert

Funcionando como um retrato da pirâmide social do Brasil e das mudanças que o país tem sofrido, Que Horas Ela Volta? se estabeleceu rapidamente como um exemplar fascinante do nosso riquíssimo cinema. Apresentando a empregada doméstica Val (vivida pela fantástica Regina Casé) como uma figura que não vê problema em ser tratada como alguém inferior aos patrões (que, vale dizer, não são vilanizados pelo roteiro), o longa aproveita para apontar o quão ultrapassado é esse pensamento, ao passo que a filha de Val, Jessica (personagem da excelente Camila Márdila, uma das revelações do ano), entra no jogo para dar uma espécie de choque de atualidade, tendo uma visão igualitária e mais consciente do potencial humano, aspecto que nenhum status econômico pode medir. Uma pena que o Oscar tenha decidido ignorar novamente um de nossos representantes, mas por sorte a obra de Anna Muylaert, com sua sensibilidade e importância, não precisa de prêmios para ser inesquecível.


2) Divertida Mente (Inside Out), de Pete Docter

Depois do maravilhoso Toy Story 3, a Pixar ficou um tempo realizando produções que em nada lembravam sua imensa força criativa, mas é bom ver isso ser compensado com sobras em Divertida Mente. Ao montar uma história que se concentra em analisar o funcionamento psicológico e emocional de uma criança, o estúdio faz um de seus melhores trabalhos e que pode ser considerada a animação mais ambiciosa de sua respeitável filmografia. Com um roteiro genial, o longa exibe uma sensibilidade profundamente tocante ao acompanhar arco dramático da pequena Riley e suas adoráveis emoções, mostrando no processo como todas estas são importantes para formar aquilo que somos (destaque, claro, para a Tristeza) e concebendo uma aventura deslumbrante. Para completar, o diretor Pete Docter lidera uma equipe que concebe brilhantemente a visão de Riley e a própria mente humana, com este último aspecto sendo bastante inventivo com seu centro de comando e ilhas de personalidades, exemplos de um design de produção primoroso. Divertida Mente traz a Pixar fazendo o que faz de melhor, encantando tanto pela diversão que proporciona quanto pelas lágrimas que causa. Crítica completa.


1) Mad Max: Estrada da Fúria (Mad Max: Fury Road), de George Miller

Se alguém tivesse me falado no início do ano que o primeiro lugar dessa lista ficaria com o quarto exemplar de uma série que esteve parada nos últimos 30 anos, eu honestamente não acreditaria. Mas Mad Max: Estrada da Fúria é absolutamente espetacular. George Miller fez muito mais do que dar um novo gás a série que começou em 1979 com Mel Gibson (substituído aqui pelo excelente Tom Hardy), tendo feito um filme que deveria ser estudado por qualquer realizador que deseje fazer um longa de ação. A expressão “de tirar o fôlego” é muito utilizada para descrever certas produções, mas raramente ela pode ser levada ao pé da letra como em Estrada da Fúria, passando a impressão de que a série guardou uma energia absurda desde o terceiro exemplar e resolveu soltar isso no espectador de uma vez só.  Miller recheia uma história bastante simples com sequências de ação exemplares, numa produção ambiciosa tanto técnica quanto tematicamente, conseguindo explorar maravilhosamente a força das mulheres (a Imperatriz Furiosa interpretada por Charlize Theron foi a grande heroína de ação de 2015) e realizando uma montanha-russa empolgante em níveis impressionantes, algo que no universo insano que toma a tela é considerado um dia adorável. Crítica completa.

Outros 34 títulos que merecem menção honrosa:

Acima das Nuvens (Clouds of Sils Maria), de Olivier Assayas
O Agente da U.N.C.L.E. (The Man From U.N.C.L.E.), de Guy Ritchie
Amizade Desfeita (Unfriended), de Leo Gabriadze
Branco Sai, Preto Fica, de Adirley Queirós
Califórnia, de Marina Person
Cinderela (Cinderella), de Kenneth Branagh
A Colina Escarlate (Crimson Peak), de Guillermo del Toro
O Conto da Princesa Kaguya (Kaguyahime no Monogatari), de Isao Takahata
Corações de Ferro (Fury), de David Ayer
Corrente do Mal (It Follows), de David Robert Mitchell
Dois Dias, Uma Noite (Deux Jours, Une Nuit), de Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne
A Entrevista (The Interview), de Evan Goldberg e Seth Rogen
A Espiã Que Sabia de Menos (Spy), de Paul Feig
Eu, Você e a Garota Que Vai Morrer (Me and Earl and the Dying Girl), de Alfonso Gomez-Rejon
O Expresso do Amanhã (Snowpiercer), de Bong Joon-Ho
Força Maior (Turist), de Ruben Östlund
Foxcatcher: Uma História Que Chocou o Mundo (Foxcatcher), de Bennett Miller
Frank, de Lenny Abrahamson
Kingsman: Serviço Secreto (Kingsman: The Secret Service), de Matthew Vaughn
Kurt Cobain: Montage of Heck, de Brett Morgen
Livre (Wild), de Jean-Marc Vallée
Macbeth: Ambição e Guerra (Macbeth), de Justin Kurzel
Magic Mike XXL, de Gregory Jacobs
Missão: Impossível - Nação Secreta (Mission: Impossible - Rogue Nation), de Christopher McQuarrie
No Coração do Mar (In the Heart of the Sea), de Ron Howard
A Pele de Vênus (La Vénus à la Fourrure), de Roman Polanski
Perdido em Marte (The Martian), de Ridley Scott
Ponte dos Espiões (Bridge of Spies), de Steven Spielberg
O Presente (The Gift), de Joel Edgerton
Selma: Uma Luta Pela Igualdade (Selma), de Ava DuVernay
A Travessia (The Walk), de Robert Zemeckis
Vício Inerente (Inherent Vice), de Paul Thomas Anderson
Whiplash: Em Busca da Perfeição (Whiplash), de Damien Chazelle

Para encerrar, quero agradecer a todos por nos seguirem por aqui e, claro, desejar um Feliz Ano Novo. Ouvi dizer que 2016 vai ser legal.

Um grande abraço!

Nenhum comentário: