Fazer listas como esta de
melhores e piores filmes do ano é uma tarefa um tanto árdua. É como organizar todo um ano de Cinema, algo que
complica um pouco mais quando a safra de filmes se revela tão interessante como
foi em 2015. Mas vamos lá seguir a tradição e tentar fazer isso novamente.
Lembrando que só foram
considerados filmes lançados comercialmente nos cinemas brasileiros, um filtro
que estou pensando em modificar para 2016. Mas enquanto isso não acontece...
Os dez piores filmes lançados nos
cinemas em 2015:
10) Hotel
Transilvânia 2 (Hotel Transylvania 2), de Genndy Tartakovsky
Por pior que seja o primeiro Hotel Transilvânia (e é um filme
realmente fraco), de vez em quando ele até se mostrava capaz de causar alguns
sorrisos. O mesmo não pode ser dito sobre esta continuação, que é um desastre
absoluto. Assim como o original, Hotel
Transilvânia 2 busca divertir com as figuras icônicas de Drácula,
Frankenstein, a Múmia, Lobisomem e o Homem Invisível, mas o máximo que consegue
fazer é envergonhá-los, sendo uma animação realizada quase de maneira descerebrada,
forçando piadas que não funcionam e que ajudam a formar uma narrativa que,
eventualmente, tira o espectador do sério. Por seu diretor ser Genndy
Tartakovski (responsável por animações como O Laboratório de Dexter e Samurai
Jack, que marcaram a infância de muitos que nasceram na década de 1990), o
filme se revela ainda mais decepcionante por não mostrar sinais do talento do
animador.
9) Atividade
Paranormal: Dimensão Fantasma (Paranormal Activity: The Ghost Dimension), de
Gregory Plotkin
Os filmes da série Atividade Paranormal custam tão pouco
para serem feitos que logo ao estrearem já são capazes de dar algum lucro de
bilheteria a seus realizadores. Só isso explica o fato de ela se manter ativa
mesmo caindo de qualidade a cada novo exemplar. Em Atividade Paranormal 4 a franquia já havia chegado ao fundo do
poço, e esta continuação, Dimensão
Fantasma, em nada muda esse status. Tendo como grande novidade o 3D (porque
isso faz muito sentido no formato de found
footage), o filme mostra pela primeira vez o inconveniente demônio Toby e,
claro, usa ele novamente para assombrar personagens desinteressantes e nos dar
os sustos típicos da série. O problema é que a fórmula desses longas já cansou
e nada aqui consegue ser inquietante, enquanto que o roteiro busca preencher
lacunas inexistentes na história, apenas como desculpa para sua própria
existência. A verdade é que ao final do filme fica a esperança de que este seja
mesmo o último capítulo da franquia, como foi declarado pelos produtores. Ela
já deu o que tinha que dar.
8) Belas
e Perseguidas (Hot Pursuit), de Anne Fletcher
De um lado, Reese Witherspoon,
atriz talentosa que voltou a se destacar recentemente e faturou sua segunda
indicação ao Oscar no início do ano, por seu excelente trabalho em Livre. Do outro, Sofia Vergara, que
apesar de não ter grandes papeis no cinema, funciona maravilhosamente na série Modern Family. Considerando a dupla de
protagonistas, Belas e Perseguidas
talvez pudesse ser minimamente interessante e divertido, mas é lamentável que
elas sejam tão mal utilizadas em uma comédia de humor retardado. As piadas que
sustentam o filme são tão irritantes quanto as próprias personagens, algo que encontra
reflexo na direção displicente e sem qualquer timing cômico de Anne Fletcher, que nem tenta disfarçar os clichês
que organizam o desenvolvimento previsível da história, deixando clara a preguiça de
seus roteiristas. Os próprios erros de gravação que passam durante os créditos
finais tratam de mostrar que todos ali sabem a porcaria que estão fazendo.
7) Exorcistas
do Vaticano (The Vatican Tapes), de Mark Neveldine
Primeiro filme em que Mark
Neveldine é creditado sem seu parceiro habitual Brian Taylor, Exorcistas do Vaticano prova que se com
a dupla os filmes já não eram grandes coisas, com apenas um deles as coisas
conseguem ser piores. Como o próprio título indica, o longa é um terror
envolvendo possessões demoníacas e exorcismos. O problema é que ele não se
esforça nenhum pouco para ser diferente de outros exemplares do tipo, de forma
que é inevitável sentir que já vimos o filme antes. E além de genérico, ele
ainda é ineficiente na construção da tensão, inserindo uma série de sustos
baratos e previsíveis, sem falar do fato de a história ser movida por
personagens subdesenvolvidos, para os quais não damos a mínima durante a
projeção e que desperdiçam atores interessantes, em especial Michael Peña,
completamente perdido como o Padre Lozano.
6) Minions, de Pierre Coffin e Kyle Balda
Os Minions são criaturas
engraçadinhas em conceito e visual, mas suas participações pouco cativavam nos
dois Meu Malvado Favorito, onde
apareciam protagonizando gags bobas e
que não contribuíam para tornar aqueles filmes mais suportáveis. E se no modo
conta-gotas eles mal funcionavam, o que dizer quando eles ganham seu próprio
longa-metragem? Minions expande para
90 minutos as bobagens que os personagens costumavam fazer, apostando em gags que subestimam o público e em
momentos que conseguem ser apenas constrangedores (ainda não esqueci a dança
dos guardas pelados). Por ser uma prequel,
o filme por natureza já deveria buscar ser mais criativo, já que sabemos de
antemão o que deve acontecer ao final da trama, mas infelizmente não é o que
acontece e o que sobra é um filme carente tanto de diversão quanto de
inteligência. Crítica completa.
5) O Sétimo Filho (Seventh Son), de Sergey Bodrov
Representando mais uma tentativa
de emplacar outra franquia baseada em livros de fantasia infanto-juvenis, O Sétimo Filho só impressiona por uma
coisa: sua pobreza narrativa. O filme é basicamente uma reciclagem de elementos
que já vimos em outras produções, organizando tudo em uma história óbvia do
início ao fim e que é pincelada com efeitos visuais nada deslumbrantes, sendo
que o diretor Sergei Bodrov, por vezes, parece mais interessado na
infantilidade de jogar objetos na cara do público para aproveitar o 3D. Nem
mesmo o elenco, com nomes como Jeff Bridges, Julianne Moore (em um overacting indigno de seu talento) e
Alicia Vikander (um dos grandes destaques de 2015) consegue tornar a narrativa interessante
para o público, já que eles têm em mãos personagens unidimensionais e muito
aborrecidos. Uma pena vê-los em uma produção desse calibre.
4) O Garoto da Casa ao Lado (The Boy Next Door), de Rob Cohen
Constantemente, enquanto
assistia a este O Garoto da Casa ao Lado,
a palavra “pedestre” me veio à cabeça, provavelmente por ser a que melhor
descreva o filme, tamanha falta de imaginação que permeia a narrativa. Com uma
história de obsessão que se sustenta em clichês batidos para levar o ato de
“stalkear” aos limites da psicopatia (lembrando filmes como Atração Fatal), o longa de Rob Cohen busca
ser um thriller tenso, mas ao invés disso se revela uma grande besteira que
chega a causar risos involuntários com suas idiotices. Enquanto isso, Jennifer
Lopez tem suas curvas exploradas sempre que possível e surge em uma atuação pouco
convincente, mas que ainda é digna de prêmios se comparada as de seus
insuportáveis colegas de elenco, em especial Ryan Guzman como o aluno obcecado
e Kristin Chenoweth como a amiga dela. É um filme que acaba funcionando mais
como um teste de paciência, já que não demora muito para mostrar sua ruindade e
nos fazer esperar ansiosos pelos créditos finais.
3) Cinquenta Tons de Cinza (Fifty Shades of Grey), de Sam Taylor-Johnson
A ideia por trás de Cinquenta Tons de Cinza já era um pouco
assustadora considerando que o livro original de E.L. James nasceu como uma fan fiction da “saga” Crepúsculo. Mas
vendo o filme, percebe-se que as coisas são ainda mais impressionantes (e não
de um jeito bom). As sacadas envolvendo o romance de Anastasia Steele (Dakota
Johnson) e Christian Grey (Jamie Dornan) são tão absurdas em sua misoginia que,
ao longo da narrativa, é melhor rir para não chorar (o contrato feito por ele
para ditar a vida de sua amada, por exemplo, é algo inacreditável). Enquanto
isso, o lado puramente sexual (que polemizou tanto o filme quanto o livro) não
poderia ser mais entediante quando surge na tela, até pelo fato de ser difícil
criar qualquer ligação com a dupla de protagonistas. No fim, este acaba sendo o
início de uma franquia cinematográfica que, provavelmente, será rapidamente
esquecida após seu último exemplar, assim como ocorreu com a obra vampiresca
que a inspirou. Crítica completa.
2) Super Velozes, Mega Furiosos (Superfast!), de Jason Friedberg e Aaron Seltzer
Jason Friedberg e Aaron
Seltzer não sabem fazer paródias. Ninguém deve ter falado isso para eles, mas é
a verdade. Seja Uma Comédia Nada
Romântica, Deu a Louca em Hollywood,
Super Heróis e a Liga da Injustiça ou
este Super Velozes, Mega Furiosos, cada
filme da dupla prova sua falta de talento de um jeito irritante, buscando
sempre brincar com elementos de outras produções, mas apostando em piadas que
parecem ter sido boladas por adolescentes imaturos que acham graça em qualquer
coisa. Dessa vez, o alvo foi a franquia Velozes
e Furiosos, que seria um prato cheio para paródia se os diretores tivessem
alguma noção do estão fazendo. Como não é o caso, o filme representa outro
trabalho estúpido, no qual Friedberg e Seltzer atiram piadas para todos os
lados sem fazer nenhuma funcionar, consequentemente tornando a produção
incrivelmente aborrecida (na verdade, se esses caras têm algum talento, este é
deixar o espectador com sono). Assistir a qualquer um dos sete Velozes e Furiosos rende uma experiência
bem mais divertida do que essa comédia.
1) Voo 7500 (7500), de Takashi Shimizu
Enquanto longas excepcionais
como Ex Machina vão direto para as
locadoras, este terror desastroso dirigido pelo mesmo cara responsável pela
franquia O Grito (tanto os longas
originais japoneses quanto os remakes americanos) conseguiu chegar aos nossos
cinemas, ainda que esteja há tempos sem uma data de estreia nos Estados Unidos,
onde deveria ter ocupado salas há dois anos caso não tivesse sido adiado. Se concentrando
em um grupo de personagens estereotipados e desinteressantes, que estão em um
voo de Los Angeles a Tóquio e se deparam com uma série de acontecimentos
estranhos, o filme falha em seus esforços de criar uma atmosfera tensa e
claustrofóbica em pleno ar (se é que podemos dizer que Takashi Shimizu se
esforça), além de ser ridículo na forma como insere o sobrenatural em meio à
história. Aliás, em termos de trama, o filme parece não notar a própria
previsibilidade, além de terminar de um jeito um tanto abrupto, passando a
impressão de que o roteiro não sabia o que fazer com que tinha em mãos no fim
das contas. Voo 7500 pode ser um filme relativamente curto (menos de 80 minutos), mas que
dói de tão mal realizado.
Outros 25 títulos que merecem
menção desonrosa (em ordem alfabética):
Os 33 (The 33), de Patrícia Riggen
Annie, de Will Gluck
Bata Antes de Entrar (Knock Knock), de Eli Roth
Busca Implacável 3 (Taken 3), de Olivier Megaton
Cada Um na Sua Casa (Home), de Tim Johnson
Caminhos da Floresta (Into the Woods), de Rob Marshall
A Casa dos Mortos (Demonic), de Will Canon
Férias Frustradas (Vacation), de John Francis Daley e Jonathan M. Goldstein
A Forca (The Gallows), de Travis Cluff e Chris Lofing
O Franco-Atirador (The Gunman), de Pierre Moreal
Hitman: Agente 47 (Hitman: Agent 47), de Alexander Bach
Horas de Desespero (No Escape), de John Erick Dowdle
O Imperador (Outcast), de Nick Powell
Jessabelle: O Passado Nunca Morre (Jessabelle), de Kevin Greutert
Mortdecai: A Arte da Trapaça (Mortdecai), de David Koepp
Uma Noite no Museu 3: O Segredo da Tumba (Night at the Museum:
Secret of the Tomb), de Shawn Levy
Os Pinguins de Madagascar (Penguins of Madagascar), de Eric Darnell
e Simon J. Smith
Pixels, de Chris Columbus
Quarteto Fantástico (Fantastic Four), de Josh Trank
Renascida do Inferno (The Lazarus Effect), de David Gelb
Um Senhor Estagiário (The Intern), de Nancy Meyers
A Série Divergente: Insurgente (Insurgent), de Robert Schwentke
Sob o Mesmo Céu (Aloha), de Cameron Crowe
Terremoto: A Falha
de San Andreas
(San Andreas), de Brad Peyton
Victor Frankenstein, de Paul McGuigan
E agora a parte boa...
Os dez melhores filmes lançados nos cinemas em 2015:
10) Star Wars: O Despertar da Força (Star Wars: The Force Awakens), de J.J. Abrams
Marcando o retorno aos cinemas
da grande franquia criada por George Lucas, Star Wars: O Despertar da Força seguiu de perto o que havia sido
feito no longa original, Uma Nova
Esperança. Um caminho até pouco criativo, mas seguro e que não impede este
novo filme de explorar o que há de melhor em um universo tão familiar. O Despertar da Força pode ser só o
começo da história que acompanharemos na nova trilogia, e os próximos capítulos
deverão se aprofundar mais no que é apresentado aqui, mas o filme já se
estabelece como um dos melhores da saga, representando uma experiência fantástica
ao lado de personagens que adoramos (como não vibrar nas primeiras cenas de figuras
como Han Solo, Chewbacca e Leia?) e de outros que, apesar de novos, já exibem imenso potencial para se tornarem icônicos. Star Wars prova que ainda tem plenas condições de render grandes
histórias, e voltar a esta galáxia muito, muito distante já é algo muito
aguardado. Crítica completa.
9) Cássia, de Paulo Henrique Fontenelle
Paulo Henrique Fontenelle é um
documentarista cada vez mais admirável. Depois de fazer os excepcionais Loki: Arnaldo Baptista e Dossiê Jango, ele encontra um material
primoroso na vida da grande Cássia Eller. Se concentrando tanto no lado artista
quanto no lado humano da cantora, Fontenelle mostra que por trás da figura
rebelde e intensa que tomava o palco e hipnotizava o público havia uma figura
sensível e divertidamente tímida, que encantava as pessoas ao seu redor. Conseguindo
compactar vários assuntos referentes a Cássia Eller ao longo do filme, passando
por eles com fluidez e não permitindo que algum detalhe fique superficial, o
diretor consegue fazer um retrato bastante completo da cantora ao mesmo tempo
em que a homenageia, fazendo nisso sem tentar ser uma hagiografia. Em suma, é Cássia um filme que faz jus ao legado
da artista fascinante que documenta na tela. Crítica completa.
8) O Ano Mais Violento (A Most Violent Year), de J.C. Chandor
Margin Call e Até o Fim
já provavam que J.C. Chandor é um dos grandes nomes que surgiram nos últimos
anos, e este O Ano Mais Violento
reforça isso ainda mais. Aqui, o diretor-roteirista concebe uma obra instigante
ao acompanhar Abel Morales (o fantástico Oscar Isaac), dono de uma empresa de
combustível na Nova York de 1981 e que tenta manter sua honestidade mesmo
diante da corrupção que rege os negócios de seus concorrentes. Chandor demonstra estar determinado a fazer um filme onde as coisas não se classificam de maneira
simples, apresentando um universo e personagens moralmente complexos, sendo que
o elenco encarna essas figuras com o talento que poderíamos esperar (Jessica
Chastain e Albert Brooks são os grandes destaques ao lado de Isaac). Hábil ao
criar uma narrativa inquietante a partir desses elementos e das pontuais sequências
de ação (aquela em que Abel persegue um de seus caminhões roubados é magnífica),
o diretor mostra estar ciente das peças que tem em mãos, conseguindo
organiza-las a ponto de render um thriller criminal fabuloso.
7) Mia Madre, de Nanni Moretti
Em determinado momento de Mia Madre, o ator Barry Huggins
(interpretado por John Turturro) fala para a cineasta e protagonista do filme,
Marguerita (Marguerita Buy), de coisas importantes que perdeu por conta de sua
dedicação ao trabalho. É uma cena que de certa forma ajuda a sintetizar o filme
de Nanni Moretti, considerando que Marguerita se vê tendo que lidar não só com
o longa que está dirigindo, mas também com a saúde debilitada da mãe, Ada
(Giulia Lazzarini). É uma história bastante pessoal (vale lembrar que Moretti
perdeu a mãe durante as filmagens de seu trabalho anterior, Habemus Papam) e que é contada de
maneira leve e delicada, sendo capaz de causar bons risos em alguns momentos
(especialmente quando Turturro está em cena) e também tocar o espectador diante
do sentimento de perda iminente. Além disso, é muito interessante que
Marguerita tente criar em seu filme uma realidade que funcione como ela
preferir, algo oposto a imprevisibilidade da própria vida, o que apenas torna mais
rico esse maravilhoso trabalho de Moretti.
6) Olmo e a Gaivota (Olmo & the Seagull), de Petra Costa e Lea Glob
Inicialmente, Olmo e a Gaivota parece que será
“apenas” (e sejamos bem enfáticos nessas aspas) um documentário que mostrará o
impacto da gravidez na vida do casal de atores Olivia Corsini e Serge Nicolai,
principalmente, claro, no que diz respeito a ela, que se vê tendo que abrir mão
da vida profissional para ficar de repouso e ter uma gestação tranquila, ao
contrário do marido. Nisso, a diretora Petra Costa acompanha o quão solitária e
até aprisionada Olivia acaba ficando, já que a gravidez é um processo que ela (como
todas as mulheres) encara sozinha, ficando meio que refém de seu bebê e não
podendo compartilhar sua entrega física com mais ninguém. Mas é então que
Costa, pontualmente, passa a interferir nas cenas que está retratando e dirige seus
personagens, dando a narrativa camadas inesperadas e fascinantes de ficção em
meio a realidade dos eventos da tela, abrindo discussões complexas sobre o que
é real e o que não é e fazendo ambos os aspectos se complementarem a fim de
potencializar a sensibilidade do que nos é mostrado. O filme anterior da
diretora, Elena, já era maravilhoso,
e este aqui não fica nenhum pouco atrás.
5) Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) (Birdman or (The Unexpected Virtue of Ignorance)), de Alejandro González Iñarritu
Birdman consegue fascinar muito mais do que o plano-sequência
simulado ao longo de suas quase duas horas de duração. A forma como o filme
conta sua história é sim um exemplo fantástico de precisão técnica e controle
de mise-en-scène por parte de Alejandro González Iñarritu e sua equipe
(destaque, claro, para o diretor de fotografia Emmanuel Lubezki). Mas de nada
isso adiantaria caso o filme não tivesse um conteúdo tão interessante. Enquanto
desenvolve o fascinante arco dramático do protagonista Riggan Thomson (Michael
Keaton, que deveria ter levado o Oscar para casa), com o qual qualquer um pode
se identificar graças a seu desejo de ser reconhecido, o longa exibe belos
toques metalinguísticos ao discutir o valor dado a formas de arte, como se
algumas fossem menores e sem relevância só por mirarem o entretenimento ao
invés de algo mais sério, uma visão que muitas pessoas infelizmente
compartilham. O Oscar pode até ter decidido não consagrar a beleza de Boyhood, mas ao menos deixou suas estatuetas
em boas mãos.
4) Sicario: Terra de Ninguém (Sicario), de Denis Villeneuve
Considerando as listas de 2013
e 2014, acho que colocar um filme de Denis Villeneuve entre os melhores do ano
está virando um clichê de minha parte. Mas seria injusto se isso não ocorresse
novamente este ano. Em Sicario,
Villeneuve entra de cabeça na guerra contra as drogas, não se desviando da
desumanidade que a permeia e de como isso afeta os personagens. Estes, por sua
vez, se revelam bastante complexos diante dos conflitos morais que regem seu
trabalho, algo que o excelente elenco encarna admiravelmente, merecendo destaque
Emily Blunt como a agente idealista Kate Macer e, principalmente, Benicio Del
Toro como Alejandro Gillick, certamente o personagem que fica na cabeça do
público após o fim da sessão. Como se não bastasse, Villeneuve ainda é hábil ao
criar uma atmosfera absurdamente tensa, concebendo uma narrativa que prende
atenção do espectador ao mesmo tempo em que o afunda na cadeira. É uma obra exaustiva
e impactante, representando mais um trabalho poderoso de seu talentoso diretor. Crítica completa.
3) Que Horas Ela Volta?, de Anna Muylaert
Funcionando como um retrato da
pirâmide social do Brasil e das mudanças que o país tem sofrido, Que Horas Ela Volta? se estabeleceu
rapidamente como um exemplar fascinante do nosso riquíssimo cinema. Apresentando
a empregada doméstica Val (vivida pela fantástica Regina Casé) como uma figura
que não vê problema em ser tratada como alguém inferior aos patrões (que, vale
dizer, não são vilanizados pelo roteiro), o longa aproveita para apontar o quão
ultrapassado é esse pensamento, ao passo que a filha de Val, Jessica
(personagem da excelente Camila Márdila, uma das revelações do ano), entra no
jogo para dar uma espécie de choque de atualidade, tendo uma visão igualitária
e mais consciente do potencial humano, aspecto que nenhum status econômico pode
medir. Uma pena que o Oscar tenha decidido ignorar novamente um de nossos
representantes, mas por sorte a obra de Anna Muylaert, com sua sensibilidade e
importância, não precisa de prêmios para ser inesquecível.
2) Divertida Mente (Inside Out), de Pete Docter
Depois do maravilhoso Toy Story 3, a Pixar ficou um tempo realizando produções que em nada lembravam sua imensa força
criativa, mas é bom ver isso ser compensado com sobras em Divertida Mente. Ao montar uma história
que se concentra em analisar o funcionamento psicológico e emocional de uma
criança, o estúdio faz um de seus melhores trabalhos e que pode ser considerada a
animação mais ambiciosa de sua respeitável filmografia. Com um roteiro genial, o longa exibe uma sensibilidade profundamente tocante ao acompanhar arco
dramático da pequena Riley e suas adoráveis emoções, mostrando no processo como
todas estas são importantes para formar aquilo que somos (destaque, claro, para
a Tristeza) e concebendo uma aventura deslumbrante. Para completar, o diretor
Pete Docter lidera uma equipe que concebe brilhantemente a visão de Riley e a
própria mente humana, com este último aspecto sendo bastante inventivo com seu
centro de comando e ilhas de personalidades, exemplos de um design de produção
primoroso. Divertida Mente traz a
Pixar fazendo o que faz de melhor, encantando tanto pela diversão que
proporciona quanto pelas lágrimas que causa. Crítica completa.
1) Mad Max: Estrada da Fúria (Mad Max: Fury Road), de George Miller
Se alguém tivesse me falado no
início do ano que o primeiro lugar dessa lista ficaria com o quarto exemplar de
uma série que esteve parada nos últimos 30 anos, eu honestamente não
acreditaria. Mas Mad Max: Estrada da
Fúria é absolutamente espetacular. George Miller fez muito mais do que dar
um novo gás a série que começou em 1979 com Mel Gibson (substituído aqui pelo
excelente Tom Hardy), tendo feito um filme que deveria ser estudado por
qualquer realizador que deseje fazer um longa de ação. A expressão “de tirar o
fôlego” é muito utilizada para descrever certas produções, mas raramente ela
pode ser levada ao pé da letra como em Estrada
da Fúria, passando a impressão de que a série guardou uma energia absurda desde
o terceiro exemplar e resolveu soltar isso no espectador de uma vez só. Miller recheia uma história bastante simples com
sequências de ação exemplares, numa produção ambiciosa tanto técnica quanto
tematicamente, conseguindo explorar maravilhosamente a força das mulheres (a Imperatriz
Furiosa interpretada por Charlize Theron foi a grande heroína de ação de 2015)
e realizando uma montanha-russa empolgante em níveis impressionantes, algo que no
universo insano que toma a tela é considerado um dia adorável. Crítica completa.
Outros 34 títulos que merecem
menção honrosa:
Acima das Nuvens (Clouds of Sils Maria), de Olivier Assayas
O Agente da U.N.C.L.E. (The Man From U.N.C.L.E.), de Guy
Ritchie
Amizade Desfeita (Unfriended), de Leo Gabriadze
Branco Sai, Preto Fica, de Adirley Queirós
Califórnia, de Marina Person
Cinderela (Cinderella), de Kenneth Branagh
A Colina Escarlate (Crimson Peak), de Guillermo
del Toro
O Conto da Princesa Kaguya (Kaguyahime no Monogatari), de Isao
Takahata
Corações de Ferro (Fury), de David Ayer
Corrente do Mal (It Follows), de David Robert
Mitchell
Dois Dias, Uma Noite (Deux Jours, Une Nuit), de Jean-Pierre
Dardenne e Luc Dardenne
A Entrevista (The Interview), de Evan Goldberg e Seth Rogen
A Espiã Que Sabia de Menos (Spy), de Paul Feig
Eu, Você e a Garota Que Vai Morrer (Me and Earl and the Dying
Girl), de Alfonso Gomez-Rejon
O Expresso do Amanhã (Snowpiercer), de Bong Joon-Ho
Força Maior (Turist), de Ruben Östlund
Foxcatcher: Uma História Que Chocou o Mundo (Foxcatcher), de
Bennett Miller
Frank, de Lenny Abrahamson
Kingsman: Serviço Secreto (Kingsman:
The Secret Service), de Matthew Vaughn
Kurt Cobain: Montage
of Heck, de Brett
Morgen
Livre (Wild), de Jean-Marc Vallée
Macbeth: Ambição e Guerra (Macbeth), de Justin Kurzel
Magic Mike XXL, de Gregory Jacobs
Missão: Impossível - Nação Secreta (Mission: Impossible - Rogue
Nation), de Christopher McQuarrie
No Coração do Mar (In the Heart of the Sea), de Ron Howard
A Pele de Vênus (La Vénus à la Fourrure), de Roman
Polanski
Ponte dos Espiões (Bridge of Spies), de Steven Spielberg
O Presente (The Gift), de Joel Edgerton
Selma: Uma Luta Pela Igualdade (Selma), de Ava DuVernay
Tomorrowland: Um Lugar Onde Nada é Impossível
(Tomorrowland), de Brad Bird
A Travessia (The Walk), de Robert Zemeckis
Vício Inerente (Inherent Vice), de Paul Thomas Anderson
Whiplash: Em Busca da Perfeição (Whiplash), de Damien Chazelle
Para encerrar, quero agradecer a todos por nos seguirem por aqui e, claro, desejar um Feliz Ano Novo. Ouvi dizer que 2016 vai ser legal.
Um grande abraço!