Segue abaixo os comentários sobre mais quatro filmes conferidos nesse XVI Fantaspoa.
Butt Boy (2019), de Tyler Cornack:
Às vezes eu fico particularmente
surpreso com as ideias malucas que ganham vida no cinema, como no caso deste Butt
Boy. Aqui, Chip (vivido pelo próprio diretor Tyler Cornack) é um homem
infeliz em seu casamento e longe de ser um herói para o filho. Seu maior prazer
vem de uma habilidade incomum, que permite que ele enfie qualquer coisa em sua
bunda (qualquer coisa mesmo!). Enquanto isso, o policial Russel Fox (Tyler
Rice) começa a frequentar os Alcoólatras Anônimos, sendo apadrinhado por Chip.
Mas os caminhos dos dois se cruzam com mais força quando uma criança desaparece
na empresa onde Chip trabalha, um caso que cai nas mãos de Russel, que nem
imagina a forma como seu parceiro pode estar envolvido na história.
A habilidade de Chip, obviamente,
não poderia ser mais absurda. E isso nem chega a ser um problema do filme,
sendo apenas algo que aceitamos dentro daquele universo. No entanto, Butt
Boy se leva a sério demais para um longa que tem um elemento tão
naturalmente risível no centro de sua história, de forma que mesmo algumas
tentativas de humor soam um tanto deslocadas. É como se houvesse dois tons
narrativos completamente distintos tentando formar uma narrativa coesa,
alcançado resultados irregulares. Mas é um filme que certamente é difícil de
esquecer, ainda que isso ocorra mais por se tratar de uma produção que não se
vê todo dia do que propriamente por render uma experiência marcante.
Ghost Master (Gôsuto Masutâ, 2019), de Paul Young:
A exemplo de um dos meus
favoritos deste Fantaspoa (o indiano RK/R Kay), Ghost Master
é mais um longa do festival com uma história que envolve metalinguagem, mas
infelizmente essa produção japonesa não se revela muito rica. No filme, o jovem
Akira Kurosawa (Takahiro Miura) é um assistente de direção que faz parte da
equipe de filmagens da adaptação de um mangá, algo que está saindo do controle.
Akira, porém, tem o sonho de dirigir seu próprio filme, “Ghost Master”, cujo
roteiro ganha vida de forma demoníaca e passa a causar terror e violência entre
toda a equipe.
Além de a metalinguagem de Ghost
Master ser desenvolvida de maneira óbvia, com o filme quase gritando para o
espectador o que está fazendo na tela, as homenagens que o diretor Paul Young
insere pontualmente a alguns cineastas clássicos se revelam muito pouco inspiradas.
O filme, porém, merece alguns créditos pelos efeitos práticos nas cenas de violência,
ainda que este aspecto não chegue a fazer com que a narrativa se torne mais
instigante. Para completar, Ghost Master estica sua trama além do
necessário, o que só aponta que ele não tem tanto a oferecer.
O Velhaco: O Filme (Vanamehe Film, 2019), de Oskar Lehemann e Mikk Mägi:
Animação estoniana feita em stop
motion, O Velhaco: O Filme mostra um universo onde as pessoas tratam
leite como uma espécie de dádiva, o que faz os fazendeiros que ordenham suas
vacas bastante populares. Nesse contexto, conhecemos o Velhaco que dá título ao
filme, fazendeiro que recebe seus três netos para passar o verão com ele. Mas
quando sua valiosa vaca resolve fugir, o Velhaco e as crianças logo partem à
procura dela, já que o animal irá explodir se ficar 24 horas sem ser ordenhado,
causando um Lactocalipse.
Trata-se de um filme que parece
fazer questão de ser uma bobagem, sendo que os diretores Oskar Lehemann e Mikk
Mägi fazem isso funcionar a favor da narrativa durante boa parte do tempo,
divertindo ao longo da jornada dos personagens. Há momentos que o longa até
parece que não irá se resumir só a isso, como ao trazer o neto do Velhaco
fazendo um discurso a favor dos animais, mostrando tanto quem ordenha a vaca
quanto quem quer abatê-la como figuras que estão erradas na história, mas isso
nunca é muito bem desenvolvido pelo roteiro. Mas apesar de divertir, O
Velhaco: O Filme desaponta um pouco em seu clímax, cujas soluções para a
trama não chegam a ser engraçadas como o caminho que nos trouxe até ali.
H0us3 (2018), de Manolo Munguia:
Enquanto eu assistia a este H0us3,
foi difícil não lembrar do italiano Perfeitos Desconhecidos, já que
ambos os longas mostram amigos de longa data se reunindo e tendo suas vidas impactadas
pelo uso de tecnologias. Claro que, no fim, tratam-se de filmes bem diferentes,
mas a dinâmica é parecida, com a diferença que H0us3 não chega nem perto
de ter a mesma riqueza narrativa. A história mostra um grupo de amigos que se
reúne em uma casa para passar o fim de semana. Todos lidam em maior ou menor
grau com computadores, o que gera grande tensão quando um deles diz ter decriptado
um arquivo ultrassecreto do governo.
O conceito que H0us3 traz
em meio a sua trama (e que não comentarei em detalhes a fim de evitar possíveis
spoilers) não deixa de ser intrigante, mas é uma pena que o filme desenvolva
subestimando a inteligência do espectador. Mais de uma vez o longa coloca os
personagens exibindo um prazer irritante ao explicarem certas teorias e
paradoxos, como se isso fizesse o roteiro soar inteligente, ao passo que
algumas paranoias que surgem pontualmente não poderiam ser mais risíveis. A
impressão é que o diretor Manolo Munguia concebeu uma obra que acredita ser
muita mais inteligente do que realmente é.
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