sábado, 25 de julho de 2020

XVI Fantaspoa - 1ª Parte

Seja por questões pessoais ou financeiras, ir a vários festivais de cinema infelizmente ainda não é um hábito que consegui cultivar ao longo desses anos como cinéfilo e crítico. No entanto, se eu tivesse cultivado isso, o Fantaspoa certamente ainda seria um dos festivais que eu mais teria prazer de frequentar. Não só pela seleção de filmes, mas também pela atmosfera bacana das sessões e das atrações que ocorrem ao longo dos dias de festival. Estamos falando de um evento que, dentre tantas coisas, trouxe o mestre Roger Corman a Porto Alegre, possibilitando que várias pessoas assistissem a uma Masterclass ministrada por ele. E desde então há rumores de que nunca mais lavei a mão que usei para cumprimentar o lendário cineasta (mas são apenas rumores).

Depois de uma bem sucedida campanha de financiamento coletivo, o Fantaspoa chega agora a sua 16ª edição, que está sendo lançada para o público de maneira online e gratuita através da plataforma de streaming Darkflix. Afinal, a pandemia do novo coronavírus mudou os planos do mundo inteiro, impedindo que o festival ocorresse presencialmente.

Tendo em vista a acessibilidade que o festival terá esse ano, pensei em tentar fazer algo um pouco maior do que fiz em outras edições, quando vi e comentei poucos filmes. Sendo assim, me esforçarei para ver o maior número possível de longas e comentá-los aqui no Linguagem Cinéfila. Espero me sair bem nesse pequeno compromisso e que vocês gostem.

O XVI Fantaspoa começou ontem, dia 24, e irá até o dia 02 de agosto. Abaixo estão os comentários sobre os três primeiros filmes que conferi: Uma Breve História da Viagem no Tempo, Pornô e O Bando.

Uma Breve História da Viagem no Tempo (A Brief History of Time Travel, 2018), de Gisella Bustillos:

O título já define exatamente o que é esse documentário. Com pouco mais de uma hora de duração, Uma Breve História da Viagem no Tempo discute com propriedade o conceito que tanto já vimos em obras de ficção científica. Trazendo entrevistas com físicos, líderes religiosos e autores que colocam (ou já colocaram) a viagem no tempo no centro de seus trabalhos, o filme de Gisella Bustillos mostra como essa ideia não só estimula a imaginação (temos uma série de produções literárias e audiovisuais resultantes disso), mas também desafia a inteligência de pessoas que acreditam que ela é possível.

Assim, é interessante notar o entusiasmo de muitos ao discutirem diversas teorias científicas, comentando pontos que talvez possam viabilizar a viagem no tempo em algum momento, sendo que eles também não esquecem de discutir motivos para a realização de uma viagem e suas possíveis consequências. Por enquanto, tudo isso não passa de ideias em um papel, mas se algum dia a viagem no tempo ocorrer espero que tenhamos aprendido algo com obras como De Volta Para o Futuro, A Máquina do Tempo e Um Século em 43 Minutos.

Pornô (Porno, 2019), de Kerola Racela:

Situado em uma pequena cidade cristã dos Estados Unidos, Pornô se passa no início dos anos 1990 e foca um grupo de jovens que trabalha em um cinema local. Na noite de sua sessão de cinema particular, eles encontram um bizarro rolo de filme nos fundos do lugar, não imaginando que estão liberando um demônio sexual ao exibirem o achado na telona. E assim tem início uma longa e estranha noite de assombração, com o filme de certa forma aspirando ser um terror cômico ao estilo de A Morte do Demônio, trocando a cabana isolada por um cinema.

Inicialmente, o filme de Keola Racela (estreante em longas-metragens) demora um pouco para engrenar. Mas a narrativa cresce à medida que o elenco desenvolve uma dinâmica divertida entre seus personagens, ao passo que o roteiro é hábil ao utilizar o demônio para expor a hipocrisia de certas figuras que pregam ideias conservadoras de uma religião (inclusive inibindo instintos naturais do ser humano), mas que agem de maneira diferente em sua intimidade. Com uma violência bizarramente gráfica em determinados momentos (quem assistir ao filme vai entender exatamente do que estou falando), Pornô pode não deixar grandes marcas no espectador, mas ao menos alcança resultados razoáveis dentro de sua proposta.

O Bando (La Jauría, 2019), de C. Martín Ferrera:

O que o diretor C. Martín Ferrera realiza neste O Bando é um filme que faz muito com pouco. Logo de cara, acordamos ao lado de Iván (Adam Quintero), sujeito que está algemado em um carro no meio do nada e junto de outros três homens desacordados. À medida que estes recobram os sentidos, o grupo passa a tentar descobrir o que está acontecendo e quem os colocou ali, algo que não vem sem uma ameaça que parece rondar o veículo em que eles estão.

Ferrera concebe uma narrativa bastante simples, conseguindo criar tensão tanto pela situação em que os personagens se encontram quanto pela desconfiança que surge naturalmente entre eles. E o fato de a maior parte da trama se passar em um local pequeno e isolado contribui ainda mais para a inquietação imposta pelo diretor, que assim aposta em planos mais fechados que dão um tom de claustrofobia ideal para a narrativa. São aspectos que mantêm o público envolvido na história e se potencializam quando outra personagem entra em cena, pontuando um filme que instiga com cada passo que dá em direção a sua resolução.

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