domingo, 26 de julho de 2020

XVI Fantaspoa - 2ª Parte - Especial Nabwana IGG

“Uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”.

O lema do nosso grande Cinema Novo passou pela minha cabeça várias vezes enquanto eu assistia aos filmes do ugandense Isaac Godfrey Geoffrey Nabwana, mais conhecido como Nabwana IGG, cineasta que está sendo homenageado no XVI Fantaspoa. Com orçamentos quase nulos (nas informações do site IMDb, vi os números chegarem a 65 dólares), Nabwana já produziu dezenas de filmes de ação nos últimos 15 anos, tendo como cenário a favela de Wakaliga, onde mora e montou seu estúdio particular, Wakaliwood. Nesta edição do Fantaspoa, três filmes do cineasta foram colocados na programação, Quem Matou Capitão Alex?, Crazy World e Bad Black, e assistindo a eles fica claro que Nabwana não precisa de grandes caprichos para entreter o público.

Ao ver esses três longas, é difícil não pensar que eles parecem pertencer a um mesmo universo cinematográfico, o que é até inevitável considerando que eles foram todos feitos a partir dos mesmos recursos limitados. Dessa forma, esteticamente eles acabam sendo muito parecidos uns com os outros, ainda que contem histórias que são independentes umas das outras. E Nabwana não perde a chance de até brincar um pouco com isso, colocando várias referências entre suas obras. É algo que diverte e se revela um prato cheio para VJ Emmie, um video joker que fica fazendo comentários engraçados durante o desenrolar das histórias.

Aliás, eu já ia esquecendo de falar sobre o que são essas histórias. Em Quem Matou Capitão Alex? vemos Bruce U (o Bruce Lee ugandense, como é estabelecido) tentando descobrir quem matou seu irmão, Capitão Alex, cujo assassinato ocorreu quando este estava prestes a libertar a capital Kampala dos criminosos da Máfia dos Tigres. Já em Crazy World acompanhamos um pai em busca de seu filho, que foi sequestrado pela Máfia dos Tigres (de novo ela!) junto com outras crianças, o que o faz juntar forças com um ex-soldado que enlouqueceu após o sequestro de sua própria filha. E Bad Black segue a história da personagem-título, uma criança que se rebela contra o líder de uma quadrilha de tráfico infantil e, depois de adulta, se torna uma grande criminosa. Ao mesmo tempo ainda acompanhamos um médico americano que quer recuperar suas placas do exército, sendo que para isso ele é treinado por Wesley Snipes, uma criança mestre em kung fu.

Mas não podemos dizer que tais tramas são de suma importância para os filmes, sendo usadas mais como um ponto de partida para que Nabwana IGG possa colocar na tela as cenas de ação que imaginou. Com muitos “defeitos especiais”, Nabwana dá vida a tiroteios, cenas de luta, explosões e perseguições de carro que envolvem o público graças a diversão que proporcionam, sendo que elas têm clara influência de produções hollywoodianas que devem ter feito parte da formação do diretor. Na verdade, devo admitir que em determinados momentos eu fiquei um pouco emocionado assistindo aos filmes. Não porque estivesse ocorrendo alguma forte emoção na tela, mas porque a palavra-chave dos longas de Nabwana IGG é “entusiasmo”, aspecto que pode ser visto em cada frame que o diretor concebe com sua câmera. Fazer cinema é uma coisa difícil em qualquer instância, de forma que acaba sendo legal ver Nabwana conseguir executar as cenas que idealizou mesmo sem os recursos para torná-las perfeitas.

As imperfeições das obras de Nabwana IGG não deixam de ser admiráveis considerando o contexto em que são produzidas. Fazendo um cinema “na cara e na coragem”, o cineasta cria experiências inesquecíveis do seu próprio jeito, e o valor artístico dos resultados disso não faz feio frente ao das produções de orçamentos milionários que nos acostumados a assistir.

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Lembrando que o XVI Fantaspoa está acontecendo gratuitamente no streaming da Darkflix

Este é o segundo post comentando essa edição do festival, mas se quiser ver o primeiro é só clicar aqui.

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