quinta-feira, 20 de setembro de 2012
Totalmente Inocentes
É um tanto irônico que Totalmente Inocentes se chame “Totalmente Inocentes”. Afinal, assim como As Aventuras de Agamenon: O Repórter, o filme é culpado pelos crimes de tortura e assalto a mão armada. Mesmo que o ingresso custasse R$ 1,00, ainda seria caro para ver uma produção tão ruim como essa. A ideia em volta do film...opa, me desculpem, “filme” é interessante. Paródia é algo que há muito tempo não era explorado no Brasil, que na década de 1950 chegou a fazer filmes como Matar ou Correr (paródia do clássico Matar ou Morrer, estrelado por Gary Cooper). Em Totalmente Inocentes, as vítimas são produções como Cidade de Deus e Tropa de Elite. Mas sem conseguir bolar nenhuma piada realmente engraçada e com um estilo infantil muito mal aproveitado, o “filme” acaba resultando em algo constrangedor demais para se assistir.
Escrito por Rafael Dragaud e dirigido pelo estreante Rodrigo Bittencourt, Totalmente Inocentes nos apresenta ao jovem Da Fé (Lucas D’ Jesus) e seu irmão mais novo, Torrado (Carlos Evandro). Eles moram na favela do DDC, onde o marginal João do Morro (Fábio Porchat) acaba de se tornar o rei do pedaço, tomando o poder do antigo líder, Diaba Loira (Kiko Marscarenhas). Da Fé é perdidamente apaixonado por Gildinha (Mariana Rios), irmã de seu melhor amigo, Bracinho (Gleison Silva). Mas o garoto acha que ela prefere ficar com Do Morro, e para tentar conquistar seu coração ele tenta impressioná-la se tornado um cara “do mal”, mesmo não levando jeito pra isso.
O que se vê ao longo de Totalmente Inocentes são diversas tentativas de fazer piada, mas nenhuma delas se concretiza em algo divertido. Não há nem como saber onde estão as piadas nos diálogos. O desespero do roteiro em tentar fazer rir é tanto que grande parte das falas de personagens como Da Fé e, principalmente, Do Morro termina com um palavrão, um dos recursos mais usados por pessoas que não sabem fazer um humor mais inteligente. Mesmo as boas sacadas que Totalmente Inocentes tem são desperdiçadas. Colocar Leandro Firmino (o Zé Pequeno de Cidade de Deus) e Fabio Lago (o Baiano de Tropa de Elite) interpretando a dupla de policiais Tranquilo e Nervoso é uma ideia interessante, mas que é mal desenvolvida, como se o fato de os atores apenas estarem do outro lado da lei já servisse para fazer rir.
Ao longo do “filme”, Rodrigo Bittencourt não demonstra ter nenhum timing cômico para comandar o projeto, não conseguindo colocar nenhuma energia na história, o que faz com que a uma hora e meia de duração seja tão arrastada que nem parece que o “filme” é relativamente curto. Já as gags visuais que Bittencourt tenta fazer soam tão previsíveis e clichês (como quando Wanderley, personagem de Fábio Assunção, se suja no carro com um milk-shake) que acabam tornando a experiência de assistir a Totalmente Inocentes ainda mais aborrecida. Além disso, o diretor parece duvidar da capacidade do espectador em entender quais os principais filmes que ele está tentando satirizar, colocando cartazes de Cidade de Deus e Tropa de Elite nas portas da casa de Da Fé (se isso fosse uma tentativa de mostrar o bom gosto cinematográfico do garoto, isso certamente deveria ser desenvolvido).
Para completar, o diretor em alguns momentos parece mais preocupado em focar seus patrocinadores, fazendo isso de forma nada discreta. Então o que não falta são planos de detalhe em um Toddynho ou um plano que deixe bem à mostra o letreiro do restaurante Spoleto. E quando Tranquilo e Nervoso aparecem bebendo latas de cerveja com um rótulo em que está escrito apenas a palavra “cerveja”, isso me fez pensar que algumas marcas famosas foram mais espertas e deram no pé assim que ouviram falar do “filme”.
Na sessão para a imprensa que compareci, uma das coisas que mais me chamou a atenção (além de ter faltado luz nos quinze minutos finais) foi o fato de absolutamente ninguém ter dado uma única risada ao longo da projeção. E o sucesso ou o fracasso de uma comédia pode ser medido pelo número de risadas que causa em seus espectadores. Isso é apenas mais uma prova de que Totalmente Inocentes é um desastre do início ao fim, chegando bem perto de As Aventuras de Agamenon no quesito mau gosto.
É lamentável, mas o cinema brasileiro produziu em 2012 dois “filmes” que ultrapassam todas as barreiras do ruim.
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