sábado, 22 de setembro de 2012

Ted

Seth MacFarlane é mais conhecido como o criador de três séries animadas de muito sucesso: Family Guy (ou Uma Família da Pesada, como ficou conhecida no Brasil), American Dad e The Cleveland Show. Dessas, a única com a qual sou familiarizado é a primeira, ainda que não a assista com frequência. Em Family Guy, MacFarlane sempre mostrou ter talento para fazer um humor politicamente incorreto com eficiência, e por causa disso era grande a curiosidade para ver o que ele iria fazer em Ted, sua estreia na direção de longas-metragens. Tendo em mãos um simples ursinho de pelúcia e transformando-o numa figura mal-educada e extremamente divertida, MacFarlane não poderia ter estreado melhor na função.
Escrito pelo próprio MacFarlane em parceria com Alec Sulkin e Wellesley Wild, Ted conta a história de John Bennett (Mark Wahlberg), que quando criança desejou que Ted (dublado por MacFarlane), seu ursinho de pelúcia, pudesse falar com ele. O desejo se realizou e os dois se tornaram amigos inseparáveis. Mas quando Lori (Mila Kunis), a namorada de John há quatro anos, vê que ele não consegue dar atenção para o relacionamento deles da mesma forma que para o amigo, o rapaz precisa decidir entre ficar com a garota ou com o companheiro que esteve ao seu lado durante toda sua vida.
É possível prever em pouco tempo que o filme terá alguns conflitos clichês ao longo da história. Mas MacFarlane não joga esses artifícios de qualquer forma na tela, como se fosse obrigatório a presença deles. O diretor-roteirista faz com que eles funcionem a favor da história, não fazendo com que eles soem forçados. Além disso, como ele faz com que nos importemos com seus personagens, tais conflitos têm um peso um pouco maior do que o esperado.
Já que mencionei os personagens, vale dizer que são figuras não só interessantes, mas também muito divertidas. A começar por John, um homem de 35 anos que ainda age como se fosse uma criança em vários momentos. Quando ele demonstra essa infantilidade (como no momento em que nega para Lori sobre ter medo de trovões, em uma das cenas mais engraçadas do filme), o personagem tira várias risadas, além de mostrar o quanto que não cresceu ao longo dos anos. O fato de Mark Walhberg ainda acertar no tom da criancice do personagem, sem cometer nenhum exagero, é algo que contribui ainda mais para que ele conquiste o espectador. Enquanto isso, Lori não surge como a namorada que quer que seu amado faça tudo o que ela pedir, compreendendo que o relacionamento entre John e Ted é importante para ambos. E além de linda como sempre, Mila Kunis empresta grande carisma para a garota, o que impede que ela seja vista como uma estraga prazeres.
Mas Ted é mesmo o grande trunfo do filme. Se com uma família formada por pessoas incomuns Seth MacFarlane já conseguia arrancar risadas, o que dizer quando ele tem em sua história um ursinho de pelúcia que se droga, fala palavrões sem pudor e transa com uma colega de trabalho na hora do expediente? Mas mesmo com essas atitudes, em nenhum momento o personagem vira uma figura condenável. Muito pelo contrário, o fato de ele ser assim é o que o torna tão interessante. Além disso, a equipe que ajudou na concepção de Ted está de parabéns, já que o personagem jamais surge como algo falso na tela e os atores nunca parecem estar atuando com o “nada”. Apesar de ser um ursinho de pelúcia, Ted é uma figura tão humana quanto qualquer outra pessoa no filme, e quando ele sofre alguns machucados fica muito clara a dor que ele sente, mostrando que não é mais um mero brinquedo.
Mas para que Ted fosse um projeto bem sucedido, a amizade entre o personagem-título e seu dono precisaria ser bem estabelecida, por ser basicamente o centro da história. E Seth MacFarlane faz isso muito bem logo no começo, quando vemos Ted ficar famoso (afinal, estamos falando de um ursinho de pelúcia que fala!) e mesmo assim ele não se separa de John. Uma das provas do quanto que aqueles dois personagens se gostam está no modo que tratam um ao outro durante a história, com direito a xingamentos e brincadeiras, o que ainda resulta em mais momentos divertidos para o filme.
MacFarlane ainda cria um universo no qual alguns personagens reagem de maneira extremamente exagerada (mas não menos engraçada) a determinados acontecimentos, como quando os pais de John descobrem que Ted começou a falar. Já em cenas mais de ação, o diretor surpreende ao conseguir impor tensão em uma sequência de perseguição no terceiro ato, e na luta que ocorre em um quarto de hotel é admirável o fato de ele não colocar nenhuma trilha cômica no fundo, deixando a cena prender a atenção e divertir por si mesma.
Tendo momentos absurdos que acabam soando perfeitamente críveis na história (como os motivos de o personagem-título ser promovido em seu trabalho) e repleto de cenas e diálogos hilários (“Um cara pegou meu ursinho de pelúcia!”, diz John para a polícia), Ted é sem dúvida uma das melhores comédias do ano. Agora fica a curiosidade para saber quais serão as próximas empreitadas de Seth MacFarlane por trás câmeras. Além de Ted 2, é claro.
Cotação:

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