sexta-feira, 14 de setembro de 2012

O Legado Bourne

Tendo em mãos um grande personagem e tramas envolventes, a franquia centrada em Jason Bourne rendeu três dos filmes de ação mais eficientes da década passada, sendo que O Ultimato Bourne foi um desfecho mais do que satisfatório para a história. Mas, como sempre, os produtores pensam muito mais com o bolso do que com a cabeça, e por isso temos O Legado Bourne, que traz um protagonista e intérprete diferentes. Sai Jason Bourne e Matt Damon, entra Aaron Cross e Jeremy Renner. Infelizmente, este quarto filme mostra que a franquia começa a se estender mais do que deveria.
Dirigido por Tony Gilroy (roteirista dos três filmes anteriores) e escrito por ele e seu irmão Dan Gilroy, O Legado Bourne mostra que além do projeto Treadstone, o governo americano também mantinha sob sigilo o Projeto Outcome, que faz seus agentes melhorarem suas habilidades físicas e psicológicas graças a alguns medicamentos verdes e azuis. Para deletar qualquer relação do governo com esse e outros projetos, Eric Byer (Edward Norton) é chamado e decide mandar eliminar qualquer um que esteja ligado ao Outcome, o que inclui agentes e cientistas. Aaron Cross escapa, salvando ainda a Dra. Marta Shearing (Rachel Weisz). Os dois se tornam fugitivos da CIA, sendo que Aaron ainda tem que lidar com a abstinência causada pela falta de seus medicamentos.
A ideia de incluir e explorar outras áreas no universo da franquia é até interessante. Afinal, Jason Bourne fazia parte de algo muito grande antes de ser encontrado no oceano no início de A Identidade Bourne. Mas é lamentável que Tony Gilroy não consiga criar uma boa história envolvendo tudo isso. Ver Aaron Cross e Marta em busca dos remédios dele enquanto fogem de Eric Byer e sua equipe é algo muito desinteressante, provando que este quarto filme não tem muita ambição e serve mais para alongar a série e faturar mais alguns milhões nas bilheterias.
O roteiro tenta fazer com que Jason Bourne continue sendo um personagem importante, ao mesmo tempo em que acompanha a jornada de Aaron Cross. Ao longo do filme, Bourne inferniza a vida da CIA, nos eventos mostrados no terceiro capítulo da série. Mas isso não acrescenta absolutamente nada para a história que este novo filme quer contar. Na verdade, isso parece ter apenas uma função: ser uma desculpa para que a palavra “Bourne” apareça no título. A verdade é que se Tony Gilroy não mencionasse o nome desse personagem, O Legado Bourne seria algum novo filme de ação fraco, o que poderia até ser melhor porque encurtaria um pouco a duração, não desviaria a atenção da história de Aaron e ainda deixaria a franquia Bourne intacta.
Depois de ter surgido tão bem como diretor no ótimo Conduta de Risco, Gilroy já não voltou a demonstrar o mesmo talento em seu filme seguinte, o irregular Duplicidade. E é lamentável ver que em O Legado Bourne ele não falhe apenas com relação a história, mas também no modo como conduz a narrativa. Ele acerta ao trazer de volta o caráter documental que Paul Greengrass utilizou para os dois últimos filmes da trilogia, mas infelizmente Gilroy parece não ter uma mão tão firme para as cenas de ação, que aqui surgem burocráticas e pouco empolgantes. Além disso, nas cenas de luta, Gilroy mantém a câmera próxima demais dos atores e investe em muitos cortes, tentando mostrar a rapidez do protagonista, mas tornando a ação incompreensível.
O Legado Bourne ainda falha com relação ao seu protagonista. Aaron Cross não tem nada da complexidade de Jason Bourne, o que consequentemente o torna uma figura muito menos intrigante. Mas vale dizer que ele tem sorte de ter o talentoso Jeremy Renner como intérprete, já que o ator convence como herói de ação e traz um pouco de credibilidade para o papel. Enquanto isso, Rachel Weisz não consegue transformar Marta em uma figura realmente interessante, ao passo que Edward Norton pouco pode fazer com Eric Byer, personagem que deveria ser o vilão do filme, mas nunca surge como uma ameaça, apenas comandando as operações na CIA. E não entendo o porquê de Gilroy incluir uma cena que mostra que Byer e Cross se conhecem e já trabalharam juntos se isso nunca é explorado ao longo da história.
Sendo longo demais até para um filme da franquia, O Legado Bourne é um capítulo decepcionante em uma série que até então estava muito boa. E uma continuação já está confirmada. Resta torcer para que a franquia não caia ainda mais de rendimento.
Cotação:

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