sábado, 29 de setembro de 2012
Looper: Assassinos do Futuro
Looper faz parte de um tipo de ficção científica que tem surgido pelo menos uma vez por ano: aquela em que um conceito fascinante é criado e explorado ao máximo ao longo da história, como acontece em exemplos recentes como A Origem e Contra o Tempo. Dito isso, em uma temporada em que não são muitos os blockbusters de grande destaque, é bom ver que o diretor-roteirista Rian Johnson (responsável pelo ótimo A Ponta de Um Crime, além de Vigaristas, que não vi ainda) surge com uma obra que confia na inteligência do espectador, ao mesmo tempo em que é desenvolvida uma narrativa interessantíssima e envolvente usando a boa e velha viagem no tempo como um de seus principais elementos.
Looper se passa no ano de 2044 e a viagem no tempo só será criada dali trinta anos. Sendo assim, a máfia do futuro envia seus desafetos ao passado para que assassinos profissionais, conhecidos como “loopers”, os matem e se livrem do corpo. Quando a organização quer encerrar o contrato dos loopers, as versões mais velhas deles, conhecidas como “loops”, são enviadas para serem eliminadas. O grande chefe da máfia, conhecido como “Rainmaker”, começa a encerrar o contrato de vários loopers, sendo um deles o jovem Joe (Joseph Gordon-Levitt), que deixa seu loop (Bruce Willis) escapar. Enquanto Joe precisa fugir de seus chefes, se escondendo na fazenda de Sara (Emily Blunt), sua versão mais velha procura o jovem Rainmaker com o objetivo de matá-lo e impedir que destrua a vida que tinha no futuro.
Rian Johnson dedica boa parte da primeira hora de Looper para explicar como tudo funciona naquele universo, apresentando os poderes telecinéticos de uma minoria da população rapidamente (e que mais tarde tem papel importante na história) e deixando claro como os loopers e seus chefes agem, além de mostrar cenas impressionantes como quando um loop começa a sofrer as consequências de uma tortura realizada em sua versão do passado. Johnson ainda inclui a narração em off de Joe, o que acaba sendo importante para que tudo seja explicado sem a necessidade de parar a história. Com tantos elementos para serem explicados, o filme demora um pouco a engrenar, mas depois que chega ao ponto principal de sua história, o diretor a conduz com agilidade e inteligência, confiando que o espectador conseguirá acompanhar a trama tranquilamente.
Sendo uma espécie de mistura entre os excelentes Primer e O Exterminador do Futuro, o roteiro de Looper é bastante complexo, tendo que lidar com várias linhas do tempo e duas versões do mesmo personagem, o que faz com que qualquer coisa que aconteça com a versão do presente também precise acontecer com a versão do futuro. Em determinado momento, por exemplo, Joe presencia uma cena chocante, o que faz com que seu loop tenha a mesma memória e ganhe uma informação importante. Esse tipo de detalhe que Rian Johnson inclui é algo que ajuda o conceito de Looper a se tornar ainda mais fascinante.
Joe, por sinal, é um personagem muito interessante. No presente, ele demonstra ser um homem frio, que realiza seu trabalho rapidamente e sem hesitação. Sempre sério, ele tem em uma sonhada viagem a França uma das poucas coisas que podem colocar algum sinal de sorriso em seu rosto. Já o velho Joe é um homem arrependido de muitas coisas e que tinha em sua vida no futuro algo pelo que realmente se importar. E depois que ele mata alguém que não devia, éinteressante ver sua reação de tristeza, já que isso acaba representando um retorno a uma vida que ele há muito tempo abandonou.
Joseph Gordon-Levitt e Bruce Willis interpretam seus Joes com extrema eficiência, criando o personagem até com os mesmos maneirismos um dos outro. Um dos grandes momentos de Looper é exatamente uma cena em que os dois conversam frente a frente, na qual vemos o quanto o jovem Joe ainda vai mudar com o passar dos anos. Enquanto isso, Emily Blunt se sai admiravelmente bem como uma mãe que protege seu filho ao mesmo tempo em que tem uma relação um tanto conturbada com ele.
Se a história que Rian Johnson conduz já é envolvente, o mesmo pode ser dito com relação às cenas de ação. Tensas e violentas na medida certa, elas ajudam a fazer de Looper um filme que prende a atenção do início ao fim. Johnson ainda economiza bastante no uso dos efeitos visuais, incluindo-os apenas quando necessário. As viagens no tempo, por exemplo, não contam com esses recursos, o que inclusive torna tudo muito mais orgânico na tela.
Looper é no final das contas uma ficção científica exemplar. Se com A Ponta de Um Crime Rian Johnson já demonstrava talento, agora ele parece se confirmar como um diretor que merece ser acompanhado.
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