Apesar de terem fragilidades (principalmente
quando falamos da segunda temporada de Demolidor
e da primeira de Luke Cage), as
séries da Marvel lançadas pela Netflix tem se revelado bem satisfatórias, criando
um universo diferente do que se vê nos filmes e envolvendo o público com seus personagens
e sua densidade. Isso, porém, sofre uma escorregada em Punho de Ferro, a mais nova série do estúdio e que apresenta o
último herói que integrará Os Defensores,
minissérie que reunirá os protagonistas da Marvel/Netflix da mesma forma que os
filmes dos Vingadores fazem no
cinema. Aqui infelizmente temos uma produção repleta de problemas (alguns deles
até comuns nessas séries) e que não traz elementos interessantes o suficiente
para compensar isso.
Desenvolvida por Scott Buck, cujos
trabalhos anteriores como showrunner foram
as péssimas temporadas finais de Dexter,
Punho de Ferro nos apresenta a Danny
Rand (Finn Jones), rapaz que retorna a Nova York quinze anos depois de ser dado
como morto em um acidente aéreo que matou seus pais. Nesse período, ele foi
criado por monges na mística cidade de K’un-Lun, tonando-se um mestre nas artes
marciais e detentor do poder do Punho de Ferro, que o possibilita canalizar
energia em um de seus punhos. Mas o retorno para casa não se revela tão tranquilo,
com Danny precisando provar sua identidade a fim de retomar o que puder de sua
vida e da antiga empresa de seu pai, agora liderada por seus velhos amigos Joy
e Ward Meachum (Jessica Stroup e Tom Pelphrey), além de se ver tendo que
enfrentar a ameaça do Tentáculo, organização que já deu dor de cabeça para o
Demolidor.
Ainda que a temporada se resuma a
esses pontos, ela leva um bom tempo para definir o caminho que quer seguir. Não,
isso não se deve por conta de uma calma na hora de desenvolver a trama, mas sim
porque os roteiros dos episódios em vários momentos parecem andar em círculos, enrolando
as coisas por aparentemente não ter outra forma de preencher as treze horas da
temporada. Como resultado, a série não consegue ter uma história consistente, exibindo
também um ritmo muito irregular que dificulta o envolvimento do espectador. É
algo que piora por os episódios ainda preferirem perder tempo com cenas totalmente
descartáveis ou que pouco acrescentam à narrativa, como quando o herói e sua
nova aliada, a professora de artes marciais Colleen Wing (Jessica Henswick), fazem
uma espécie de disputa de habilidades ou ao se concentrar em uma subtrama de
lutas clandestinas. Enquanto isso, o passado de Danny em K’un-Lun, elemento
importante para estabelecer o personagem, é condensado em flashbacks superficiais e, principalmente, longos diálogos expositivos,
sendo que este último é um recurso que os roteiristas usam e abusam ao longo da
temporada.
Mais triste que esses problemas é
ver que a série não consegue empolgar nem ao partir para a ação, algo
surpreendente tendo em vista as habilidades dos personagens com artes marciais
e como isso já havia rendido ótimos momentos em Demolidor. Com exceção de um confronto numa espécie de Escola
Xavier Para Superdotados (só que para pessoas comuns) na reta final da
temporada, as sequências de luta são conduzidas de maneira burocrática e sem
qualquer energia, além de não contarem com o peso dos confrontos vistos na
série do Homem Sem Medo ou até em Jessica Jones e Luke Cage, ainda que nestas
a ação ficasse um tanto limitada diante da superforça dos protagonistas. Aliás,
ao longo dos episódios o poder de Danny Rand não é utilizado à exaustão, dando prioridade
aos socos e pontapés, mas não deixa de ser decepcionante que os realizadores o
acionem quase como um deus ex machina
em boa parte do tempo, tirando obstáculos da frente do herói quando ele se encontra
sem saída.
Mas talvez tudo isso fosse
compensado se ao menos tivéssemos personagens cativantes que segurassem bem a
narrativa, mas a verdade é que é difícil se importar com a maioria das figuras
que aparecem na tela. Por mais que o roteiro estabeleça Danny Rand como um
sujeito que luta pelo que é certo, no fim ele acaba tendo o azar de ter em Finn
Jones um intérprete esforçado, mas pouco carismático. O mesmo pode ser dito
sobre Jessica Henwick no papel de Colleen Wing, sendo que a relação dela com Danny
por vezes é desenvolvida de maneira boba e óbvia. Já Jessica Stroup e Tom
Perphley surgem aborrecidos como os irmãos Joy e Ward Meachum, protagonizando
alguns dos momentos mais enfadonhos da série, ao passo que David Wenham até
tenta fazer com que o pai deles, Harold Meachum, soe imprevisível e ameaçador,
mas o roteiro não colabora muito para isso. Vale dizer, porém, que as participações
de figuras que já conhecíamos das outras séries funcionam melhor, desde Rosario
Dawson como Claire Temple até Carrie Ann-Moss como a advogada Jeri Hogarth,
passando por Wai Ching Ho como Madame Gao, que se destaca por ser uma vilã que
sempre parece estar vários passos a frente de seus adversários.
Punho de Ferro até usa seu protagonista para fazer comentários relevantes
sobre a desumanidade das grandes corporações, questionando a importância que
elas dão aos próprios interesses (especialmente dinheiro) sem dar a mínima para
quem sairá prejudicado por isso. Mas são pontos rápidos e que não chegam a ser prioridade
em meio a uma temporada mal organizada, que se estabelece como uma das
produções mais fracas do universo Marvel até agora. O que vemos aqui serve mais
para que tenhamos alguma noção de quem é Danny Rand antes de ele se juntar a
outros heróis, e resta torcer para que esta reunião em Os Defensores tenha uma força criativa maior.
Confira as críticas das outras séries da Marvel/Netflix:
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