Ao escrever sobre Divertida Mente, mencionei ser um
alívio poder dizer que a Pixar havia voltado a acertar depois de passar por um
período decepcionante graças a Carros 2,
Valente e Universidade Monstros, que representaram uma sequência de filmes aquém
do que vinha sendo realizado por John Lasseter e companhia. Por o estúdio ter
recém-lançado uma de suas melhores animações, é uma pena vê-lo voltar a
escorregar já no filme seguinte, O Bom
Dinossauro, uma produção que tem a qualidade técnica que poderíamos
esperar, mas não a força criativa que fez a Pixar parecer infalível por tanto
tempo.
O Bom Dinossauro se passa milhões de anos após a Terra ter dado sorte
de não ser atingida pelo asteroide que dizimou os dinossauros, permitindo que
estes vivam tranquilamente. Em meio a isso, o jovem Apatossauro Arlo mal
consegue realizar suas tarefas na fazenda de seus pais, Henry e Ida, devido a
sua covardia, o que o impede de deixar sua marca no depósito de comida da
família, ao contrário de seus irmãos habilidosos Libby e Buck. Mas pouco depois
de uma tragédia, Arlo acaba se perdendo da família e ganhando como companheiro
o pequeno menino das cavernas Spot, com quem passa por duras situações no
caminho de volta para casa.
Dirigido por Peter Sohn, que fazia
parte do departamento de animação da Pixar e comandou o curta Parcialmente Nublado, O Bom Dinossauro não demora muito para exibir
seu primor visual. Seja ao trazer uma árvore sendo partida ao meio ou ao
acompanhar um rio, o filme tem uma fluidez absolutamente admirável na
construção de sua animação. Além disso, há momentos em que somos apresentados a
cenários que nem parecem ser criações feitas em um computador, como os belos
planos que mostram as montanhas ao redor dos personagens. Nada disso é
exatamente uma surpresa considerando que uma das grandes características das
animações da Pixar é a atenção aos detalhes.
Tudo isso trabalha a favor de uma
narrativa que claramente se esforça (e muito) para conquistar a simpatia do
público. Mas é uma pena que busque isso através da reciclagem de uma série de
elementos já vistos em outros filmes e que acabam servindo para organizar uma
história formuláica que, infelizmente, não consegue fugir da obviedade. E por ser
possível prever alguns pontos que serão tocados pela trama, o longa perde muito
do peso que poderia ter, tornando-se rapidamente desinteressante.
Como se não bastasse, com sua
estrutura típica de road movie, o
roteiro insere Arlo e Spot em situações que deixam a sutileza completamente de
lado ao lidar com a superação do jovem dinossauro quanto a própria insegurança,
algo perceptível até mesmo em alguns diálogos (“Se você não sente medo, não
está vivo”). Aliás, falando nessas situações, é impressionante que o filme tenha
cerca de 90 minutos e ainda assim pareça não ter tanto material para
desenvolver a trama e os personagens. Há cenas que pouco acrescentam a eles,
como àquela envolvendo um Tricerátopo no meio da floresta, que falha até mesmo
em seu propósito de divertir.
Arlo e Spot até revelam ser personagens
carismáticos e expressivos, o que compensa um pouco a dinâmica genérica desenvolvida
entre eles e cujo único detalhe fora do comum é a inversão de papeis (dessa vez
é o humano quem age como um animal de estimação e o dinossauro vira nosso ponto
de identificação). Mas isso mostra não ser o suficiente para sustentar o filme,
que trata sem muito cuidado o material que tem em mãos e, consequentemente, resulta
em uma animação facilmente esquecível. Por estarmos falando da Pixar, dizer
isso chega a doer.
Nota:
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