Clássico da década de 1980,
RoboCop: O Policial do Futuro é um filme de ação exemplar ao mesmo tempo em que
trata com eficiência a parte humana e a parte máquina de seu protagonista e faz
uma crítica interessante à sociedade em si. Uma pena que seu sucesso tenha
rendido duas continuações que, infelizmente, foram tão fracas que enterraram a
franquia. Mas agora, 20 anos após o lançamento do terceiro filme, o personagem
volta às telas neste remake comandado pelo brasileiro José Padilha, em sua
estreia em Hollywood.

Sendo uma espécie de releitura do
personagem, este remake é interessante por mostrar estar disposto a se arriscar,
mudando certos detalhes que são famosos quando se fala no herói, como sua armadura, que apesar de ser parecida com a original inicialmente, fica bem diferente depois, além de ser mais
rápida, o que contribui para que o personagem tenha uma maior agilidade nas
cenas de ação. Aliás, a ação de modo geral é conduzida com competência por José
Padilha, que usando muito a câmera na mão ressalta bem a tensão das sequências,
principalmente aquelas envolvendo tiroteios, como àquele no primeiro ato que
traz Murphy e seu parceiro Jack Lewis (Michael K. Williams) contra alguns
capangas. Mas há de se ressaltar que a câmera tremida faz determinados momentos
ficarem um tanto confusos, com Padilha não conseguindo deixar clara a geografia
das cenas.
Tecnicamente RoboCop não
decepciona. O ótimo design de produção cria um futuro convincente e não tão
distante da nossa atual realidade (não é á toa que vemos política externa e a inclusão
de drones por aqui), ao passo que a montagem da dupla Daniel Rezende (parceiro
habitual de Padilha) e Peter McNulty traz um bom ritmo a história e é
responsável por um dos melhores momentos do filme: a cena em que Murphy aos
poucos acorda de um sonho para se encontrar pela primeira vez dentro da
armadura que precisará usar. E a fotografia de Lula Carvalho (outro que sempre
contribui com o diretor) acerta ao incluir um tom mais pastel em um escasso Teerã
e outro mais claro na Detroit cheia de tecnologias, o que cria um belo
contraste.
Enquanto isso, o roteiro encontra
problemas ao desenvolver a história e suas subtramas, já que é muita coisa para
lidar, o que deixa o filme um pouco sem foco, como no momento em que Murphy
analisa o medo que seu filho tem sentido apenas para logo depois ir investigar
quem causou a explosão que quase o matou. Mas Joshua Zetumer é hábil na forma
como trata temas que inclusive permeavam o filme original de Paul Verhoeven,
como o poder das grandes corporações (que ultimamente têm ocupado bastante a
vaga de vilões no cinema americano) e a humanidade de seu protagonista. Nesse
último aspecto, por sinal, RoboCop abre mais espaço para a esposa de Murphy,
Clara (Abbie Cornish), e o filho deles, criando um drama familiar até curioso de
se ver na história, ainda que essa parte caia um pouco no melodrama de vez em
quando.
Já o elenco que José Padilha tem em
mãos é outro acerto do filme. O não muito conhecido Joel Kinnaman surpreende
trazendo carisma para Alex Murphy e tornando-o uma figura bastante vulnerável
pela qual conseguimos nos importar. E se Abbie Cornish surge forte como Clara
Murphy, Gary Oldman tem uma bela presença no papel de Dennett Norton, enquanto
que Michael Keaton é hábil ao retratar a dualidade de seu Raymond Sellars. Para
completar, Samuel L. Jackson aparece até divertido interpretando Pat Novak, apresentador
de um programa sensacionalista à la José Luiz Datena (aliás, a presença desse
personagem deixa claro que Padilha deu alguns toques na história).
É verdade que este RoboCop de
José Padilha não é tão bom quanto o filme icônico que o originou. Mas para um remake que reintroduz o
personagem no cinema ainda funciona satisfatoriamente, sendo uma grata
surpresa.
Um comentário:
A escolha de Padilha para estrear em Hollywood foi bem arriscada, pois o original é um ótimo filme e seria muito difícil fazer algo superior.
Ainda preciso conferir esta nova versão.
Abraço,
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