Clássico da década de 1980,
RoboCop: O Policial do Futuro é um filme de ação exemplar ao mesmo tempo em que
trata com eficiência a parte humana e a parte máquina de seu protagonista e faz
uma crítica interessante à sociedade em si. Uma pena que seu sucesso tenha
rendido duas continuações que, infelizmente, foram tão fracas que enterraram a
franquia. Mas agora, 20 anos após o lançamento do terceiro filme, o personagem
volta às telas neste remake comandado pelo brasileiro José Padilha, em sua
estreia em Hollywood.
Escrito por Joshua Zetumer,
RoboCop se passa no ano de 2028 e mostra que a empresa OmniCorp tem conseguido
sucesso em manter sob controle as populações de países do Oriente Médio com
seus robôs. No entanto, o presidente da empresa, Raymond Sellars (Michael
Keaton), não tem permissão para utilizar suas tecnologias em solo americano, considerando que as máquinas não pensam ou sentem como os humanos. Ao lado do Dr. Dennett
Norton (Gary Oldman), Sellar pensa em colocar um homem dentro de uma máquina.
Nesse universo, o policial Alex Murphy (dessa vez interpretado por Joel
Kinnaman) representa uma ameaça ao chefão do crime local e a seus colegas
corruptos, sendo gravemente ferido em um atentado. Surge então a oportunidade
perfeita para que Sellars e Norton ponham em prática seu plano, salvando a vida
de Alex e procurando manter a segurança nas ruas de Detroit.
Sendo uma espécie de releitura do
personagem, este remake é interessante por mostrar estar disposto a se arriscar,
mudando certos detalhes que são famosos quando se fala no herói, como sua armadura, que apesar de ser parecida com a original inicialmente, fica bem diferente depois, além de ser mais
rápida, o que contribui para que o personagem tenha uma maior agilidade nas
cenas de ação. Aliás, a ação de modo geral é conduzida com competência por José
Padilha, que usando muito a câmera na mão ressalta bem a tensão das sequências,
principalmente aquelas envolvendo tiroteios, como àquele no primeiro ato que
traz Murphy e seu parceiro Jack Lewis (Michael K. Williams) contra alguns
capangas. Mas há de se ressaltar que a câmera tremida faz determinados momentos
ficarem um tanto confusos, com Padilha não conseguindo deixar clara a geografia
das cenas.
Tecnicamente RoboCop não
decepciona. O ótimo design de produção cria um futuro convincente e não tão
distante da nossa atual realidade (não é á toa que vemos política externa e a inclusão
de drones por aqui), ao passo que a montagem da dupla Daniel Rezende (parceiro
habitual de Padilha) e Peter McNulty traz um bom ritmo a história e é
responsável por um dos melhores momentos do filme: a cena em que Murphy aos
poucos acorda de um sonho para se encontrar pela primeira vez dentro da
armadura que precisará usar. E a fotografia de Lula Carvalho (outro que sempre
contribui com o diretor) acerta ao incluir um tom mais pastel em um escasso Teerã
e outro mais claro na Detroit cheia de tecnologias, o que cria um belo
contraste.
Enquanto isso, o roteiro encontra
problemas ao desenvolver a história e suas subtramas, já que é muita coisa para
lidar, o que deixa o filme um pouco sem foco, como no momento em que Murphy
analisa o medo que seu filho tem sentido apenas para logo depois ir investigar
quem causou a explosão que quase o matou. Mas Joshua Zetumer é hábil na forma
como trata temas que inclusive permeavam o filme original de Paul Verhoeven,
como o poder das grandes corporações (que ultimamente têm ocupado bastante a
vaga de vilões no cinema americano) e a humanidade de seu protagonista. Nesse
último aspecto, por sinal, RoboCop abre mais espaço para a esposa de Murphy,
Clara (Abbie Cornish), e o filho deles, criando um drama familiar até curioso de
se ver na história, ainda que essa parte caia um pouco no melodrama de vez em
quando.
Já o elenco que José Padilha tem em
mãos é outro acerto do filme. O não muito conhecido Joel Kinnaman surpreende
trazendo carisma para Alex Murphy e tornando-o uma figura bastante vulnerável
pela qual conseguimos nos importar. E se Abbie Cornish surge forte como Clara
Murphy, Gary Oldman tem uma bela presença no papel de Dennett Norton, enquanto
que Michael Keaton é hábil ao retratar a dualidade de seu Raymond Sellars. Para
completar, Samuel L. Jackson aparece até divertido interpretando Pat Novak, apresentador
de um programa sensacionalista à la José Luiz Datena (aliás, a presença desse
personagem deixa claro que Padilha deu alguns toques na história).
É verdade que este RoboCop de
José Padilha não é tão bom quanto o filme icônico que o originou. Mas para um remake que reintroduz o
personagem no cinema ainda funciona satisfatoriamente, sendo uma grata
surpresa.
Um comentário:
A escolha de Padilha para estrear em Hollywood foi bem arriscada, pois o original é um ótimo filme e seria muito difícil fazer algo superior.
Ainda preciso conferir esta nova versão.
Abraço,
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