Não ando com muito tempo pra
escrever críticas sobre alguns filmes que estou assistindo nos cinemas, mas
deixo aqui meus comentários sobre duas produções que estão concorrendo ao Oscar
desse ano.
Ela
Dirigido por Spike Jonze, Ela se
passa em um futuro próximo, no qual somos apresentados a Theodore (Joaquim
Phoenix), um homem solitário que está se divorciando da esposa Catherine
(Rooney Mara). Para tentar preencher o vazio que tem em sua vida, Theodore
então adquire um sistema operacional de última geração que se dá o nome de
Samantha (voz de Scarlett Johansson), sendo que ela mostra ser mais do que um
mero computador, demonstrando ter consciência e até mesmo sentimentos. Samantha
passa a entender Theodore mais do que ninguém, e os dois iniciam um romance
inusitado.
Mas por mais inusitado que seja,
é um relacionamento tratado com tanta delicadeza por Jonze que em momento algum
estranhamos o que vemos na tela, sendo que os sentimentos entre os personagens
surgem naturalmente, mesmo que à primeira vista eles não pareçam reais. E é
interessante como ao mesmo tempo o roteiro escrito pelo próprio diretor discute
tão bem o amor em si e a relação que as pessoas têm com computadores (aliás, a
realidade do filme parece nem estar muito longe de nós considerando que o
aplicativo Siri já existe e é usado por várias pessoas). Além disso, Jonze é hábil
ao explorar a premissa o máximo que pode, chegando a criar uma espécie de
universo paralelo no qual Samantha faz amizade com outros sistemas
operacionais. Para completar, o design de produção faz um grande trabalho no
visual futurístico do filme, ao passo que a fotografia cria um tom melancólico
que combina perfeitamente com os personagens e a história.
Contando ainda com uma atuação maravilhosa
e incrivelmente sensível de Joaquim Phoenix como Theodore (uma das melhores de
sua carreira) e um trabalho de voz excelente de Scarlett Johansson como
Samantha (em um mundo justo, a atriz seria considerada para alguns prêmios),
Ela é desde já um dos melhores filmes do ano e um dos grandes destaques entre
os indicados ao Oscar, ao lado de Gravidade e O Lobo de Wall Street.
12 Anos de Escravidão
12 Anos de Escravidão conta a
história de Solomon Northup (interpretado por Chiwetel Ejiofor), um homem livre
que é sequestrado e vendido como escravo. Sob o nome de Platt, Solomon passa
por um verdadeiro inferno, principalmente quando chega à fazenda do cruel Edwin
Epps (Michael Fassbender), quando passa a lutar para sobreviver até conseguir
uma oportunidade para voltar para sua família.
Diferente do estilo que empregou
em seus outros trabalhos (os excelentes Fome e Shame), o diretor Steve McQueen
aqui conduz a narrativa de maneira um pouco mais comum, mas não menos
eficiente. O diretor é inteligente ao não deixar a história cair no melodrama e
ainda traz grande peso para as situações pelas quais Solomon passa ao longo do
filme, investindo, por exemplo, em planos longos (algo até comum em sua
filmografia) em cenas específicas, como quando os escravos são punidos, o que
também impõe uma crueza incômoda para as imagens (nesse sentido, é impossível
esquecer a sequência no final do segundo ato em que um personagem leva uma
série de chicotadas nas costas, no momento mais angustiante da projeção). E
tecnicamente o filme também merece louvores, desde o design de produção, que
faz uma ótima recriação de época, até a montagem, que intercala a vida atual de
Solomon com alguns flashbacks que são inseridos organicamente na história.
Já o elenco se revela um dos
pontos altos do filme. O talentoso Chiwetel Ejiofor traz força e determinação
para Solomon, em uma atuação que prende a atenção do público do início ao fim.
E se a estreante Lupita Nyong’o se revela uma grata surpresa no papel da
escrava Patsey, é inegável que quem acaba roubando a cena sempre que aparece é
o excepcional Michael Fassbender, que surge absolutamente assustador como Edwin
Epps.
12 Anos de Escravidão não chega a
ser tão bom quanto os trabalhos anteriores de Steve McQueen, mas é mais um belo
filme em sua filmografia e que o mantém como um dos diretores mais
interessantes que surgiram nos últimos anos.
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