domingo, 16 de fevereiro de 2014

Ela / 12 Anos de Escravidão


Não ando com muito tempo pra escrever críticas sobre alguns filmes que estou assistindo nos cinemas, mas deixo aqui meus comentários sobre duas produções que estão concorrendo ao Oscar desse ano.

Ela

Dirigido por Spike Jonze, Ela se passa em um futuro próximo, no qual somos apresentados a Theodore (Joaquim Phoenix), um homem solitário que está se divorciando da esposa Catherine (Rooney Mara). Para tentar preencher o vazio que tem em sua vida, Theodore então adquire um sistema operacional de última geração que se dá o nome de Samantha (voz de Scarlett Johansson), sendo que ela mostra ser mais do que um mero computador, demonstrando ter consciência e até mesmo sentimentos. Samantha passa a entender Theodore mais do que ninguém, e os dois iniciam um romance inusitado.

Mas por mais inusitado que seja, é um relacionamento tratado com tanta delicadeza por Jonze que em momento algum estranhamos o que vemos na tela, sendo que os sentimentos entre os personagens surgem naturalmente, mesmo que à primeira vista eles não pareçam reais. E é interessante como ao mesmo tempo o roteiro escrito pelo próprio diretor discute tão bem o amor em si e a relação que as pessoas têm com computadores (aliás, a realidade do filme parece nem estar muito longe de nós considerando que o aplicativo Siri já existe e é usado por várias pessoas). Além disso, Jonze é hábil ao explorar a premissa o máximo que pode, chegando a criar uma espécie de universo paralelo no qual Samantha faz amizade com outros sistemas operacionais. Para completar, o design de produção faz um grande trabalho no visual futurístico do filme, ao passo que a fotografia cria um tom melancólico que combina perfeitamente com os personagens e a história.

Contando ainda com uma atuação maravilhosa e incrivelmente sensível de Joaquim Phoenix como Theodore (uma das melhores de sua carreira) e um trabalho de voz excelente de Scarlett Johansson como Samantha (em um mundo justo, a atriz seria considerada para alguns prêmios), Ela é desde já um dos melhores filmes do ano e um dos grandes destaques entre os indicados ao Oscar, ao lado de Gravidade e O Lobo de Wall Street.

12 Anos de Escravidão

12 Anos de Escravidão conta a história de Solomon Northup (interpretado por Chiwetel Ejiofor), um homem livre que é sequestrado e vendido como escravo. Sob o nome de Platt, Solomon passa por um verdadeiro inferno, principalmente quando chega à fazenda do cruel Edwin Epps (Michael Fassbender), quando passa a lutar para sobreviver até conseguir uma oportunidade para voltar para sua família.

Diferente do estilo que empregou em seus outros trabalhos (os excelentes Fome e Shame), o diretor Steve McQueen aqui conduz a narrativa de maneira um pouco mais comum, mas não menos eficiente. O diretor é inteligente ao não deixar a história cair no melodrama e ainda traz grande peso para as situações pelas quais Solomon passa ao longo do filme, investindo, por exemplo, em planos longos (algo até comum em sua filmografia) em cenas específicas, como quando os escravos são punidos, o que também impõe uma crueza incômoda para as imagens (nesse sentido, é impossível esquecer a sequência no final do segundo ato em que um personagem leva uma série de chicotadas nas costas, no momento mais angustiante da projeção). E tecnicamente o filme também merece louvores, desde o design de produção, que faz uma ótima recriação de época, até a montagem, que intercala a vida atual de Solomon com alguns flashbacks que são inseridos organicamente na história.

Já o elenco se revela um dos pontos altos do filme. O talentoso Chiwetel Ejiofor traz força e determinação para Solomon, em uma atuação que prende a atenção do público do início ao fim. E se a estreante Lupita Nyong’o se revela uma grata surpresa no papel da escrava Patsey, é inegável que quem acaba roubando a cena sempre que aparece é o excepcional Michael Fassbender, que surge absolutamente assustador como Edwin Epps.

12 Anos de Escravidão não chega a ser tão bom quanto os trabalhos anteriores de Steve McQueen, mas é mais um belo filme em sua filmografia e que o mantém como um dos diretores mais interessantes que surgiram nos últimos anos.

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