sábado, 15 de outubro de 2011

Os Três Mosqueteiros

Os Três Mosqueteiros, de Alexandre Dumas père, é uma obra que já recebeu várias versões para o cinema e seus personagens já foram interpretados por vários atores. A última grande aparição de Athos, Porthos, Aramis e D’Artagnan em um filme foi no ótimo O Homem da Máscara de Ferro, em 1998, onde foram brilhantemente interpretados por John Malkovich, Gerard Depardieu, Jeremy Irons e Gabriel Byrne. Agora, os mosqueteiros voltam para a telona pelas mãos do irregular diretor Paul W. S. Anderson, em um filme que não condiz com a grandeza dos personagens.
Escrito por Alek Litvak e Andrew Davis, Os Três Mosqueteiros mostra os personagens em um momento quase depressivo. Depois de serem traídos por Milady de Winter (Milla Jovovich) em uma missão, Athos (Matthew Macfadyen), Porthos (Ray Stevenson) e Aramis (Luke Evans) não fazem mais nada além de beber, lutar contra os guardas de Rochefort (Mads Mikkelsen) e beber mais um pouco. Com a ajuda do jovem D’Artagnan, que sonha ser um deles, os heróis tentam impedir que Milady e o Duque de Buckingham (Orlando Bloom) iniciem uma guerra.
O pequeno prólogo, feito em animação, dá a impressão inicial de que Paul W. S. Anderson desenvolvera uma criatividade surpreendente. Mas é apenas impressão. À medida que os personagens principais aparecem pela primeira vez, o diretor congela a tela para cada um deles e coloca uma legenda com seus nomes, indicando estar com preguiça de deixar eles mesmos mostrarem quem são. Além disso, em certo momento, Anderson parece desconfiar que o público não sabe ler, colocando na tela o nome de um determinado local, Da Vinci’s Vault, para logo depois um dos personagens dizer “Estamos em Da Vinci’s Vault”.
Em termos de desenvolvimento de personagens, não é só Anderson quem mostra preguiça, mas os roteiristas também, que preferem nos apresentar aos personagens apressadamente para partir logo para a ação. Nos primeiros minutos de filme vemos que Athos é o estrategista do grupo e também o que mais sente a traição de Milady. Aramis é o religioso, algo que Anderson ainda ressalta através de um plano de detalhe do terço que ele segura em sua primeira cena. Porthos é o brutamontes, enquanto que D’Artagnan é um jovem arrogante, que pensa que pode derrotar qualquer um em uma batalha.
O mais decepcionante é ver que essa pressa não é bem recompensada, já que as cenas de ação, de modo geral, não empolgam. Em todas elas, Anderson insere momentos em câmera lenta, da mesma forma que Zack Snyder fez em 300. Mas se Snyder conseguiu dar mais impacto em seu filme (ou filmes), Anderson não consegue alcançar absolutamente nada, fazendo do efeito uma grande perda de tempo.
Mas Anderson não erra em tudo. A cena de luta na qual D’Artagnan e os mosqueteiros enfrentam os capangas de Rochefort merece créditos por não se limitar a apenas golpes de espadas e alguns socos, mas também pelo modo como o próprio cenário é usado. É interessante notar em algumas cenas o modo como os personagens posicionam suas espadas, formando um “X” indicando o famoso “versus” dos jogos de video-game, algo que não é nenhum pouco surpreendente considerando a carreira do diretor. A montagem é interessante, contando com belas transições de cena onde Anderson usa o estilo de animação mostrado no prólogo para sair de um lugar para outro. São acertos isolados considerando o filme como um todo, mas ainda assim são acertos.
Além de não conseguir desenvolver bem os personagens, outro grande problema do roteiro de Litvak e Davis é o modo como eles tentam fazer graça. Nesse quesito, eles investem pesado em um personagem: o rei Louis XIII (interpretado por Freddie Cox). Mas os roteiristas conseguem o efeito contrário. Louis é o personagem mais irritante de todo o filme. Tratado pelos roteiristas como uma criança mimada que precisa de alguém até para desenrolar o tapete no qual está caminhando, o rei é alguém que se importa muito mais em andar com as roupas da moda (aparentemente, a moda é qualquer cor que o Duque de Buckingham estiver vestindo) do que com qualquer outra coisa. Os momentos em que ele percebe que está vestindo uma roupa “diferente” a princípio divertem, mas depois se tornam repetitivos e chatos. Freddie Cox ainda exagera nos toques afeminados do personagem, que nada mais é do que uma caricatura na qual o roteiro perde um enorme tempo desenvolvendo (tempo este que poderia ter sido dedicado aos personagens principais).
Quanto ao elenco, não há grandes destaques. Entre os heróis, Logan Lerman (um bom ator, como mostrou em Bill e no fraco Percy Jackson e o Ladrão de Raio) faz de D’Artagnan um jovem determinado, apesar de sua ingenuidade o deixar um pouco marrento. Matthew Macfadyen transforma Athos em alguém muito vazio até na maneira como fala. Ray Stevenson consegue nos passar o orgulho que Porthos sente consigo mesmo. E Luke Perry tem como grande trabalho ficar lendo na maioria das cenas em que aparece, já que seu Aramis pouco tem a dizer. Mas se individualmente, estes atores mostram resultados bem diferentes um do outro, como grupo eles mostram uma boa dinâmica, que não deixa de ser interessante.
Os vilões não chegam a chamar a atenção. Milla Jovovich traz um ar de inocência para Milady de Winter, algo que não combina muito com a personagem, que mostra ser uma femme fatale. Orlando Bloom investe em uma voz sacana para compor o Duque de Buckinham, o que o torna ainda mais desprezível. Mads Mikkelsen e Christoph Waltz pouco tem a fazer com Rochefort e Richelieu. O primeiro mostra ser alguém mal-encarado apenas com sua expressão de malvado e seu tapa-olho, enquanto que o segundo mal aparece em cena.
Quando Os Três Mosqueteiros chega ao fim, fica clara a vontade dos realizadores em fazer uma continuação. Talvez por isso o filme seja tão falho. Paul W. S. Anderson e companhia esqueceram que antes de pensar em sequências, o filme inicial tem de falar por si mesmo. Se estes personagens protagonizarem mais uma franquia, que esta seja do mesmo nível que eles. Do contrário, Alexandre Dumas père irá se revirar em seu túmulo, envergonhado com o que estão fazendo com sua obra.
Cotação:

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