Harlan Thrombey (Christopher
Plummer), um renomado escritor de livros policiais, é encontrado morto no dia seguinte
a sua festa de aniversário. Mesmo que tudo aponte para um suicídio, o FBI
representado pelo detetive Elliott (Lakeith Stanfield) interroga os membros da
família Thrombey para esclarecer as coisas. Isso até o detetive particular
Benoit Blanc (Daniel Craig) entrar em cena, com suas investigações apontando
para um possível homicídio no qual todos passam a ser suspeitos, incluindo a
jovem Marta (Ana de Armas), enfermeira do falecido.
Escrito e dirigido pelo excelente
Rian Johnson (de filmaços como A Ponta de Um Crime, Looper e Star
Wars: Os Últimos Jedi), este Entre Facas e Segredos é uma clássica trama
de “whodunnit” (ou “quem matou?”) no estilo daquelas tornadas tão famosas principalmente
pela grande Agatha Christie. E Johnson a desenvolve com uma precisão admirável,
inserindo gradualmente elementos aparentemente triviais, mas que ganham
importância mais adiante (o velho recurso de “pista e recompensa”). Isso ocorre
com frequência ao longo da projeção, sendo que o diretor merece créditos por
sua sutileza, nunca sentindo necessidade de chamar atenção para o que está
fazendo. E se esses truques já ajudam a manter o espectador instigado quanto ao
desenrolar da história e sua resolução, o cineasta e o montador Bob Duncsay
ainda concebem uma narrativa ágil, que não perde seu ritmo envolvente mesmo
quando o roteiro retorna a determinados pontos da trama a fim de deixar claro todo
o quebra-cabeça de seu mistério.
Mas além de contar uma história
de detetive que segue bem a fórmula do gênero (o que jamais torna o filme
previsível), Rian Johnson usa as peças de seu tabuleiro para fazer comentários
sociais relevantes. Nisso, é interessante ver ele apontar seu dedo para a
ganância infinita da elite, representada pelos Thrombey, mostrando como aquelas
pessoas parecem nunca estar satisfeitas com a riqueza que têm. Além disso,
Johnson também faz questão de mostrar a hipocrisia dessa elite para com os mais
pobres, representados pela figura humilde de Marta, personagem bem tratada por
todos, mas apenas enquanto isso convêm a eles, não sendo à toa que ela seja
estabelecida não só como a protagonista do filme, mas também como a bússola
moral da história.
Marta que, aliás, é vivida com
carisma pela ótima Ana de Armas, uma atriz cujo talento tem ficado evidente
desde seu belo trabalho em Blade Runner 2049. E o destaque que ela consegue
ter aqui é ainda mais notável quando vemos o elenco absolutamente fantástico do
qual ela faz parte. Daniel Craig, por exemplo, faz de Benoit Blanc um detetive
cuja inteligência e atenção aos detalhes fazem jus a Hercule Poirot e Sherlock
Holmes, sendo bom ver que o ator tem cuidado para criar um personagem que tem sua
própria personalidade, desde seus trejeitos até seu modo de falar. Já Christopher
Plummer aproveita suas cenas como Harlan para encher a tela de calor humano, ao
passo que intérpretes como Jamie Lee Curtis, Don Johnson, Michael Shannon, Toni
Collette e Chris Evans encarnam a ambiguidade moral dos outros membros da
família Thrombey com um brilhantismo ímpar.
O que Entre Facas e Segredos
tem de intrigante ele também tem de divertido. E por se tratar de um filme tão
bem construído por seu realizador, é possível que suas qualidades sejam potencializadas
caso o espectador decida assisti-lo novamente.
Agatha Christie ficaria orgulhosa
de Rian Johnson.
Nota:
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