Às vezes analisar uma obra de
arte pode ser engraçado, ainda mais quando se tem em mente a ideia de que não
há um jeito certo de conceber uma. Certos filmes podem partir de um fiapo de
trama e ainda assim funcionar maravilhosamente, conseguindo se sustentar com
uma proposta muito bem executada. John
Wick 3: Parabellum é uma dessas obras.
Tendo início cerca de 40 minutos
depois de onde o segundo filme havia nos deixado, John Wick 3 encontra o personagem-título (interpretado mais uma vez
com segurança e determinação por Keanu Reeves) fugindo de praticamente todos os
membros da organização assassina da qual ele fazia parte. E é assim que podemos
resumir a trama, que então passa a jogar o protagonista em uma série de
sequências de ação que aproveitam ao máximo as habilidades dele e de seus
adversários.
É um verdadeiro deleite
acompanhar cada um desses embates, já que se tem algo que podemos dizer sobre a
trilogia de John Wick é que ela estabeleceu seu diretor, Chad Stahelski (e o parceiro
dele nos longas anteriores, David Leitch, que veio a fazer Atômica e Deadpool 2), como
uma revelação do cinema de ação. Fugindo completamente da escola Michael Bay,
Stahelski conduz as cenas deixando sempre claro para o espectador a mise-en-scène e o que está acontecendo
em cena, apostando frequentemente em planos mais longos que privilegiam as
excepcionais coreografias de seus atores. E cada uma dessas sequências empolga em
maior ou menor grau, impressionando também por sua variedade, utilizando facas,
espadas, cavalos, cães, motos e o que quer que esteja ao alcance dos
personagens. Além, claro, das costumeiras armas, que rendem confrontos de gun fu (uma mescla de arte marcial e
armas) que certamente deixariam John Woo orgulhoso.
Tudo isso é ancorado em um
universo rico em seus mínimos detalhes. Se John
Wick 2 já havia tratado de expandir o submundo dos assassinos, divertindo
com suas regras e as fachadas que mantêm ele funcionando entre os civis, este
terceiro capítulo não faz diferente, apresentando novas hierarquias e sabendo
até mesmo explorar o próprio respeito que os assassinos têm
uns pelos outros, especialmente pelo protagonista. E o próprio design de
produção merece destaque em meio a isso, dando vida a lugares que estabelecem
rapidamente a grandeza e a sofisticação daquele universo, como o teatro regido
pela Diretora (vivida por Angelica Huston), além do conhecido Hotel Continental
dos longas anteriores, que volta a ser plano de fundo para parte da ação
através de novos cenários, merecendo destaque especial a sala de espelhos do terceiro
ato.
É seguro dizer que, assim, John Wick 3 surge não como um dos
grandes filmes de ação do ano, mas sim como um dos grandes filmes do ano. E
honestamente, eu não me importaria de ver mais exemplares da série.
Um comentário:
Vou assistir com certeza!
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