Ao assistir Uma Noite de Crime e sua continuação, Uma Noite de Crime: Anarquia, algo que fica muito claro é que o
diretor-roteirista James DeMonaco bolou uma premissa interessante, que abre possibilidades
para explorar a natureza autodestrutiva do ser humano e como esse aspecto poderia
dar as caras caso não precisássemos seguir leis, resultando em críticas sociais
por vezes surpreendentes. Mas mesmo que não sejam produções desastrosas, ao
final daqueles filmes fica a impressão de que eles não são tão bons quanto suas
ideias. Isso é algo que se mantém neste terceiro exemplar, 12 Horas Para Sobreviver: O Ano da Eleição (suponho que a série não
esteja fazendo muito sucesso no Brasil e a distribuidora agora decidiu trocar o
título para vender este novo capítulo como uma novidade por aqui).
Como o subtítulo do filme aponta,
a trama dessa vez se passa em época de eleições presidenciais nos Estados
Unidos. A senadora progressista Charlie Roan (Elizabeth Mitchell) sobe cada vez
mais nas pesquisas, tendo como principal meta acabar com a noite anual de
Purgação, que permite as pessoas a cometerem qualquer tipo de crime por doze
horas sem sofrerem qualquer tipo de consequência. Não gostando nenhum pouco da
possibilidade de terem sua liberdade sanguinária cortada e se sentindo
ameaçados nas urnas, os adversários políticos de Charlie decidem eliminá-la
antes das eleições, aproveitando para isso a noite que ela busca extinguir. Solta
em meio à violência da Purgação, a senadora tem apenas seu chefe de segurança
Leo Barnes (Frank Grillo, reprisando seu papel do segundo filme) para ajuda-la
a sobreviver. Enquanto isso, Joe Dixon (Mykelti Williamson) tenta proteger seu pequeno
mercado com a ajuda de seu funcionário Marcos (Joseph Julian Soria), e não
demora até a história deles se encontrar com a de Charlie.
A trama basicamente repete boa
parte das direções tomadas nos filmes anteriores, colocando pessoas que não
querem participar da Purgação sendo pegas no fogo cruzado e fazendo o possível
para sobreviver à noite. Até mesmo questões morais levantadas aqui pelo roteiro
lembram o que já vimos antes, com personagens pensando sobre os atos de
violência que cometem (ou querem cometer) e como estes não os tornam diferentes
dos bandidos que os fizeram sofrer. Sendo assim, em termos criativos, é
inevitável sentir que a história é mais do mesmo no que diz respeito à fórmula que
a série vem construindo para si mesma. De qualquer forma, não deixa de ser curioso
ver como o roteiro mostra a facilidade que algumas pessoas têm para usarem a violência
e o ódio para se livrarem de colegas de espécie que, para elas, representam um
problema para o mundo onde vivem.
Enquanto desenvolve essas
questões, James DeMonaco se esforça para criar um thriller minimamente envolvente,
e mesmo que em determinados momentos ele aposte em dar sustos baratos no
público, com ameaças surgindo repentinamente na frente dos personagens, o
realizador consegue criar eficientes momentos de tensão, merecendo destaque cenas
como aquela em que o mercado de Joe corre risco de ser invadido e a outra que
se passa em uma igreja. Aliás, se cenas como essas funcionam, isso se deve
principalmente porque o roteiro e o elenco conseguem fazer com que nos
importemos com os personagens. Elizabeth Mitchell, em especial, chama atenção
ao fazer de Charlie Roan a bússola moral do projeto, sendo a única que não
comete atos de violência ao longo da história (e não é à toa que ela aparece vestida
de branco na maior parte do tempo, o que deixa clara sua natureza pacifista).
Pontualmente inserindo frases de
efeitos bobas (“Pequeña Muerte está de volta, vadias”) e exagerando muito nas
caricaturas que desenvolve (os religiosos do terceiro ato mais causam risos do
que assustam), 12 Horas Para Sobreviver
é um filme que tem alguns bons pontos que validam os esforços de James DeMonaco,
ainda que no fim o resultado não chegue a ser particularmente marcante.
Nota:
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