A história de sobrevivência do
caçador Hugh Glass não é exatamente uma novidade nos cinemas, tendo servido
como inspiração para a trama de Fúria
Selvagem, faroeste lançado em 1971 e estrelado por Richard Harris e John
Huston. Mas mais de 40 anos depois, o cineasta mexicano Alejandro González Iñárritu
parte dessa mesma história para conceber O
Regresso, seu novo filme e que chega logo depois do sucesso do excepcional Birdman, revelando-se mais um esforço admirável
por parte do cineasta.
Baseado no livro de Michael
Punke, o roteiro escrito pelo próprio Iñarritu em parceria com Mark L. Smith
tem início em meio à expedição liderada pelo Capitão Andrew Henry (Domhnall
Gleeson), cujo grupo de caçadores recolhe as peles dos animais nas florestas da
Louisiana. Hugh Glass (Leonardo DiCaprio) é um de seus principais homens, tendo
a companhia do filho Hawk (Forrest Goodluck), que por ter sangue nativo desperta
a desconfiança de John Fitzgerald (Tom Hardy). Quando todos dão início a uma
forçada volta para casa após um ataque dos índios Arikara, que arrasam a
maioria do grupo, Glass é severamente ferido em um embate com um urso e, por
representar um peso quase morto, é deixado para trás pelo jovem Bridger (Will
Poulter) e por Fitzgerald, tendo que retornar sofridamente sozinho.
Iñárritu não demora a demonstrar
um apreço especial pelos cenários onde situa toda a história, e o excepcional
diretor de fotografia Emmanuel Lubezki (na segunda colaboração seguida entre
eles) acaba sendo o auxílio ideal para capturar a beleza natural dos lugares. Ao
longo de O Regresso, somos colocados
diante de planos gerais de montanhas gélidas, cachoeiras, florestas e até do
céu estrelado, além de planos-detalhe de orvalhos e formigas subindo umas nas
outras. Ainda que isso sature um pouco a partir de certo ponto, Iñarritu é
hábil para usar esses momentos para criar um contraste curioso, mostrando que por
mais bela e calma que a natureza possa ser, nada a impede de representar um
verdadeiro perigo aos personagens, principalmente no que diz respeito ao
protagonista e sua condição de imensa vulnerabilidade.
Tais aspectos contribuem para que
o diretor crie uma narrativa que, apesar do ritmo por vezes mais cadenciado,
resguarda uma inquietude constante, detalhe que chega ao ápice durante as
ótimas sequências de batalhas. Aqui, Iñárritu retoma um pouco a técnica de Birdman ao fazer planos longos
elegantes e que provam seu talento para manter clara a organização espacial das
cenas, sendo que dessa maneira ele consegue não só dar um maior realismo ao que
está acontecendo, mas também inserir o espectador eficientemente na tensão. Mas
o maior destaque nesse sentido é a agonizante cena entre Hugh Glass e o urso, que
é realizada convincentemente mesmo utilizando um animal digital (não foi
surpresa constatar que um dos responsáveis pelos efeitos visuais do filme
trabalhou em As Aventuras de Pi).
Aliás, a cena serve até para sintetizar o longa considerando as motivações por
trás dela e uma luta vista no clímax, com ambas formando uma rima entre si, e é
perfeito que Glass apareça vestindo uma pele de urso durante boa parte do tempo.
Enquanto isso, Leonardo DiCaprio
se vê na pele de um personagem que não recorre tanto a diálogos para se
expressar. Seu Hugh Glass passa a maior parte do tempo encarando e se
recuperando de dores tanto físicas (sua respiração chega a ser angustiante em
determinados momentos) quanto emocionais, exibindo grande persistência em se
manter vivo, não importando o quão desgastado esteja, aspectos que o ator
encarna com talento inegável (sua provável premiação este ano servirá para finalmente
coroar o brilhantismo e a consistência marcantes em sua carreira). Já o excelente
Tom Hardy faz de John Fitzgerald um vilão forte, cuja maior arma é a própria
covardia, interpretando-o com a mesma intensidade que tem mostrado em boa parte
de seus papeis. E se o jovem Will Poulter mostra uma expressividade
surpreendente como Bridger, Domhnall Gleeson se destacada pela firmeza que traz
ao justo Capitão Henry, aproveitando bem suas cenas ainda que aparecendo mais
esporadicamente.
Seja ao focar nos conflitos entre
homem e natureza ou entre o primeiro e seus semelhantes, Alejandro González
Iñárritu consegue fazer a grande história de O Regresso impressionar muito além da beleza que a permeia. Um
filme que representa uma jornada tecnicamente irrepreensível e narrativamente visceral.
Nota:
Um comentário:
Muito bom dear!!!!Adorei o filme e a cena do urso foi incrivelmente bem feita.Uma agonia só.Bjo.
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