Érico Veríssimo fez em “O Tempo e o Vento” uma das principais obras da literatura brasileira, e ela viria a ganhar vida na TV algumas vezes, tendo feito fama na década de 1980 na minissérie estrelada por Glória Pires e Tarcísio Meira. Mas não é surpresa nenhuma ver o livro de Veríssimo ser adaptado novamente em outra mídia, sendo dessa vez o Cinema. O problema disso é que quem ficou responsável pelo projeto é Jayme Monjardim, o mesmo diretor que realizou a grande bomba que foi
Olga. E o resultado deste
O Tempo e o Vento é o esperado do diretor: um filme de escala épica, mas que se revela muito mal desenvolvido.
Escrito por Letícia Wierzchowski, Marcelo Ruas e Tabajara Ruas,
O Tempo e o Vento acompanha a família Terra-Cambará, desde o amor proibido do índio Pedro Missioneiro (Martin Rodriguez) por Ana Terra (Cléo Pires), até o final do século XIX, quando seus atuais membros se encontram em guerra com a família Amaral, na Revolução Federalista. Nisso, vemos Bibiana Terra-Cambará (Fernanda Montenegro) relembrar toda a história da família ao lado do espírito de seu falecido marido, Capitão Rodrigo Cambará (Thiago Lacerda), que vem visitá-la.
Os problemas de
O Tempo e o Vento já começam pela estrutura episódica de sua narrativa. Praticamente dividindo a história em segmentos (que são separados por
fades de maneira muito pedestre), o roteiro simplesmente não consegue ligar os pontos do filme adequadamente. Em um momento, por exemplo, vemos Rodrigo feliz com a vida que está levando, apenas para na cena seguinte ele estar de mau humor, sem que o motivo para isso fique claro. Dessa forma, a história em si é tratada tão superficialmente por Jayme Monjardim que mal conseguimos nos envolver com ela.
Além disso, é impressionante o quão rasamente os personagens são desenvolvidos, de modo que nem temos como criar uma ligação com eles a ponto de nos importarmos com seus destinos, um ponto que nem mesmo o elenco chega a salvar. Cléo Pires como Ana Terra tem uma atuação nenhum pouco convincente, sendo que a cena na qual ela se assusta ao encontrar Pedro é constrangedora de se ver. E se Marjorie Estiano pouco tem a fazer com a versão jovem de Bibiana, tendo até pouquíssimas falas, Fernanda Montenegro parece surgir como a versão mais velha da personagem apenas para dizer para o espectador o que está acontecendo em cena, tendo uma narração em off que não poderia ser mais expositiva. Em meio a isso, Thiago Lacerda merece créditos por fazer do Capitão Rodrigo uma figura carismática e alto-astral, ainda que seu sotaque gaúcho seja muito forçado.
Enquanto isso, a direção de Jayme Monjardim se revela muito falha não só pela linguagem demasiadamente televisiva que ele usa ao longo da narrativa, mas também pelo jeito burocrático como ele comanda certas cenas, principalmente as batalhas que ocorrem ocasionalmente. E algumas partes da história ainda são tratadas de um jeito simplista demais tanto pelo diretor quanto pelo roteiro, algo que fica claro quando ficamos sabendo através da narração em off de Bibiana que determinado personagem morreu, o que não causa impacto algum. No entanto, vale dizer que a recriação de época do filme é bem realizada, assim como a fotografia de Affonso Beato. Esses elementos contribuem para fazer com que
O Tempo e o Vento ao menos aparente ser um épico (uma pena que eles não compensem todos os outros problemas que surgem ao longo da projeção).
O Tempo e o Vento precisaria de pelo menos uns 30 ou 40 minutos a mais para que seus personagens e sua história pudessem ser um pouco melhor desenvolvidos. Talvez na versão minissérie que será exibida em breve na TV alguns desses problemas não apareçam, o que só faz o lançamento dessa versão problemática para cinema ser desnecessário.
Cotação:
4 comentários:
A maioria destes diretores globais que tem experiência apenas na tv, principalmente em novelas, seguem o mesmo estilo nas produções para o cinema.
Eles acreditam que uma boa produção e um elenco de astros de tv é o principal, resultando quase sempre em filmes rasos.
Abraço
Bom, vou ver de qualquer jeito, mas sem esperar muito. Outra coisa: não é O Tempo e o vento completo, é apenas O Continente, a primeira parte.
Alan
Os livros do Érico Veríssimo são de uma beleza única, principalmente a primeira parte "O Continente".
É uma pena que não conseguiram fazer algo digno, mas como você apontou, isso já era esperado pela presença do Jayme Monjardim.
Abraços!
Hugo, infelizmente é isso mesmo o que acontece, o que é lamentável.
Verdade, Alan. Esqueci de mencionar isso na crítica. Obrigado pelo toque.
É uma pena mesmo, Bruno. Mas como eu disse, talvez na versão minissérie esses problemas não apareçam (ou pelo menos surjam menos agravantes).
Abraço a todos
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