quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Elena

(Obs.: Como vocês poderão notar, a crítica de Elena saiu um pouco diferente de qualquer outra que escrevi. Redigi-la em forma de carta para a diretora Petra Costa foi a única maneira que encontrei para que minhas ideias fluíssem melhor e se encaixassem em um texto)
Cara Petra,
Recentemente fui ao cinema e assisti ao seu documentário, Elena. Quase me atrasei para a sessão, mas felizmente cheguei a tempo. Horas depois dos 80 minutos de duração do filme eu ainda me encontrava refletindo sobre o que havia acabado de assistir. Para falar a verdade, continuo refletindo enquanto escrevo estas palavras. Isso porque ele trata de um assunto que não poderia ser mais pessoal, e certamente deve ter exigido muita coragem de sua parte na hora de realizá-lo. Afinal, acredito que não tenha sido fácil revisitar seu doloroso passado, em especial o ano de 1990, época do suicídio de sua grande irmã que dá titulo ao filme. E por mais pessoal que o filme seja, é incrível como você consegue deixar o espectador envolvido ao longo de toda a narrativa.
Descrevi Elena como uma “grande irmã” porque algo que fica evidente no filme é o amor incondicional que envolvia vocês duas, algo que pode ser visto não só em sua narração em off, mas também nas várias imagens de arquivo que você utiliza para compor a narrativa e que são inseridas no filme sempre organicamente (dê meus parabéns às montadoras Marilia Moraes e Tina Baez pelo ótimo trabalho). Por todo o carinho que demonstravam ter uma pela outra, é lamentável você tenha vivido apenas sete anos com sua irmã, não tendo muita chance de crescer com ela ao seu lado, comemorando aniversários e compartilhando experiências e segredos.
Aliás, já que mencionei sua narração em off, devo dizer que ela deixa clara a admiração que você tinha por Elena, além de ser muito interessante ver que são incluídas no filme palavras que gostaria de ter falado para ela, mas não pôde. O documentário acaba sendo uma maneira brilhante que você encontrou para de certa forma enviar uma carta para Elena, ao mesmo tempo em que refaz os passos dela pelas ruas de Nova York, chegando ao ponto de conversar com pessoas que a conheceram e conviveram com ela, como por exemplo, o namorado dela, em quem Elena claramente deixou marcas, que podem ser vistas na emoção que ele sente ao falar sobre ela e os momentos difíceis que ele presenciou. Acompanhá-la nessa jornada é tocante por este ser um jeito de você ter algum contato com Elena novamente. Dessa forma, acho que qualquer pessoa que perdeu alguém muito querido pode se identificar com o que você faz aqui. E ver você girar no meio de uma rua nova-iorquina da mesma maneira que sua irmã fazia em um espetáculo que estrelou é uma cena muito marcante.
Nas imagens de arquivo, vemos que Elena era uma jovem linda e sonhadora, mesmo quando o Brasil vivia os tempos difíceis da Ditadura Militar. Ela queria ser atriz, e tentou sem sucesso realizar esse sonho ao ir para os Estados Unidos. Até por isso sua história se revela tão arrebatadora, já que ela tirou a própria vida sem ter tido uma chance de mostrar seus talentos e cumprir seus objetivos. Em determinado momento, você lê uma carta na qual Elena diz ter se encontrado com Francis Ford Coppola e conversado sobre um possível papel em O Poderoso Chefão 3. Infelizmente, isso parece ter ficado apenas na conversa, mas fico pensando se ela não teria sido uma Mary Corleone melhor que a filha do diretor, Sofia.
Depois de ver Elena, fui atrás de Olhos de Ressaca, o curta-metragem que você fez em 2009. Se lá você já demonstrava talento (além de um interesse particular por narrativas que envolvam memórias), então Elena a confirma como um nome que merece atenção. Acho que posso dizer com segurança que este é um dos melhores filmes do ano, e agradeço por compartilhar essa história comigo e várias outras pessoas.
Espero curioso pelo seu próximo trabalho.
Cotação:

2 comentários:

Petra Costa disse...

Que linda carta. Muitas gotas de gratidão,
Petra

Thomás R. Boeira disse...

Fico muito feliz que tenha gostado, Petra.
Foi um texto escrito com coração.

Thomás